segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Fraca elite

Ricardo Salgado não está em boa maré. Há pouco tempo elogiava os grandes projectos públicos, provavelmente na expectativa de ganhar algumas comissões de financiamento, mas ignorando as consequências de médio prazo do nosso endividamento externo sobre a solvabilidade da nossa banca.

Agora vem gritar contra as agências de rating, um exercício inexplicável.

“A pior das considerações que foi feita sobre a economia portuguesa foi a de que Portugal é um país que pode estar num processo de morte lenta. É inqualificável”, insurge-se Ricardo Salgado.

O número um do BES admite, porém, que as agências de “rating” tiram estas conclusões porque “nem o Estado, nem os grupos portugueses conseguiram expressar a essas agências que Portugal é viável e que pode voltar a crescer mais depressa. É um problema de estratégia”.

Mas há um erro que não lhes perdoa: “Confundem as realidades dos países”. “Portugal e a Grécia estão em dois extremos da Europa e as afinidades que existem entre as duas economias são nulas. Porque raio é que eles [as agências de ‘rating'] dizem que a Grécia e Portugal são a mesmo coisa, porque é que consideram que as nossas economias estão interligadas ao ponto de nos quererem explicar que o problema grego é idêntico ao português? E não é”, protesta.

O risco de Portugal estar a caminhar para uma “morte lenta” tem sido, porém, referido há longa data por economistas portugueses: Hernâni [sic] Lopes diz que o país está a “definhar” e Vítor Bento que Portugal se deixou cair há uma década na “armadilha do empobrecimento relativo”.

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=407593

O próprio artigo do Jornal de Negócios já explica que a ideia de “morte lenta” já cá estava há muito tempo, só a metáfora é que é novidade.

Mas dizer “Portugal e a Grécia estão em dois extremos da Europa e as afinidades que existem entre as duas economias são nulas.” é chocante. O que é que a distância geográfica tem a ver com ter ou não afinidades nos problemas estruturais? Temos afinidades nos problemas, mas as agências de rating também não dizem que Grécia e Portugal são a mesma coisa. Que eu saiba os ratings dos dois países continuam a ser muito diferentes. Mas se a nossa – fraca – elite continua a achar que a única coisa que temos que fazer é gritar contra o mensageiro, então podemos aproximarmo-nos cada vez mais da Grécia.

Sem comentários: