Marcelo Rebelo de Sousa deu umas aulas de história do PSD esta semana, em Lisboa. Dos resumos publicados hoje no Expresso (p. 8) e Diário de Notícias (p. 2-3) escolho, do primeiro: “Mais do que a análise da situação política, valeu a viagem ao passado”.
Mesmo nesta “viagem ao passado” discordo do ponto 9. no Expresso. “Os que tiveram tempo para se preparar foram os que marcaram o partido – Sá Carneiro e Cavaco Silva”. Esta afirmação não tem sentido. Quanto tempo teve Sá Carneiro para se preparar para lidar com o turbilhão do 25 de Abril? Quanto tempo teve Cavaco Silva para se preparar entre a eleição como líder do partido em Maio de 1985 e ganhar as eleições em Outubro desse mesmo ano? Já Durão Barroso, com uma tão precoce intervenção política e ascensão meteórica, pode dizer-se que teve 20 anos para se preparar para líder. Foi o que se viu. Não me parece que “tempo” seja aqui a palavra-chave. “Por isso o professor defende que o PSD não se deve precipitar e deve dar tempo a Menezes.” Como não concordo com a análise só posso discordar com o corolário. Aliás, esta tentativa de comparar aqueles líderes históricos com Menezes é do domínio do delírio.
Mais à frente: “Quando o PSD sobrepõe a visão de partido de militantes à de partido de eleitores, os militantes podem ficar muito felizes, mas o PSD perde o país” E ainda o partido é “agradecido aos dirigentes que mimam as bases, como Nogueira, Mendes ou Menezes”. Aqui há um indício de contradição de Marcelo. Mas não a vou cavalgar.
No Diário de Notícias (p. 3) Marcelo dá um argumento em si frouxo para defender Menezes: “não há tempo”. Reparem bem que a ideia não é que o PSD deve apoiar Menezes porque ele é um bom candidato, mas simplesmente porque “não há tempo” para o substituir por um candidato melhor.
Mas o próprio argumento do “não há tempo” é ridículo. Sócrates foi eleito líder do PS em Setembro de 2004 e ganhou as eleições de Fevereiro de 2005, apenas cinco meses depois. E não só ganhou as eleições com maioria absoluta como se tem conseguido manter com elevados níveis de popularidade, apesar da agenda “reformadora” pesada.
Aliás, Menezes continua na sua campanha diária: “Eu quero que vocês fiquem certos que eu não sirvo mesmo para líder do PSD”. No Expresso de hoje, p. 4, em relação à polémica das quotas: “A direcção social-democrata considera que esse dossiê está resolvido, sobretudo depois de Menezes ter anunciado que no próximo congresso tenciona matar a polémica, acabando com o pagamento obrigatório de quotas.” Leram bem “matar a polémica”? Já pararam de rir?
sexta-feira, 21 de março de 2008
Professor erra
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