Há para aí umas ideias de que os problemas portugueses na verdade não são nossos e nós apenas somos as vítimas de más políticas alemãs (excessivo superavit externo) que, por isso mesmo, deveriam ser corrigidas.
Estas ideias contêm um duplo problema: uma má postura cívica e vários erros técnicos. Um país não reconhecer os seus próprios erros e andar à procura de um bode expiatório no exterior é o oposto da saúde mental. Um país saudável assume a responsabilidade pelos seus próprios erros e, se precisa de ajuda, pede-a com humildade e agradecido quando a recebe e não com a atitude de um subsidio-dependente que exige, que tem o “direito” que os outros lhe resolvam os problemas e que tem medo que a palavra “obrigado” lhe queime os lábios.
Como Vítor Bento já explicou, se a Alemanha estimulasse a sua procura interna isso iria aumentar a procura do conjunto do mundo e não apenas na zona do euro. Portugal seria dos países mais mal colocados para beneficiar desse aumento de procura devido ao nosso gravíssimo problema de falta de competitividade.
Mas falta fazer outra pergunta: o que pode a Alemanha fazer para reduzir o seu superavit externo? Em 2007 e 2008 o superavit externo andou em roda dos 7% do PIB, enquanto as contas públicas estiveram grosso modo equilibradas, embora existisse um défice estrutural moderado (pouco mais de 1% do PIB). A dívida externa estava no 65% do PIB, acima do valor de referência. Ou seja, antes da crise a Alemanha não tinha margem orçamental que permitisse reduzir o superavit externo. Este é resultado do “excesso” de poupança dos alemães e não de qualquer “excesso” de poupança do Estado, pelo que não há grande margem para o combater.
Depois da crise o superavit externo alemão reduziu-se um pouco (deverá andar na casa dos 4% do PIB nos próximos tempos), mas o défice público subiu muito, eliminando por completo quaisquer veleidades que pudesse haver.
Em resumo, mesmo que a Alemanha desejasse reduzir o seu superavit comercial, não tem neste momento instrumentos para o fazer.
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