quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O PEC e a rua

O meu artigo deste mês no Jornal de Negócios, sobre a necessidade de a “rua” não protestar de forma demasiado ruidosa contra as medidas do PEC, sob pena de virmos a pagar custos muito mais elevados pela consolidação orçamental.

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=411669

Curiosamente, à conta deste artigo fui convidado para participar no programa "Janela Aberta" do Rádio Clube, esta tarde, no espaço "Licença para Pensar" com Aurélio Gomes.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Serviço Público

A Fundação Francisco Manuel dos Santos acaba de tornar público o seu primeiro projecto, a Pordata, uma base de dados sobre Portugal contemporâneo:

http://www.pordata.pt/azap_runtime/

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Oração pela Madeira

A Madeira passa nestas horas por momentos de grande dor e sofrimento, com dezenas de mortos já confirmados e centenas de desaparecidos que fazem temer que o número de vítimas oficiais venha a aumentar.

Para todas as vítimas de danos, pessoais e materiais, envio uma oração de solidariedade, que a Luz do Senhor vos ilumine e vos ajude a lidar com estes tempos difíceis que estão a viver.

"Invocamos a Tua Intervenção Divina para transmutar toda a dor, sofrimento e outras coisas negativas em ESPERANÇA, AMOR, MILAGRES e BENÇÃOS para todas as pessoas da MADEIRA.

Que se Manifeste agora! Que se Manifeste agora! Que se Manifeste agora!

Agradecemos a Tua imediata assistência e intervenção em nome das pessoas da MADEIRA na sua grande necessidade.

Damos as Graças! Damos as Graças! Damos as Graças!

Ámen."

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Anedotário político

Segundo a capa do Público de hoje, Sócrates afirmou: “O país precisa da voz do PS para lutar pela decência na vida política e pela elevação do Estado de direito”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

“Não me comprometa”

Este é o resumo da entrevista de hoje de Aguiar Branco ao Público.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Onde está a consciência moral do PS?

Num cocktail com todos os ingredientes de crise, eis que dirigentes do PS querem trazer o PR para o centro do furacão. Isto parece uma birra do tipo “se nós cairmos, o PR cai connosco”.

Eu quero acreditar que no PS ainda não está tudo de cabeça perdida e ainda há quem possa ser a consciência moral do partido e que perceba que estamos a descer demasiado baixo em todos os sentidos. A capacidade de regeneração de um partido é um dos seus mais importantes sinais de vitalidade e credibilidade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ajuda da Alemanha?

Há para aí umas ideias de que os problemas portugueses na verdade não são nossos e nós apenas somos as vítimas de más políticas alemãs (excessivo superavit externo) que, por isso mesmo, deveriam ser corrigidas.

Estas ideias contêm um duplo problema: uma má postura cívica e vários erros técnicos. Um país não reconhecer os seus próprios erros e andar à procura de um bode expiatório no exterior é o oposto da saúde mental. Um país saudável assume a responsabilidade pelos seus próprios erros e, se precisa de ajuda, pede-a com humildade e agradecido quando a recebe e não com a atitude de um subsidio-dependente que exige, que tem o “direito” que os outros lhe resolvam os problemas e que tem medo que a palavra “obrigado” lhe queime os lábios.

Como Vítor Bento já explicou, se a Alemanha estimulasse a sua procura interna isso iria aumentar a procura do conjunto do mundo e não apenas na zona do euro. Portugal seria dos países mais mal colocados para beneficiar desse aumento de procura devido ao nosso gravíssimo problema de falta de competitividade.

Mas falta fazer outra pergunta: o que pode a Alemanha fazer para reduzir o seu superavit externo? Em 2007 e 2008 o superavit externo andou em roda dos 7% do PIB, enquanto as contas públicas estiveram grosso modo equilibradas, embora existisse um défice estrutural moderado (pouco mais de 1% do PIB). A dívida externa estava no 65% do PIB, acima do valor de referência. Ou seja, antes da crise a Alemanha não tinha margem orçamental que permitisse reduzir o superavit externo. Este é resultado do “excesso” de poupança dos alemães e não de qualquer “excesso” de poupança do Estado, pelo que não há grande margem para o combater.

Depois da crise o superavit externo alemão reduziu-se um pouco (deverá andar na casa dos 4% do PIB nos próximos tempos), mas o défice público subiu muito, eliminando por completo quaisquer veleidades que pudesse haver.

Em resumo, mesmo que a Alemanha desejasse reduzir o seu superavit comercial, não tem neste momento instrumentos para o fazer.

Constâncio deve ser melhor no BCE

Constâncio tem uma excelente reputação como técnico, mas ignorou o nosso défice externo que nos está a perseguir, o que constitui um grave erro técnico. Foi laxista na supervisão e incapaz de afirmar a independência do Banco de Portugal face ao poder político.

Mas, ironicamente, é bem capaz de fazer um melhor lugar no BCE do que fez no Banco de Portugal. As suas capacidades técnicas aliadas à lição que aprendeu por não ter prestado a devida atenção à supervisão deverão ajudá-lo muito. A sua falta de independência em relação ao governo português passará a ser um não problema no BCE. Mas, acima de tudo, no Banco de Portugal Constâncio estava na sua “zona de conforto” e no BCE vai ser forçado a dar o litro. Será provavelmente mais um caso de um português que só lá fora é que pode dar o seu melhor. Ou é chamado a dar o seu melhor.

Para o substituir no Banco de Portugal o meu “voto” vai para Vítor Bento, que alia uma sólida competência a uma forte independência.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mais carpintaria financeira

O Público tem hoje uma longa secção (p. 2-5) dedicada à Parque Escolar, que parece resultar de pressão dos arquitectos sobre os problemas que eles enfrentam nestes concursos públicos ou na sua falta.

Mas o mais grave é ignorado: a Parque Escolar, EPE, é uma empresa cujo único objectivo é maquilhar as contas públicas, esconder endividamento e despesa pública. Parece que o investimento poderá chegar aos 3,5 mil milhões de euros, mais do que o custo de construção do novo aeroporto de Lisboa. Não estamos a falar de tremoços…

As receitas desta empresa serão transferências do Estado, pelo que o objectivo claro é retirar tudo isto do perímetro orçamental. Tente-se obter mais detalhes no site da empresa e a única coisa de jeito é um “Relatório de Sustentabilidade, 2008” com magríssima informação financeira. Tudo transparente, portanto.

Parece que o objectivo foi "criar uma entidade pública especializada, que através de um modelo de gestão empresarial permita garantir princípios de gestão mais racional e eficiente". Isto é o melhor, como as regras da administração pública não permitem um gestão “racional” e “eficiente”, o que se faz? Mudam-se as regras? De maneira nenhuma, cria-se mais uma empresa pública mal fiscalizada.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Banco de Portugal tem que agir

Segundo o Público de hoje, os “bancos cotados já perderam 19 por cento com crise grega”.

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1422718

Nada de muito surpreendente, tendo em atenção a análise que eu já tinha feito aqui.

O que me parece péssimo é que “O sector já avisou que quer aumentar a fatia dos lucros a distribuir pelos seus accionistas. As estimativas apontam para que entreguem este ano quase dois terços dos resultados obtidos em 2009.”

Isto é exactamente o oposto do que eu recomendei aqui. O Banco de Portugal deveria intervir no sentido de impedir os bancos de seguirem esse caminho, em vez de se capitalizarem mais, para resistirem à tempestade que se avizinha.

Demissão de Sócrates

Alguma gente no PS parece estar muito equivocada. Capoulas Santos incita a oposição a apresentar uma moção de censura. Se uma moção destas for aprovada e levar à queda do governo isso não conduzirá a eleições antecipadas, até porque neste momento não podem ser convocadas. Teríamos um outro governo do PS. O país agradeceria (e muita gente no PS também) que Sócrates saísse do governo e que passássemos a ter um PM mais decente, em vários aspectos.

Mas se o PS quiser fazer braço de ferro e não quiser apresentar um PM socialista alternativo a Sócrates, então será o PS a ser o único responsável pela convocação de eleições antecipadas e pagará o preço político por isso.

A oposição, depois de ver o seu poder de deitar abaixo um primeiro-ministro do PS, talvez não se queira ficar por aí e, pelo menos, ameaçará o próximo PM de ter um fim parecido com o de Sócrates.

É evidente que a este cenário político temos que somar o cenário económico. É legítimo esperar que o PEC a apresentar proximamente seja mais uma decepção, quer no lirismo do cenário macroeconómico, quer pela ausência de medidas concretas de consolidação orçamental. Os mercados não perdoarão e farão de novo pressão sobre o cenário político. Teme-se o pior, até pela falta de racionalidade que se tem visto por todos os lados.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Nada corre bem

Depois de dois trimestres a crescer 0,6%, eis que no 4º trimestre a economia portuguesa estagna (0% em termos trimestrais). É certo que na zona do euro o sentido da evolução é semelhante, embora a desaceleração seja muito mais suave (de 0,4% para 0,1%).

Os adeptos do copo meio cheio podem dar-se felizes pelo facto de em termos homólogos estarmos melhor que a Europa, mas temo que estes dados sejam o prenúncio do que se espera: tal como Portugal não sofreu tanto com a crise como a Europa, também não vai beneficiar tanto como esta da recuperação. O nosso grave problema de falta de competitividade será o travão que impedirá este efeito.

Mas nós temos dois outros problemas domésticos que ameaçam a recuperação. Por um lado, desde finais do ano passado que a confiança de consumidores e empresários interrompeu a trajectória de recuperação e deverá constituir um obstáculo. Poder-se-á discutir a razão desta evolução da confiança, mas julgo que ela resulta da grande confusão política, inicialmente devido a uma dramatização encenada pelo governo e agora devido a problemas bem reais de credibilidade do PM.

Por outro lado, a muito recente e forte subida dos spreads ainda não começou a surtir os seus efeitos, mas não tarda que eles se manifestem. Os bancos vão ver a sua rentabilidade ameaçada e serão forçados, quer a subir as taxas de juro às empresas, quer a apertar as condições de concessão de empréstimo às empresas.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ajuda por interesse

Embora ainda não haja decisões concretas, a Alemanha prepara-se para ajudar a Grécia, movida por interesse próprio. É evidente que é mais bonito quando a ajuda é desinteressada, mas uma ajuda por interesse é mais provável que seja maior e mais eficaz. Uma pequena ajuda à Grécia serviria de pouco.

Germany is worried that any flight out of Greek assets, especially government bonds, could hit its banks and those in other eurozone countries.

http://www.ft.com/cms/s/0/83de2cae-15a9-11df-ad7e-00144feab49a.html?nclick_check=1

Mas se a ajuda é do interesse da Alemanha, também é do interesse deste país que a ajuda seja claramente condicional. Poderá haver um excesso “especulativo” nas dificuldades da Grécia, mas é evidente que há problemas objectivos – de vária ordem – quer nas contas públicas quer nas contas externas helénicas. Por isso, é óbvio que a Alemanha terá que exigir que os problemas objectivos sejam atacados e as condições devem ser suficientemente duras para não se tornar apetecível para mais nenhum país deixar as coisas degradarem-se até ficar em condições de ser ajudado pelos germânicos.

Acham-nos parvos

Depois de uma subida eleitoralista de quase 5% dos salários reais no ano passado, os sindicatos querem agora mais aumentos extraordinários. Em que país viverão estes sindicatos que ainda não ouviram falar da crise das finanças públicas?

Não por acaso, os sindicalistas só são ultrapassados pelos políticos na má imagem que têm na população, como indicam sustentadamente os estudos de opinião.

Tal como Sócrates, estes sindicatos devem imaginar que os portugueses são parvos. Como se nós não percebecemos o disparate e a injustiça totais das suas reivindicações.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Machadada final

Circulam rumores de que Manuel Pinho poderá ser o novo governador do Banco de Portugal. Se assim for, essa será a machadada final na credibilidade do nosso banco central. Não só ele não tem competência técnica para o lugar, como seria governamentalizar de vez essa desgraçada instituição, que tanto tem sofrido às mãos de Constâncio.

http://www.ionline.pt/conteudo/45870-ja-chovem-nomes-suceder-constancio-no-banco-portugal

Espero que quer os antigos governadores se expressem contra esta degradação, quer o BCE.

Todos pela liberdade


Substituição

Em tempos normais já deveria haver socialistas sedentos de poder a posicionarem-se para ajudar à demissão de Sócrates, na mira de serem convidados para PM. Infelizmente, a tempestade que se avizinha não é muito convidativa para desejar substituir Sócrates. Até porque se imagina que a queda de Sócrates deverá levar a uma vassourada generalizada da corrupção.

Se, como eu desejo e julgo que se justifica, Sócrates acabe na prisão, muita coisa vai mudar neste país. A prisão de Sócrates irá fazer muito mais por este país do que mil leis anti-corrupção.

Milhares de pessoas estão hoje amordaçadas e poderão finalmente denunciar a corrupção a que assistem diariamente. Os próprios corruptos vão sentir que a sua impunidade acabou.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Uma dúvida

Se ontem nenhuma agência de rating se pronunciou, porque é que assistimos à maior subida do spread da dívida pública? Mas afinal os nossos problemas não decorrem exclusivamente de afirmações falsas e completamente interesseiras das agências de rating? Estou perplexo…

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Gato escondido…

Ainda há pouco tempo sugeri que o Banco de Portugal revelasse quais os bancos que se tinham revelado mais frágeis nos testes de stress realizados em parceria com o FMI. Recomendei então que esses bancos deveriam ser obrigados a realizar aumentos de capital. Pois não foi preciso esperar muito até ver uma recomendação mais clara:

“JPMorgan: BCP pode ter de aumentar capital”

http://economico.sapo.pt/noticias/jpmorgan-bcp-pode-ter-de-aumentar-capital_80613.html

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fraca elite

Ricardo Salgado não está em boa maré. Há pouco tempo elogiava os grandes projectos públicos, provavelmente na expectativa de ganhar algumas comissões de financiamento, mas ignorando as consequências de médio prazo do nosso endividamento externo sobre a solvabilidade da nossa banca.

Agora vem gritar contra as agências de rating, um exercício inexplicável.

“A pior das considerações que foi feita sobre a economia portuguesa foi a de que Portugal é um país que pode estar num processo de morte lenta. É inqualificável”, insurge-se Ricardo Salgado.

O número um do BES admite, porém, que as agências de “rating” tiram estas conclusões porque “nem o Estado, nem os grupos portugueses conseguiram expressar a essas agências que Portugal é viável e que pode voltar a crescer mais depressa. É um problema de estratégia”.

Mas há um erro que não lhes perdoa: “Confundem as realidades dos países”. “Portugal e a Grécia estão em dois extremos da Europa e as afinidades que existem entre as duas economias são nulas. Porque raio é que eles [as agências de ‘rating'] dizem que a Grécia e Portugal são a mesmo coisa, porque é que consideram que as nossas economias estão interligadas ao ponto de nos quererem explicar que o problema grego é idêntico ao português? E não é”, protesta.

O risco de Portugal estar a caminhar para uma “morte lenta” tem sido, porém, referido há longa data por economistas portugueses: Hernâni [sic] Lopes diz que o país está a “definhar” e Vítor Bento que Portugal se deixou cair há uma década na “armadilha do empobrecimento relativo”.

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=407593

O próprio artigo do Jornal de Negócios já explica que a ideia de “morte lenta” já cá estava há muito tempo, só a metáfora é que é novidade.

Mas dizer “Portugal e a Grécia estão em dois extremos da Europa e as afinidades que existem entre as duas economias são nulas.” é chocante. O que é que a distância geográfica tem a ver com ter ou não afinidades nos problemas estruturais? Temos afinidades nos problemas, mas as agências de rating também não dizem que Grécia e Portugal são a mesma coisa. Que eu saiba os ratings dos dois países continuam a ser muito diferentes. Mas se a nossa – fraca – elite continua a achar que a única coisa que temos que fazer é gritar contra o mensageiro, então podemos aproximarmo-nos cada vez mais da Grécia.