Sem uma clara melhoria da qualidade das instituições portuguesas, públicas e privadas, Portugal continuará a caminhar para o último lugar na Europa.
Um dos problemas mais evidentes, mais graves – e mais
esquecidos – de Portugal é a estagnação económica das duas últimas décadas.
Esta questão é evidente, porque o nosso país tem sido
sucessivamente ultrapassado pelos países do Alargamento, caminhando para a
última posição da UE, eventualmente adiada pela entrada de Estados ainda mais
pobres.
É muito grave, porque daqui resultam alguns dos mais
importantes bloqueios: a estagnação dos salários e do nível de vida; as
dificuldades nas finanças públicas e as decorrentes “austeridade” ou “rigor”,
consoante o partido no poder; a carga fiscal excessiva, especialmente sobre
vencimentos modestos; etc., etc., etc.
Sublinho que está “esquecido” porque, como expliquei em “Uma
confissão antecipada de fracasso”, o governo propõe-se gastar os fundos
extraordinários do PRR sem que preveja que isso produza qualquer melhoria
visível no nosso potencial de crescimento, que é baixíssimo.
Este tema importantíssimo é também ignorado e/ou
desvalorizado pela oposição, que se dispersa por irrelevâncias.
Já se percebeu, há muito, que o actual governo foge de fazer
(boas) reformas económicas como o diabo da cruz. As raras que fizeram ou que se
propõem fazer mais valia que não o fizessem.
Mas, fora do campo (estritamente) económico, seria de
esperar empenho na melhoria da qualidade das instituições, única forma de nos
aproximarmos da “Europa”. Em vez disso, vemos que Portugal deixou de ser uma “democracia
plena”, em 2019, para passar a “democracia com falhas”, em 2020, de acordo com
o Índice de Democracia, da revista The Economist.
A calamidade instalada na justiça é encarada como “normal”, sobre
a qual se lançam algumas “reformas” cosméticas, repetidas há décadas, com base
em maus diagnósticos e com resultados risíveis se não fossem dramáticos.
O combate à corrupção é o desastre que se vem tornando cada
vez mais público, com o caso emblemático de Sócrates, em que, ainda antes de ir
a julgamento, mais de metade dos crimes já prescreveram.
O assalto da administração pública por “boys” cada vez mais
incompetentes, realizado com descaramento crescente, é recebido por um silêncio
inexplicável da oposição, da comunicação social e do público em geral.
A nova lei de censura, a pretexto do digital, foi aprovada
por larga maioria sem um único voto contra.
Depois, da vergonha que foi a gestão do caso do Sporting,
tivemos, poucas semanas depois, a repetição escandalosa do mesmo na Champions,
também sem consequências.
Será que o PR, o governo, a oposição e os portugueses não
percebem que a bandalheira, para além de ser civicamente degradante, é a
estrada que conduz directamente à pobreza?
[Publicado no Jornal Económico]
Sem comentários:
Enviar um comentário