terça-feira, 15 de abril de 2008

Subida dos preços alimentares

Há sinais cada vez mais significativos de perturbações sociais e fome na sequência da subida dos preços de bens agrícolas em geral e alimentares em particular. O que fazer?

Procura
Do lado da procura há uma perturbação que, mesmo que ainda não tenha um grande peso quantitativo, pode perturbar muito os preços. É bom não esquecer que a procura de bens alimentares como um todo é bastante rígida, pelo que pequenas variações nas quantidades procuradas se traduzem em grandes variações de preço. Falo obviamente dos biocombustíveis.

Neste momento usam-se biocombustíveis que competem directamente com alimentação (a partir de milho e cana do açúcar), quando a próxima geração deverá vir de desperdícios, representando apenas um aumento da eficiência energética. Por isso, a decisão lógica é uma moratória na sua utilização, até que estejam disponíveis mais avançadas. Isso mesmo já foi proposto:

“o conselho científico da Agência Europeia para o Ambiente defendeu hoje que a União Europeia deve suspender a meta dos dez por cento dos biocombustíveis utilizados nos transportes, até 2020.” Público, 10 Abr 08, via Visto da Economia,

http://vistodaeconomia.blogspot.com/2008/04/comer-biocombustveis.html

via Zero de Conduta.
http://zerodeconduta.blogs.sapo.pt/592285.html

Quanto ao argumento de que a cana-de-açúcar não compete com alimentação, isso não faz sentido, porque os terrenos são sempre susceptíveis de produção alternativa.

Oferta
Do lado da oferta, os mercados agrícolas são dos mais distorcidos do mundo. Os maiores campeões da liberalização comercial nos outros sectores são aqui os mais ferrenhos proteccionistas (EUA, UE, Japão). Esta protecção faz com que a produção mundial de produtos agrícolas esteja longe de optimizada.

Este momento é o propício para reformar a Política Agrícola Comum (PAC), acabando já com o absurdo de pagar aos agricultores para não produzirem. Para além da necessidade desmantelar muitos mais absurdos.

Estabilização de preços
A estabilização de preços das matérias-primas praticada no pós-guerra está recheada de lições de “o que não se deve fazer”, mas talvez haja algo a fazer neste domínio. Uma das previsões mais consistentes relativas à mudança climática é o aumento da variabilidade climática. Donde se depreende uma maior variabilidade da produção agrícola (uma das razões para a actual subida de preços). Assim sendo, parece que o nível óptimo de reservas é agora maior. Tal como existem as reservas estratégicas de petróleo, talvez se justifiquem reservas estratégicas de cereais.

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