segunda-feira, 7 de abril de 2008

O santo do BCP

Jardim Gonçalves “concedeu” uma extensa entrevista ao Público, por escrito, em que se notam, em algumas passagens, uma grande “ajuda” dos seus advogados. O retrato geral é que ele não tem a menor responsabilidade em tudo de mal que se passou no banco. Não reconhece a menor falha, foi tudo feito da melhor forma possível, dá ideia que, olhando para trás, não há nada que poderia ter feito diferente, ou ter feito melhor. Cheira-me que quando se concluírem os processos em curso no Banco de Portugal e CMVM, Jardim vai ter que engolir algumas das coisas que aqui escreveu.

http://economia.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1324964&idCanal=57

Não sou adepto de teorias da conspiração, por isso não consigo conceber uma acção concertada contra o BCP. Parece-me é que as múltiplas frentes de batalha que surgiram foram sinais da fragilidade a que a instituição chegou. E essas fragilidades têm um nome: Jardim Gonçalves.

Uma primeira fragilidade é a excessiva dispersão accionista sem um núcleo de referência. A excessiva blindagem dos estatutos, que diminui o valor das acções ao tornar uma OPA quase impossível de sucesso, serviu apenas para preservar o poder do seu presidente contra os accionistas.

Uma segunda fragilidade deriva da dispersão de investimentos do BCP para fora do sector bancário, contra todas as recomendações dos livros de texto. Alguns destes investimentos destinavam-se a comprar accionistas (em alguns casos parece que o banco lhes emprestava quase mais do que eles investiam no banco). Noutros casos, parecia que se pretendia criar um grande centro de poder, com participações nas maiores empresas portuguesas. Um objectivo insensato. Como é que um grupo sem uma base accionista sólida pretende alargar-se para além do seu próprio sector? As fortes perdas que se seguiram ao crash de 2000, revelaram o desastre destas aventuras. Aqui de novo, a explicação decorre de uma megalomania do poder.

Uma terceira fragilidade decorre de uma excessiva dependência da figura de Jardim Gonçalves, que passou a pasta a Paulo Teixeira Pinto, sem verdadeiramente a passar, gerando uma infinidade de atritos. O delírio da OPA sobre o BPI, uma das operações mais mal montadas da história bancária portuguesa, só pode ser explicada no contexto da tal megalomania do poder.

Como vemos, há um conceito que, mais do que todos os outros, explica a história do BCP: megalomania do poder. Daí, um poder mal exercido, que dá demasiadas vezes o passo maior do que a perna. Daí as fragilidades expostas, que foram sucessivamente aproveitadas ora por este, ora por aquele, e não por uma grande conspiração concertada.

Esperemos que a nova administração faça um corte com o passado, vendendo as participações não estratégicas e desblindando (ainda que parcialmente) as participações accionistas.

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