quarta-feira, 30 de abril de 2008

Passos Coelho a esticar-se

Declaração de interesses: sou apoiante de Manuela Ferreira Leite, mas tenho simpatia pela candidatura de Passos Coelho. Dito isto parece-me que Passos Coelho se está a esticar, repetindo um dos piores tiques de Menezes.

Segundo o Diário de Notícias de hoje, p. 18, “Passos Coelho rejeita coligações pré-eleitorais”. Este tipo de afirmações só pode ser encarado como agressivo pelo CDS. A esta altura do campeonato, esta é das questões menos importantes. Por isso, estar a levantá-la é estar a criar anti-corpos desnecessários. Neste momento pensar que o centro direita pode ganhar as eleições de 2009 é difícil, agora imaginar que o PSD as vai ganhar com maioria absoluta parece um pouco delirante.

http://dn.sapo.pt/2008/04/30/nacional/passos_coelho_rejeita_coligacoes_pre.html

Mais à frente: "Alguns comentaristas achavam que eu estava aqui para marcar terreno para o futuro, agora já começam a acreditar que posso vencer e que possa ser uma surpresa para o PS e uma boa surpresa para Portugal." Como é possível dizer isto? Ainda não ouvi ninguém dizer tal coisa. Se imagina que, interiormente, alguns comentaristas pensam isto, apesar de não o dizerem, guarde para si essas fantasias. Isto parece-se horrivelmente com o tipo de afirmações delirantes que o Menezes fazia. Faça o seu caminho, mas evite este tipo de afirmações. Não se esqueça, NUNCA, que o PSD precisa de CREDIBILIDADE, que manifestamente não se constrói com comentários deste tipo.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Finalmente, Dra. Manuela

“Não esperem de mim uma campanha com espectáculo, que não sei fazer. Não esperem de mim o uso de grandes meios, de que, de resto, não disponho, nem penso serem desejáveis.” Gostei imenso destas palavras no discurso de apresentação da candidatura de Manuela Ferreira Leite à liderança do PSD.

Ainda “um maior descrédito nas legislativas poderá ter um efeito de contágio nas autárquicas.” Este recado para os autarcas do PSD parece-me muito bem apanhado, para lhes limitar as tentações populistas.

Realidade ultrapassa ficção

Do Diário de Notícias de hoje, p. 12: “ ‘Dona Branca de Valbom’ sacou dez milhões ao BCP” Esta alma “também é catequista e tesoureira do Centro Social e Cultural”. Palavras para quê?

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Divergência continua

A Comissão Europeia publicou hoje as suas previsões da Primavera, mais negativas que no Outono passado, com um 2009 (PIB da UE27 de 1,8%) pior que 2008 (2,0%) e muito pior que 2007 (2,8%). Insisto na ideia que 2009 se prevê ainda pior que o ano corrente.

http://ec.europa.eu/economy_finance/pdfs_files/2008/spring-forecasts/all-countries.pdf

Para Portugal, prevê-se a continuação da divergência face à média europeia com o nosso PIB a crescer apenas 1,7% este ano e 1,6% em 2009. Mesmo esta previsão tem uma composição estranha: num contexto de forte desaceleração externa, são as exportações líquidas que vão impedir uma maior desaceleração da actividade. Daí, a CE avisar: “It is worth noting, however, that the projections for export activity are subject to considerable risks.”

Para o desemprego a CE prevê uma estabilização próximo dos actuais níveis até 2009. Mesmo com as actuais previsões de crescimento esta estimativa parece arriscada. Se incluirmos as fragilidades de previsão do PIB, mais provável fica uma subida da taxa de desemprego.

Finalmente, em relação às contas públicas, a CE prevê uma interrupção da consolidação orçamental, com aumento do défice, quer em percentagem do PIB, quer em termos estruturais. Reforça a ideia de que a descida do IVA foi um jogo arriscado. Se o governo chegar às eleições com défice a subir e desemprego a subir, vai estar em mau lençóis.

domingo, 27 de abril de 2008

Estado esquizofrénico e proibidor

Segundo o Diário de Notícias de hoje, p. 48, “A Junta de Freguesia da Ericeira, Mafra, foi multada pelo Ministério das Finanças por lesar o Estado na venda de combustível. Tudo porque, a partir dos óleos recolhidos para reciclagem, a junta produzia o biodiesel para o funcionamento de uma viatura do lixo. A multa, de apenas um trimestre, rondou os oito mil euros. Já o Ministério do Ambiente multou a junta, mas desta vez por recolha não autorizada de lixo.”

http://dn.sapo.pt/2008/04/27/sociedade/ericeira_multada_lesar_o_estado.html

A primeira observação é sobre a esquizofrenia do Estado. Há um Estado que quer reduzir as emissões de CO2 e um Estado que multa quem o tenta fazer com alguma iniciativa e originalidade. O Estado subsidia, e não é pouco, energias alternativas mas esta situação, que não lhe exige subsídio nenhum, é multada. Ninguém consegue perceber esta lógica. É evidente que estamos no domínio das quintinhas e que, no Estado, ninguém quer saber dos objectivos da quintinha do lado. A recomendação que deixo é que, sobretudo em novas situações, não haja logo a sanção da multa. Parece-me para lá de evidente que a Junta estava a agir de boa fé e se, contra o mais elementar bom senso, o Ministério das Finanças insistir na ilegalidade da acção, ao menos que sinalize isso primeiro. O Estado tem que começar por ter uma intervenção pedagógica e só depois passar para a penalização.

Já a actuação do Ministério do Ambiente é do domínio do delírio. Parte do princípio de que o que não é explicitamente autorizado é proibido. Julgava que o 25 de Abril tinha sido feito para, entre outras coisas, acabar com esta mentalidade. Repare-se que este Ministério nem critica a actividade em si, mas apenas o facto de ela estar a ser feita sem ter sido pedida autorização. Mas quem realiza esta actividade nem é um privado qualquer mas sim uma Junta de Freguesia. Quando as empresas privadas se queixam da hiper-intervenção do Estado e assistimos este tipo de intervenção contra uma entidade pública, só podemos imaginar intervenções do mais insensato. Esta também é uma das razões que ajuda a explicar a falta de competitividade e o desemprego elevado.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Equívocos sobre a unidade do PSD

Tal como a renovação parece que a unidade é um elemento importante do futuro do PSD. O primeiro equívoco é a unidade ser possível. Parece-me impossível, o PSD tem demasiadas “visões”, até devido à ausência de uma linha ideológica definida. Mas há dois ramos que se perfilam: o sério e o populista. Menezes era uma populista instável, o que o tornava imprestável. Tenho ideia que se fosse um populista consistente não teria tido tantos problemas. Santana perfila-se como populista menos instável que Menezes. Se Santana ganhar (uma hipótese académica) o PSD voltava à instabilidade de Menezes. O PSD sério jamais o deixaria disparatar em silêncio.

A propósito, Passos Coelho parece pertencer à parte séria do PSD mas, talvez sedento de apoios, não se tem conseguido distanciar do apoio envenenado de Menezes. Estará a tentar a unidade mas por vezes é preferível uma identidade mais nítida do que a integração de facções inconciliáveis a todo o custo.

Há o equívoco de unidade significar o silêncio das críticas a seguir à eleição do líder. Não me preocupam as críticas no dia seguinte à eleição. Uma coisa me parece certa, se as sondagens mostrarem que o PSD sobe e PS desce para níveis próximos um do outro, então aí as críticas baixam porque vai efectivamente "cheirar a poder". E quem me parece mais bem colocado para provocar essa reviravolta nas sondagens é Manuela Ferreira Leite. Nesse momento o PSD vai parecer unido, mas na verdade estará com as divergências silenciadas.

Para reforçar esta ideia das sondagens leia-se o Expresso de hoje, p. 4, onde João Cravinho, Vera Jardim e Vitalino Canas dão claramente a entender que Manuela Ferreira Leite é o adversário mais temido pelo PS.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Equívocos na renovação do PSD

Há quem fale na necessidade de renovação do PSD e elabore alguns equívocos sobre o tema. É para lá de evidente que o PSD precisa de retirar de cena os inenarráveis Santana, Menezes e “sus muchachos”. Que esses devem sair, não há qualquer dúvida.

Mas há quem defenda renovação nos protagonistas seguintes. Antes de mais, convém lembrar o que a última renovação trouxe (Menezes, Ribau, etc.) para se perceber que, se a renovação poderá ser um bem, não o é necessariamente e não será, assim, o principal critério de avaliação. É-me muito mais importante uma direcção com qualidade, responsabilidade, rigor do que com “renovação.”

Mas há um outro equívoco de “renovação”. Pensar que é preciso trocar uns protagonistas do PSD por outros do PSD é um equívoco. O que é preciso é renovar o próprio PSD e abri-lo ao exterior. O que é preciso é renovar com pessoas de fora, com experiência nos seus sectores e com contributos válidos para uma agenda reformista. Manuela Ferreira Leite tem, de longe, a melhor imagem junto dos profissionais qualificados e é capaz de atrair o maior número deles, transmitindo-lhes a credibilidade de irem participar num projecto sério. Mas não só é capaz de atrair mais, como está mais disponível para os receber. Sempre a tenho ouvido falar dessa necessidade de abertura do PSD ao exterior. Por isto tudo, e ironicamente, é a pessoa mais velha a que poderá trazer maior renovação, para além da qualidade, qualidade, responsabilidade e rigor.

Quando é que ele se vai desdizer?

Do Público de hoje, p. 4, Menezes “garantiu que, a partir de agora e até às legislativas de 2009, vai ‘dar o exemplo’ e manter-se em silêncio.

Quanto tempo é que ele vai aguentar, até voltar a desdizer-se, mais uma vez? Aceitam-se apostas: um dia? uma semana? um mês?

Coelho fraquinho

Segundo o Diário de Notícias de hoje (p. 7) “Passos Coelho tem emprego como tema forte”. Quer “flexibilização das leis laborais” e propõe baixar taxa de contribuição das empresas para a Segurança Social. Parece que tem andado um pouco distraído e não reparou que o governo acaba justamente de fazer as duas coisas. Para quem se quer diferenciar, parece um pouco fraco.

Quanto à substância da proposta a “flexibilização das leis laborais” é muito vaga, sendo que dificilmente alguém viria propor torná-las mais “rígidas”. A descida da taxa de contribuição parece-me uma má medida, pior ainda do que a do governo, que a apresenta como alternativa à subida das contribuições para contratos a prazo e recibos verdes. Como economista, Passos Coelho tinha obrigação de não propor uma medida com riscos de por em causa a sustentabilidade da Segurança Social e com magras perspectivas de conseguir animar o emprego.

A falta de emprego tem muito mais a ver com falta de competitividade do que com flexibilização das leis laborais, que são apenas uma das componentes do problema. Se quer tomar medidas sobre um problema, é melhor que comece por percebê-lo. Para medidas avulsas já nos chegou o Menezes.

Jornalismo divertido

O Diário de Notícias publica hoje (p. 6-7) um comentário de opinião, que aparece confundido como notícia. Como opinião tem algumas pérolas divertidas.

http://dn.sapo.pt/2008/04/24/nacional/jardim_fora_e_santana_mais_vez_dispo.html

“Menezes e Pedro Santana Lopes resolveram equacionar uma candidatura da ala mais próxima das chamadas bases do partido, na qual também se enquadrava bem Alberto João Jardim.” Ala mais populista, certamente, mas “mais popular”, tenho sérias dúvidas.

A melhor de todas:

“Mas Menezes pensou em tudo até ao milímetro [já pararam de rir?]. No caso de obter negas de Jardim e Santana, Menezes pensou em transferir todos os seus apoios para Passos Coelho, o que faria dele um adversário temível para Ferreira Leite.”

Este passe de mágica de “transferir todos os seus apoios”, como se faz, quando as eleições são directas? Aguardo esclarecimentos. Quanto ao “adversário temível”, ia caindo da cadeira a rir.

Ministro poderoso

Entrevista a Jaime Silva no Jornal de Negócios, de hoje: "Aumento de 13% nos produtos agrícolas já é muito e tem de ser invertido" Eis algumas das medidas que o governo se propõe tomar para inverter esta tendência:

  • Matar 100 milhões de chineses e 80 milhões de indianos
  • Publicar uma lei que obriga a chover na Austrália
  • Decretar a descida do preço de petróleo

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Reforma laboral

Parece que as mudanças da lei vão genericamente no bom sentido. Mas aqui vão algumas críticas.

Contratos a prazo
Há uma penalização de 5pp das contribuições das empresas no caso dos trabalhadores a prazo. Muito bem. Depois o governo baixa as contribuições dos restantes trabalhadores num montante que é financeiramente neutro. Porquê? Com todos os riscos que a SS enfrenta, porque não aproveitar esta medida para aumentar efectivamente as receitas da SS? Depois o governo faz mal as contas, usando a actual proporção entre contratos a prazo e sem termo. Mas se o objectivo é mudar drasticamente esta proporção, que sentido tem usar a proporção actual? Quanto maior o sucesso desta medida, maior o buraco que estará a criar na SS. Um duplo erro. Note-se que uma descida mais modesta na contribuição dos contratados sem termo até poderia ser usada como optimismo do governo no aumento da proporção entre estes e os contratados a prazo.

O governo ainda fala numa eventual diminuição do desemprego como margem para aumentar receitas. A argumentação é patética. Seis em cada dez pessoas inscritas no desemprego são de contratos não renovados. Então, com menos contratados a prazo, menos desemprego. Ridículo. Há aqui dois movimentos. Por um lado, algumas empresas passarão contratados a prazo para sem termo (os “falsos” contratados a prazo). Mas o trabalho eventual das empresas (os “verdadeiros” contratados a prazo) vê os custos acrescidos, perde competitividade, logo perde emprego. Globalmente, esta medida deverá gerar desemprego e não o inverso. Terceiro erro.

Recibos verdes
Aqui há um passinho na direcção certa, mas o medo de fazer o caminho todo. Se em vez de as empresas passarem a contribuir 5% para a SS passassem a contribuir como os trabalhadores a prazo, matavam-se os falsos recibos verdes. E matava-se a fiscalização.

Menezes hilariante até ao fim

Menezes na despedida a Cavaco: “Espero que o futuro líder do PSD tenha condições para poder ser alguém que não seja um estorvo do ponto de vista da relação com o Presidente.” Menezes levou uma pancada na cabeça? Se quem se perfila com as melhores hipóteses para líder é Manuela Ferreira Leite, para quê dizer tamanho disparate? Menezes não percebe que ele faz obviamente parte da “má moeda”?

Ou isto será uma indirecta para Santana nem pensar em se candidatar? Ainda que haja toda a legitimidade em fazer esta interpretação, não me parece que seja o caso. Parece que tem mais a ver com a sua auto-ilusão que teve uma relação tão boa com o PR que dificilmente alguém poderá ter uma tão boa. Menezes deve ser das pessoas com a mais delirante opinião de si próprio.

Entretanto, Neto da Silva diz que “será difícil” vencer as eleições no PSD. Podia dizer “impossível” que ninguém levava a mal.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Limpeza no PSD

Com a candidatura de Manuela Ferreira Leite à presidência do PSD está aberto o período de limpeza do partido, uma actividade extraordinariamente necessária, sobretudo depois desse duo maravilha Menezes-Santana.

Patinha Antão e Passos Coelho afiguram-se como candidatos sérios, embora com hipóteses mínimas. Mas têm sempre a vantagem de evitar uma vitória albanesa à Dra. Manuela e poderão ajudar a debater o passado e o futuro do partido, não só em termos de protagonistas como de ideologia.

Ficaria muito contente que quer Menezes quer Santana se candidatasse, até para se conhecer a verdadeira extensão do PSD-delirante dentro do PSD. Estes dois não só são muito maus em qualidade, como são um desastre em termos eleitorais. Como é possível votar neles?

domingo, 20 de abril de 2008

Hilariante

Alberto Gonçalves no Diário de Notícias de hoje, p. 13, como sempre, de morrer a rir. Em especial:

“O dr. Menezes disse uma vez que seis meses no Governo chegavam-lhe para desmantelar o Estado. Acredito. Em seis meses na oposição, desmantelou o PSD"

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Menezes não engana ninguém

Menezes demitiu-se, diz que não se recandidata e marcou eleições directas para 24 de Maio. Se não se recandidata qual a urgência de marcar eleições tão cedo? Dá ideia, e fala-se disso, que está à espera de uma vaga de fundo. Dá ideia que se um primo e uma vizinha lhe disserem para se recandidatar ele logo virá anunciar que “sentiu” essa vaga de fundo e, contrariando-se, se apresentará às “bases” que estão ansiosas por reeleger este seu tão “fiel” representante.

O coitadinho denunciou “a maior campanha jamais montada”, continuando sem perceber (como é possível?) porque foi “a maior”. Ângelo Correia já cometeu a imprudência de não estar calado. Parece que está nas suas mãos a data das eleições. Espero que tenha a prudência de as adiar.

Prevejo um agravar da crise económica até 2009 com o desemprego a bater recordes sucessivos, em parte devido à estratégia económica errada do governo, de aposta no estímulo da procura interna em vez da recuperação da competitividade. Por isso julgo que a economia vai ser o tema central das eleições do próximo ano. O que é uma razão acrescida para escolher como o melhor candidato do PSD a derrotar Sócrates em 2009 Manuela Ferreira Leite.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1326197&idCanal=23

quinta-feira, 17 de abril de 2008

“Aguiar Branco quer directas contra Menezes”

Segundo o Diário de Notícias de hoje, p. 21, Aguiar Branco “já começou a recolha de assinaturas para convocar um congresso extraordinário, que não pode eleger um novo líder, mas pode discutir a crise interna.”

http://dn.sapo.pt/2008/04/17/nacional/aguiarbranco_quer_directas_contra_me.html

Espero bem que a dinâmica de contestação interna chegue para convocar esse tal congresso extraordinário e se criem condições para a mudança de liderança, que a actual é uma vergonha inconcebível.

De entre os putativos candidatos à liderança do PSD, Aguiar Branco é dos poucos com experiência governativa, embora com o problema de ter sido de demasiado curta duração e ter sido com Santana como PM. Mas enfim, com a fraqueza das alternativas dá ideia que não podemos ser demasiado exigentes. Não sei se Aguiar Branco tem condições para ser um bom PM neste momento, nem sei se tem condições para construir uma alternativa eleitoral, mas que deve ser bastante melhor do que Menezes, não há dúvida.

Entretanto, Paulo Portas, que conseguiu colocar o CDS/PP atrás do BE nas sondagens, veio pôr-se em bicos dos pés, a dizer que tirava a maioria absoluta ao PS. É possível ser-se mais patético? Santana, que não consegue estar calado, achou por bem atolar-se numa resposta. Estes tipos parece que não aprendem nada nunca.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Boas notícias

Só hoje se soube (Diário de Notícias, p. 16) que Mota Amaral escreveu uma carta a Menezes a anunciar a demissão da liderança do Instituto Progresso e Social Democracia, que desempenhava desde 2000. Parece que este Instituto tem um “elenco de luxo”, mas a sua produção recente não se conhece. Das pesquisas que diz na internet não consegui localizar nada, nem sequer no site do PSD. É lamentável esta situação.

Um dos elementos do tal “elenco de luxo” fala em “financiamento abaixo das suas possibilidades porque não há meios”. Mas agora são necessários “meios” para pensar? Admito que certos estudos requerem alguns meios, mas alguns são eurodeputados e deputados, já têm meios de apoio.

A saída de Mota Amaral, por mais eufemismos que ele alegue (esta mania da falta de frontalidade nas cisões nunca convence ninguém), é uma óbvia demarcação de Menezes. E vem de alguém que ainda há pouco tempo o defendia abertamente, contra as críticas internas. Infelizmente, com uma defesa bem fraquinha. O verdadeiro argumento era salazarento, não se devia criticar porque Menezes era o chefe e não porque o que ele dissesse fosse de elevada qualidade. Mas enfim, depois da saída anunciada de Ângelo Correia, esta saída de Mota Amaral apressa a queda de Menezes. Boas notícias para o PSD e para o país, que pode esperar ter um líder da oposição decente. Já não digo bom, digo apenas decente, em vários sentidos.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Subida dos preços alimentares

Há sinais cada vez mais significativos de perturbações sociais e fome na sequência da subida dos preços de bens agrícolas em geral e alimentares em particular. O que fazer?

Procura
Do lado da procura há uma perturbação que, mesmo que ainda não tenha um grande peso quantitativo, pode perturbar muito os preços. É bom não esquecer que a procura de bens alimentares como um todo é bastante rígida, pelo que pequenas variações nas quantidades procuradas se traduzem em grandes variações de preço. Falo obviamente dos biocombustíveis.

Neste momento usam-se biocombustíveis que competem directamente com alimentação (a partir de milho e cana do açúcar), quando a próxima geração deverá vir de desperdícios, representando apenas um aumento da eficiência energética. Por isso, a decisão lógica é uma moratória na sua utilização, até que estejam disponíveis mais avançadas. Isso mesmo já foi proposto:

“o conselho científico da Agência Europeia para o Ambiente defendeu hoje que a União Europeia deve suspender a meta dos dez por cento dos biocombustíveis utilizados nos transportes, até 2020.” Público, 10 Abr 08, via Visto da Economia,

http://vistodaeconomia.blogspot.com/2008/04/comer-biocombustveis.html

via Zero de Conduta.
http://zerodeconduta.blogs.sapo.pt/592285.html

Quanto ao argumento de que a cana-de-açúcar não compete com alimentação, isso não faz sentido, porque os terrenos são sempre susceptíveis de produção alternativa.

Oferta
Do lado da oferta, os mercados agrícolas são dos mais distorcidos do mundo. Os maiores campeões da liberalização comercial nos outros sectores são aqui os mais ferrenhos proteccionistas (EUA, UE, Japão). Esta protecção faz com que a produção mundial de produtos agrícolas esteja longe de optimizada.

Este momento é o propício para reformar a Política Agrícola Comum (PAC), acabando já com o absurdo de pagar aos agricultores para não produzirem. Para além da necessidade desmantelar muitos mais absurdos.

Estabilização de preços
A estabilização de preços das matérias-primas praticada no pós-guerra está recheada de lições de “o que não se deve fazer”, mas talvez haja algo a fazer neste domínio. Uma das previsões mais consistentes relativas à mudança climática é o aumento da variabilidade climática. Donde se depreende uma maior variabilidade da produção agrícola (uma das razões para a actual subida de preços). Assim sendo, parece que o nível óptimo de reservas é agora maior. Tal como existem as reservas estratégicas de petróleo, talvez se justifiquem reservas estratégicas de cereais.

Défice de pudor e superavit de estupidez

Esta “liderança” do PSD vai conseguindo descer cada vez mais baixo, mesmo quando se acreditava que já se tinha batido no fundo.

Depois de uma despudorada crítica à contratação da jornalista Fernanda Câncio para um programa da RTP 2 (imaginem as audiências…), vêm insistir e agravar a asneira. O vice-presidente Gomes da Silva, em conferência de imprensa (!) lá disse os seus disparates, no que foi altamente criticado pela generalidade da opinião, dentro e fora do PSD. Não contentes em ter feito a asneira, eis que Ribau Esteves em “comunicado [!!!] enviado ontem à Lusa” (Diário de Noticias de hoje, p. 18) insiste em agravar o desastre. Numa divertida confissão inconsciente do disparate manifesta “solidariedade” com Gomes da Silva e faz mais acusações. “Solidariedade”? Isto não se costuma dizer sobre quem está na mó de baixo?

Primeiro começam com a falta de pudor de uma crítica com as insinuações mais soezes. Segue-se a estupidez de insistir no erro.

O que é que estas questiúnculas interessam ao eleitorado? Esta gente não percebe que é à conta destes incompreensíveis desvarios que as sondagens dizem o que dizem?

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Título esquecido

A manchete do Expresso deste fim de semana era: “Lisboa é a região da UE com mais auto-estradas”. Estranhamente, não tenho visto muita repercussão desta notícia.

O que ela nos diz é que o argumento do défice de infra-estruturas para continuar a insistir no betão já nem sequer é válido. Para além disso, o argumento da estabilização macroeconómica é, na actual conjuntura, um rematado disparate. Do que precisamos é de recuperar a competitividade e não estimular a procura interna.

Mas o PSD continua a dormir ou a entreter-se com a irrelevância ou a enlamear-se com interferências ridículas na RTP.

Sempre recomendado

O texto de Pedro Magalhães de hoje no Público, p. 39: "O Bloco e o poder". Esta semana a opinião deste jornal está disponível on-line e com caixa de comentários, mas não há link directo, o que é pena.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Cadilhe em queda

Nos últimos anos Cadilhe decaiu bastante e tenho-o ouvido dizer demasiados disparates.
Agora diz que Menezes tem “mérito” para ser PM. O quê? Inacreditável! Politicamente não podia ser mais disparatado.

Tecnicamente, Cadilhe insiste em jogar com as palavras e dizer que Portugal está em recessão há anos. Não compreendo a utilidade de distorcer conceitos bem definidos. Mas, concordemos que Portugal está numa posição económica má, a divergir da Europa há demasiados anos. Quem é o culpado, segundo Cadilhe? Nada mais que o Pacto de Estabilidade, que, mauzinho, não nos deixa estimular a procura interna. Um diagnóstico errado: o problema é a falta de competitividade e um estímulo orçamental não serve em nada para a resolver. Cadilhe, depois de fazer um diagnóstico errado, só poderia recomendar a terapia errada: baixar impostos.

Das suas ideias de reforma do Estado (Diário Notícias de hoje, p. 18) algumas são tão vagas (nova organização), ou mal pensadas (extinção de serviços) que vou ali e já venho. Esta mania que a extinção de serviços ajuda alguma coisa é um perfeito disparate. É muito mais importante racionalizar os processos dentro de cada serviço, do que a extinção nominal de um serviço com a sua fusão de competências e recursos noutro serviço.

O único ponto positivo que consigo destacar é a crítica que faz às obras públicas.

Acabou mesmo o prazo de Menezes

Guterres foi um mau PM, mas foi bom eleitoralmente. Foi mau porque espatifou as contas públicas e a competitividade, para além de ter reforçado a tendência portuguesa para o laxismo e a falta de rigor. Já dizia o Eça, por interposto Afonso da Maia: “O português nunca pode ser homem de ideias, por causa da paixão da forma. A sua mania é fazer belas frases, ver-lhes o brilho, sentir-lhes a música. Se for necessário falsear a ideia, deixá-la incompleta, exagerá-la, para a frase ganhar em beleza, o desgraçado não hesita... Vá-se pela água abaixo o pensamento, mas salve-se a bela frase.” Dá ideia que os portugueses são mais facilmente levados por demagogos…

Santana Lopes não só foi um mau PM (será necessário alguma fundamentação desta ideia?), como foi mau eleitoralmente: deu ao PSD uma das mais humilhantes derrotas da 3ª República (não caiam no ridículo de se orgulharem de não ter sido “a” pior), e ofereceu de bandeja a primeira maioria absoluta do PS. Acham que é pouco?

Ora Menezes vem-se revelando ainda pior que Santana. Em termos de qualidade, Menezes desceu tão baixo que a maioria dos analistas políticos já não o critica, apenas o ridiculariza. O que não admira, dada a profusão e incoerência de comentários avulsos em que Menezes se especializou. Em termos de potencial eleitoral, as sondagens não podiam ser piores, e não é só esta:

“Menezes obtém o pior resultado desde que é líder”
http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=FF99A51B-62C6-45DB-81AB-6383A68988BD&channelid=00000090-0000-0000-0000-000000000090

Enquanto o PS desce, o PSD também. Pior é impossível!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

FMI pessimista?

O FMI acaba de publicar as suas previsões, em que o aspecto mais saliente é o modo como 2009 vai continuar a ser um ano fraco, quer na Europa, quer nos EUA. Comparando com a mais recente poll do Economist o FMI está mais pessimista do que o consenso. Mas, como referi oportunamente, o ciclo de revisão de previsões em baixa ainda está longe do fim, pelo que é bem possível que o consenso chegue rapidamente aos valores do FMI. Estará o FMI mesmo pessimista ou realista? Parece que vamos ter que esperar pelo fim do jogo…

Para Portugal o FMI aponta para uma continuação da divergência com a zona euro (crescimento de 1,3% vs. 1,4%), ligeiramente compensado em 2009 (1,4% vs. 1,2%). Péssimas notícias, sobretudo para 2009. Há um aspecto das previsões do FMI que me parece incoerente: a economia a crescer abaixo de 1,5% e o desemprego a baixar. Com níveis tão anémicos de crescimento, parece-me que o desemprego só pode subir. O governo arrisca-se assim a chegar às eleições com o desemprego em alta sucessiva, mesmo que essa deterioração derive da deterioração internacional.

Mas a oposição tem um argumento para atacar o governo. O governo seguiu o modelo errado: promover grandes obras públicas em vez de promover a competitividade. Se o governo tivesse seguido a segunda via (difícil, admite-se) a economia poderia estar a ganhar quotas de mercado no exterior e não sofrer tanto com a deterioração da conjuntura internacional. Portanto, a subida do desemprego até 2009 é, em parte, resultado de más políticas deste governo.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Ângelo Correia de saída

Ângelo Correia, no Diário de Notícias de hoje, p. 64, considera situação no PSD “totalmente insatisfatória”. Partido deve dedicar-se “mais a pensar, a reflectir e a falar com o País”. No mínimo, estes comentários são uma chamada de atenção para Menezes, com a esperança que este mude.

Mas podem ser também lidos, já nem como ultimato, mas como uma antecâmara de uma despedida. Só para ela não surgir de forma abrupta. Se, como me parece razoável, Ângelo Correia já percebeu que Menezes não tem emenda, a única alternativa é a saída. Mas com esta retirada de tapete, Menezes fica numa situação de uma fragilidade insustentável. Menezes, que muito critica o baronato, está na verdade dependente da caução deste barão, o único que conseguiu atrair.

Ou seja, óptimas notícias para o PSD e para o país, que ganha assim a esperança de passar a ter uma oposição de jeito.

Adenda:
O Público também já tem a notícia e os comentários dos (e)leitores são muito esclarecedores:

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1325229&idCanal=23

Para quê a terceira travessia do Tejo (TTT)?

Segundo a RAVE, citada no Diário de Notícias de hoje, p. 4, 80% do tráfego da TTT virá das duas pontes já existentes. O “Estado arrisca pagar 35 milhões por anos à Lusoponte”. Pode haver maior absurdo. A nova ponte praticamente só desvia tráfego e o Estado vai construí-la e depois ter que indemnizar a Lusoponte por esta mesma transferência. Quer dizer, o Estado gasta dinheiro para criar um problema e depois gasta dinheiro para o resolver. O betão continua a estar envolvido nos maiores disparates que se fazem em Portugal.

Outro dado interessante é que no contrato da Lusoponte o tráfego previsto para 2014 era de 105 mil carros/dia. Hoje estima-se que serão apenas 75 mil carros/dia. Assim se fazem investimentos públicos em Portugal. Primeiro decide-se construir uma ponte (auto-estrada, etc.) e depois martelam-se previsões de tráfego para racionalizar a decisão de construir. No caso da TTT, nem esse cuidado há.

No Diário Económico de hoje, a Lusoponte aponta várias das incoerências nas quais se baseia a construção da TTT.

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/edicion_impresa/empresas/pt/desarrollo/1109705.html

Dá ideia que o governo sabe que está a tomar uma medida errada em termos das necessidades de circulação, mas certa em termos macroeconómicos. Ou seja, esta construção faz-se, não porque seja necessária, mas porque seria um estímulo à actividade. Por razões que já expliquei em detalhe aqui, isto é uma grave asneira: o que Portugal precisa não é de estimular a procura interna, mas sim de recuperar a competitividade.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Portugal é um oásis

No Financial Times de hoje há um suplemento dedicado a Portugal:

http://media.ft.com/cms/343dd9dc-04ae-11dd-a2f0-000077b07658.pdf

Martin Wolf, um dos melhores analistas deste jornal, publica aí um artigo, que trata do problema da divergência do país com a UE. Estranhamente, o artigo contém um erro, inconsistente com o resto do texto.

“The combination of low economic growth with a huge current account deficit and declining rates of investment suggests a chronic lack of external competitiveness – that is, an overvalued real exchange rate.”

Totalmente de acordo, é a tecla em que venho insistindo.

“Moreover, there is little sign of any substantial loss of competitiveness. According to the OECD, Portugal’s relative unit labour costs, in dollars, were much the same in 2007 as in 1998, just before the euro was launched.”

Isto é um erro, que decorre da arbitrariedade da escolha do ponto de referência. A referência deve ser um ponto de equilíbrio (interno e externo de preferência) e não uma data à escolha. E o problema é que a perda de competitividade vem de trás. E a contradição é evidente com a citação anterior.

Também neste suplemento, Teixeira dos Santos é entrevistado:

“The government forecast for this year has been revised upwards to 2.2 per cent, with growth poised to rise above the EU average for the first time since 2001. Mr Teixeira de Santos says this relative buoyancy rests largely on the vitality of Portugal’s private sector.”

O ministro parece que redescobriu a teoria do oásis. Enquanto a generalidade das economias vão ter um 2008 pior que 2007, Portugal surge como dos poucos em que o inverso se vai passar. Cheira-me que o ministro vai ter que engolir estas palavras e ter que rever em baixa as suas previsões, como quase todos estão a fazer. E como o seu antecessor longínquo que falou no oásis o teve que fazer.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Perspectivas económicas deterioram-se

O Economist desta semana publica as previsões de Abril, onde se regista um agravar da deterioração das expectativas. Pode-se dizer que em Abril a deterioração foi tão forte como nos dois meses anteriores em conjunto. O crescimento previsto nos EUA em 2008 já caiu de 1,8% previstos em Janeiro para 1,2% neste mês. As previsões têm a propriedade de estarem muito correlacionadas, pelo que é de prever que se continue neste ciclo de revisão em baixa, iniciado em Ago-07. As previsões para 2009 também começaram a ser fortemente revistas em baixa (de 2,6% para 1,7% nos EUA).

No caso da zona euro, as revisões são de menor amplitude (de 1,8% em Jan. para 1,6% agora, em 2008) mas para 2009 já não há expectativa de recuperação, com o valor previsto para o próximo ano igual ao deste ano. Repare-se que nos EUA se mantém a expectativa de uma recuperação. Em síntese, Europa cai menos, mas não recupera.

O cenário macroeconómico do governo português (o Banco de Portugal já avisou que vai rever em baixa as suas previsões) está assim em cheque, quer para 2008, quer para 2009. Ainda muito recentemente, aquando do anúncio da baixa do IVA, o governo tinha tido a oportunidade de rever as suas previsões, tendo escolhido a decisão temerária de não o fazer, o que foi aqui atempadamente criticado. Contra todos os planos do governo, a crise internacional vem pôr em causa a recuperação económica quer para 2008, quer para 2009.

Em relação às expectativas de inflação há uma ligeira revisão em alta para 2008, mas não em 2009. Por um lado pode-se pensar que o menor crescimento previsto para o próximo ano justificará esta moderação da inflação mas, por outro lado, sugere que as expectativas de inflação estão ancoradas próximo dos valores de referência (2%), pelo que não é de temer que o BCE seja forçado a subir as taxas de juro para suster subidas temporárias de preços. Boas notícias, também para o próprio BCE, a quem é evitado um dilema de política económica. Em princípio, não vai ter que ser forçado a causar dano económico de curto prazo para fortalecer expectativas de inflação de longo prazo. Em princípio, estará posto de lado a hipótese de subidas de taxa de juro pelo BCE.

O santo do BCP

Jardim Gonçalves “concedeu” uma extensa entrevista ao Público, por escrito, em que se notam, em algumas passagens, uma grande “ajuda” dos seus advogados. O retrato geral é que ele não tem a menor responsabilidade em tudo de mal que se passou no banco. Não reconhece a menor falha, foi tudo feito da melhor forma possível, dá ideia que, olhando para trás, não há nada que poderia ter feito diferente, ou ter feito melhor. Cheira-me que quando se concluírem os processos em curso no Banco de Portugal e CMVM, Jardim vai ter que engolir algumas das coisas que aqui escreveu.

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1324964&idCanal=57

Não sou adepto de teorias da conspiração, por isso não consigo conceber uma acção concertada contra o BCP. Parece-me é que as múltiplas frentes de batalha que surgiram foram sinais da fragilidade a que a instituição chegou. E essas fragilidades têm um nome: Jardim Gonçalves.

Uma primeira fragilidade é a excessiva dispersão accionista sem um núcleo de referência. A excessiva blindagem dos estatutos, que diminui o valor das acções ao tornar uma OPA quase impossível de sucesso, serviu apenas para preservar o poder do seu presidente contra os accionistas.

Uma segunda fragilidade deriva da dispersão de investimentos do BCP para fora do sector bancário, contra todas as recomendações dos livros de texto. Alguns destes investimentos destinavam-se a comprar accionistas (em alguns casos parece que o banco lhes emprestava quase mais do que eles investiam no banco). Noutros casos, parecia que se pretendia criar um grande centro de poder, com participações nas maiores empresas portuguesas. Um objectivo insensato. Como é que um grupo sem uma base accionista sólida pretende alargar-se para além do seu próprio sector? As fortes perdas que se seguiram ao crash de 2000, revelaram o desastre destas aventuras. Aqui de novo, a explicação decorre de uma megalomania do poder.

Uma terceira fragilidade decorre de uma excessiva dependência da figura de Jardim Gonçalves, que passou a pasta a Paulo Teixeira Pinto, sem verdadeiramente a passar, gerando uma infinidade de atritos. O delírio da OPA sobre o BPI, uma das operações mais mal montadas da história bancária portuguesa, só pode ser explicada no contexto da tal megalomania do poder.

Como vemos, há um conceito que, mais do que todos os outros, explica a história do BCP: megalomania do poder. Daí, um poder mal exercido, que dá demasiadas vezes o passo maior do que a perna. Daí as fragilidades expostas, que foram sucessivamente aproveitadas ora por este, ora por aquele, e não por uma grande conspiração concertada.

Esperemos que a nova administração faça um corte com o passado, vendendo as participações não estratégicas e desblindando (ainda que parcialmente) as participações accionistas.

Não há paciência

Já não tenho palavras para comentar as pérolas de Menezes, agora na Madeira.

domingo, 6 de abril de 2008

Insensatez da ASAE

“Ter máquinas de bolas com chocolates pode ser crime” Título de notícia do Público de hoje, p. 15. Cafés e restaurantes “acusados de crime de jogo ilícito”. Lê-se e não se acredita. Como é possível andar a ASAE “entretida” com questões destas? O que há de mais inconcebível é o desperdício de recursos em burocracias insensatas.

Parece-me para lá de evidente que os proprietários destes pequenos estabelecimentos não têm a menor ideia do eventual ilícito, porque, aliás só uma mente muito retorcida e desocupada é que consegue imaginar tal disparate. Se há alguém a perseguir (o que me parece muito duvidoso) são os vendedores destas máquinas e não os compradores.

Há outro aspecto insuportável. É um fenómeno ocorrer anos a fio sem haver a menor sombra de uma repreensão (nem verbal) e, de repente, “isto é um crime”. Se se chega à conclusão que uma determinada prática, consentida durante anos, passa a ser considerada crime, convém passar por uma fase pedagógica, por um mínimo de respeito pelos cidadãos.

Ainda por cima, neste caso, nem sequer há conclusão nítida de que é crime: dois acórdãos recentes do Tribunal de Relação de Coimbra absolveram casos semelhantes (valha-nos alguma sanidade…).

Faz lembrar a administração fiscal que perdia, até há não muito tempo, 80% dos processos que levava a tribunal. É insuportável o desperdício de recursos de uma burocracia insensata e incompetente. Neste caso desperdício na fiscalização da irrelevância. Desperdício de recursos do cidadão que tem que responder. Desperdício de recursos do tribunal, que tem que se pronunciar, para repor algum bom senso.

Imprudência da Mota-Engil

A Mota-Engil convidou Jorge Coelho para ocupar a presidência da empresa. Dada a influência deste político dentro do PS, mesmo sem cargos oficiais, isto só se presta a suspeições.

Para quem tenha dúvidas sobre a má recepção desta notícia, leiam-se os comentários à notícia no Público:

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1324884&idCanal=23

Fará algum sentido à Mota-Engil convidar Jorge Coelho, que já era consultor da empresa? Da próxima vez que a Mota-Engil ganhar um concurso público, mesmo que seja por ter apresentado a melhor proposta, não vai conseguir afastar a suspeita que ganhou o concurso por influência política. Estão a pôr-se a jeito para o se vai seguir.

sábado, 5 de abril de 2008

PSD e Menezes sempre a cair

Na sondagem Eurosondagem publicada da hoje no Expresso (em parceira com SIC e Rádio Renascença) Menezes cai pelo quarto mês consecutivo (um pouco irritante esta instabilidade de uma vezes publicarem os números e outras não). O PSD está com performance ligeiramente menos má do que o seu “líder”, mas cai pelo terceiro mês consecutivo, para 29,4%. Palavras para quê?

Entretanto Sócrates aguenta-se, sendo o governo e o PS quem mais sofre pelo desgaste governativo. Os grandes beneficiários são a CDU e o BE, os partidos dos irresponsáveis que não têm que confrontar as suas propostas com eventuais futuras aplicações. A esta distância das eleições não nos devemos preocupar excessivamente com estas intenções de voto anti-sistema, mas são um sinal a não ignorar.

O CDS ganha marginalmente (0,2pp para 6,0%), mantendo-se claramente no último lugar dos 5 partidos principais. Até quando se vai manter este vazio do lado direito do espectro político?

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Parabéns ao Health Cluster Portugal

É constituído hoje o Health Cluster Portugal, sob a presidência (e o impulso) de Luís Portela, da farmacêutica Bial (Público de hoje, p. 2-3). Vários aspectos positivos: ser uma iniciativa da sociedade civil (empresas, centros de investigação, fundações), que resolveu não esperar mais pela concretização de apoios públicos em estudo. Esta iniciativa dá-lhe autonomia e, diria, coloca mesmo pressão do lado público. Se querem associar-se a sucessos futuros desta associação, da próxima vez é melhor os poderes públicos apressarem o passo com o calendário privado e não estarem à espera que os privados fiquem dependentes do calendário público.

Por outro lado, esta iniciativa é também uma bofetada de luva de pelica naqueles que esperam que seja o Estado a escolher os sectores de desenvolvimento prioritário. Diz Luís Portela: “Há dois anos ninguém falava de um pólo de competitividade na saúde, insistia-se noutras áreas.” Afinal havia um cluster de que os poderes públicos nem suspeitavam.

Há um outro aspecto a salientar, que revela uma parte que se lamenta. Antes de se unirem neste cluster, muitas das empresas, até geograficamente próximas, nem se relacionavam. A tal, portuguesa dificuldade de associação. Espera-se que destes relacionamentos surjam já ganhos. E há fortes perspectivas de internacionalização.

Desejo os maiores sucessos a este cluster e espero ainda que este exemplo frutifique no surgimento de outros clusters.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Faltam explicações

O Correio da Manhã investigou as acusações de António Borges a Manuel Pinho e escreve:

“ 'A 2 de Dezembro de 2004, a Parpública [holding do Estado para as empresas públicas] informou os advogados do banco de investimento de que não existia a necessidade de continuar o contrato', precisa-se. E o secretário de Estado do Tesouro, Morais Leitão, foi também informado da situação, até porque 'os custos inerentes a este contrato eram elevados'. Por isso, a 6 de Abril de 2005, já no Governo de José Sócrates, a Parpública propõe a denúncia do contrato. O Congresso do PSD realizou-se entre 8 e 10 de Abril, em Pombal. Para terminar o contrato com a GS foi invocado o chumbo da Comissão Europeia (CE) ao plano de reestruturação do sector energético do ministrodaEconomia, Carlos Tavares. Como a CE não aprovou a concentração do negócio do gás natural na EDP, considerou-se que 'não fazia sentido continuar o contrato a GS'. O CM chegou à fala com António Borges que não quis fazer comentários.” (meu negrito).

http://www.correiomanha.pt/Noticia.aspx?channelid=00000090-0000-0000-0000-000000000090&contentid=F0A8E34B-9FE1-483B-8BF5-EDFE91F746A5

A ideia que fica é que é verdade que o governo rescindiu o contrato muito pouco depois do Congresso do PSD, mas não porque nesse congresso António Borges tenha sido crítico do governo. A ideia da rescisão já viria de trás, de um governo PSD.

A parte pior desta estória é que Borges não tenha querido comentar estes factos. Fica a suspeita que quis transformar uma verdade numa mentira. Não é bonito.

De qualquer forma, a forma atabalhoada com que Pinho lhe tinha respondido, impede que haja vencedores. Saem ambos pouco limpos desta questão.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Demagogia lança OPA sobre PSD

Seguindo um disparate que julgávamos encerrado, PSD volta à carga com o fim da publicidade na RTP. Agora com demagogia ainda mais descarada. É que isto se consegue “sem exigir qualquer pagamento adicional por parte dos portugueses” (Público de hoje p. 7).

Como assim? Parece que existem 50 milhões de euros de “excedente” das receitas da taxa de audiovisual. Parece que até hoje este “excedente” era reunido numa pira e zelosamente queimado, numa localização que ainda não pudemos apurar. Falta de investigação, de que me penitencio e, espero, talvez com a ajuda destes deputados, puder revelar em breve. Havia 50 milhões de euros que o Estado recebia e deitava fora. Agora, graças à preclara sapiência destes iluminados deputados do PSD, o Estado vai deixar de deitar esse dinheiro para a rua e usá-lo para pagar o fim da publicidade na RTP.

Mas que ideia brilhante! Já agora poderiam, por exemplo, calcular o “excedente” das receitas do IRS sobre a despesa com a sua arrecadação. Ou qualquer outra definição de “excedente”, e incentiva-se o máximo de criatividade… E depois aplicavam-se estes “excedentes” em mil e uma aplicações, qual delas a socialmente mais importante e a mais urgente, como a distribuição gratuita de ração no Dia do Cão, a oferta de uma coleira de guizos no Dia do Gato, etc.

Será que eles julgam que enganam alguém com este tipo de demagogia? Ou, pior ainda, são tão desmiolados que não percebem que isto não passa de um disparate descabelado?

Vírus Menezes ataca Ângelo Correia

"Posso garantir que nunca me senti pressionado pelo ministro [Pinho] durante o seu mandato", disse à Lusa o presidente da mesa do Congresso do PSD [Ângelo Correia], que acumula, entre outros cargos, a presidência da administração da Lusitaniagás e da TEJO-Ambiente, S.A.

http://ww1.rtp.pt/noticias/index.php?article=336598&visual=26

Ah, sim? Então e isso demonstra o quê? Há certamente milhares de outros empresários que poderiam dizer a mesma coisa e isso demonstrava o quê? Há 10 milhões de portugueses que podem afirmar (e nós podemos acreditar neles) que não foram assassinados pelo serial killer de Santa Comba. E isso prova o quê? Que ele não matou ninguém? Ângelo Correia ainda se desculpa que não acompanhou a polémica do ministro com António Borges, mas não deixa de se envolver. Se não acompanhou, qual a ideia de se pronunciar?

Isto soa a um apoio desastrado e incompreensível a um dos ministros mais desqualificados de Sócrates. É incompreensível porque o ministro é o que é, mas também custa a crer que se usem estes métodos para tentar deitar abaixo um putativo rival de Menezes.

Já quanto a ser desastrado, é-o porque não ajuda a explicar nada, e não serve minimamente para defender o ministro das acusações de Borges. Dá ideia que Ângelo Correia está a sofrer do vírus do disparate de que Menezes sofre e que, pelos vistos, contagia quem está por perto.

Quanto a críticas que por aí li, pode bem ser que Borges não tenha ainda experiência política para ser PM, mas penso que daria um bom ministro das Finanças. Já Menezes, nem para Secretário de Estado da Saúde serve. A propósito, não é estranho que, sendo Portugal um dos maiores produtores europeus de ministros, tantos dos putativos candidatos à liderança do PSD não tenham sequer experiência ministerial? Ou quase nenhuma?

PS. Dia das mentiras não durou muito…

Reviravolta de Menezes

Numa surpreendente reviravolta, a sondagem da reputada LFM – Estudos de Opinião dá Menezes a ganhar as eleições legislativas de 2009, com 53,4% dos votos, uma votação nem sequer obtida nas maiorias absolutas de Cavaco Silva. O CDS/PP volta a partido do táxi, o PS cai brutalmente e até o BE é ferido na contenda. Mais desenvolvimentos amanhã.