Para já, parece que esta subida de preços é temporária,
mas será necessário tomar medidas estruturais para que não se repita, pelo
menos com a intensidade actual.
A recente subida dos preços da energia coloca, pelo menos, seis
questões: 1) porque é que os preços do gás natural subiram? 2) porque é que os
preços da electricidade subiram? 3) qual a posição relativa de Portugal? 4)
esta subida é temporária? 5) quais as consequências desta subida? 6) quais as
respostas políticas recomendadas? Como é evidente, neste espaço, as respostas
terão que ser quase telegráficas.
1. Os preços da energia subiram por uma conjunção muito
significativa de factores adversos, de acordo com a Agência Internacional de
Energia: a recuperação forte da economia europeia depois de um Inverno longo e
frio, que reduziu as reservas de gás natural; restrições na oferta desta
matéria-prima, com interrupções não planeadas e operações prolongadas de manutenção;
eventos climáticos desfavoráveis à produção de fonte renovável.
2. Estima-se que, da excepcional subida dos preços
electricidade, 90% será explicada pela subida do preço do gás natural, a
componente crítica na produção daquele factor de produção, e 10% será devida à
subida do preço das licenças de CO2, que também foram influenciadas
pela escassez de gás, que forçou à sua substituição por carvão.
3. Não há grandes diferenças entre o preço que Portugal paga
pelo gás natural e o que se verifica no resto da Europa. Em relação à
electricidade, em Setembro, o preço era o 2º mais elevado da Europa
continental, cerca de 15% acima da média, devido a problemas excepcionais na
produção de renováveis.
4. Os mercados de futuros de gás natural, onde se definem os
preços previstos para os próximos meses, indicam que deverá haver uma
substancial redução de preços no início de 2022, mais nítido a partir do 2º trimestre,
correspondendo a uma quase normalização. Ou seja, com a informação actualmente
disponível, espera-se que estes aumentos sejam temporários, durando menos de
seis meses. Mas é preciso salientar que podemos voltar a ter um Inverno severo;
as interrupções na produção de gás natural podem regressar; a “arma” da energia
poderá ser usada com intuitos geopolíticos; etc.
5. A subida dos preços da energia ocorreu cerca de um ano
depois da pandemia, tendo sido recebido por um tecido económico já fragilizado.
As empresas mais dependentes de energia foram as mais afectadas, havendo riscos
de consolidação nos sectores com excesso de capacidade, deixando como vítimas
as que estavam em posição mais vulnerável. Em geral, deverá haver uma
aceleração da inflação, mas, por se esperar que o fenómeno seja temporário, não
deverá ter um impacto directo na política monetária.
6. Em relação às medidas conjunturais, deve-se ajudar as
empresas a enfrentar este desafio, sobretudo por ocorrer após as dificuldades
muito atípicas do COVID. Há queixas fundamentadas de que o governo português
apoiou relativamente menos as empresas nacionais, colocando-as em desvantagem
competitiva. Em termos estruturais, conviria que a UE se empenhasse na criação
de um mercado único de electricidade, fortalecendo as ligações com a Península
Ibérica, mas evitar as actuais disparidades de preços. Também se tem referido a
necessidade de aumentar as reservas estratégicas de gás. Mais genericamente,
tem que se fazer muito mais para a transição energética, sob pena de aumentos
recorrentes de preços diminuírem a sua exequibilidade política.
[Publicado no Jornal Económico]