sexta-feira, 28 de março de 2008

Banha da cobra clandestina de Sócrates

“Sócrates diz que descida do IVA é socialmente mais justa do que a do IRS”(…) “O IVA beneficiará todos, mesmo os cidadãos que não pagam IRS".

http://diarioeconomico.sapo.pt/edicion/diarioeconomico/nacional/economia/pt/desarrollo/1105362.html

Isto é duplamente ridículo. Em primeiro lugar, com as suspeitas crescentes de que muitas empresas não vão repercutir a descida do IVA nos preços, é pelo menos muito provável que parte da descida dos impostos não chegue a nenhum consumidor.

Em segundo lugar a descida do IVA beneficia os mais ricos, ainda que proporcionalmente menos. Uma descida do IRS poderia ser desenhada de forma a beneficiar mais os mais pobres. Imaginem o seguinte exemplo. Uma família com 500 euros de rendimento, que gaste 50% do rendimento em bens e serviços à taxa normal de IVA, gasta 250 euros e vai poupar (admitindo descida de imposto totalmente reflectida no preço) 2,07 €/mês, ou seja, 0,41% do rendimento. Outra família com 5 mil euros de rendimento, mas que só gasta 30% do rendimento em bens com IVA à taxa normal. Esta família gasta 1 500 euros e vai poupar 12,40 €/mês, seis vezes mais do que a primeira família. É verdade que a poupança da segunda família é apenas 0,25% do seu rendimento, enquanto na primeira é de 0,41%. Mas a poupança em euros é muito maior para os mais ricos.

Quanto a beneficiar mesmo os que não pagam IRS, muitos destes são beneficiários de outras prestações do Estado, poderiam receber por aí. Também não seria pior aproveitar a ocasião para acrescentar uma componente ao IRS, um escalão negativo (quando o rendimento está abaixo de certo montante, passa a receber um subsídio), que em muito poderia melhorar a distribuição do rendimento.

"Tomara eu poder já descer em dois por cento [a taxa máxima do] IVA", declarou José Sócrates em resposta a uma intervenção do vice-presidente da bancada socialista Afonso Candal.”

Mas que bela encenação, é mesmo uma espertalhice muito convincente. Acho que merece o Prémio Luís Miguel Cintra 2008.

"Aproveitando o período de resposta a perguntas formuladas pela bancada do PS, por duas vezes José Sócrates quis vincar a seguinte imagem: "os portugueses podem agora ter a certeza que, em matéria de contas públicas, a casa agora está em ordem".

Deixem-me rir. Com um défice de 2007 a apenas 4 décimas dos fatídicos 3%; com perspectivas económicas para 2008 piores do que para 2007, coisa que o governo insiste em ignorar; com uma redução do défice feita excessivamente com base em resultados extraordinários na receita (recuperação de dívidas passadas) e pouco do lado da despesa; com uma reforma da administração pública que não sai do adro e é torpedeada por providências cautelares a propósito de tudo e de nada; etc, etc.

a casa agora está em ordem”??? Isto é um sucedâneo de banha da cobra, de produção clandestina, sem o respeito de normas mínimas de higiene.

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