Num panorama apenas moderadamente positivo, Portugal
deverá destacar-se pela negativa, por três razões: pela debilidade e erros nas
finanças públicas; pela exposição a Espanha; e pelo peso do turismo.
Os pontos altos políticos (previsíveis) de 2021 deverão ser
a tomada de posse do novo presidente dos EUA (a 20 de Janeiro) e as eleições
legislativas alemãs (a 24 de Outubro), que deverão colocar um ponto final no
longo consulado de Angela Merkel.
Em termos da pandemia em curso, ainda no final de 2020 foi
conhecida uma variante do vírus, aparentemente mais contagiosa do que a versão
conhecida, podendo novas estirpes surgir nos próximos meses. Para além disso,
os planos de vacinação deverão prosseguir em grande expansão, mas não é de excluir
que as limitações das novas vacinas se tornem palpáveis. É uma incógnita em que
medida reacções adversas poderão receber publicidade, acabando por limitar o
número de pessoas que se voluntaria para esta profilaxia.
Em termos económicos, quer nos EUA quer na zona euro, estão
previstos substanciais estímulos orçamentais e monetários, que deverão auxiliar
a recuperação. No caso da UE, haverá também lugar à despesa associada à
“bazuca” de fundos. Mesmo assim, só deveremos assistir a uma retoma parcial da recessão
de 2020.
Os sectores dos serviços e o do turismo em particular são
aqueles que deverão ter maior dificuldade em recuperar, porque a sua quebra não
resulta das razões habituais de quebra de procura durante as recessões (mas
antes de medo de contágio), pelo que também terão menores condições de
beneficiar das políticas que ajudam a economia.
Neste panorama, apenas moderadamente positivo, Portugal
deverá destacar-se pela negativa, por três razões. Em primeiro lugar, porque as
finanças públicas enfrentam a pandemia a partir de uma posição de fragilidade,
decorrente dos erros que nos conduziram à “troika”, em 2011, e de escolhas
bizarras posteriores, de que se destaca a semana das 35 horas, para a qual não
temos nem economia nem contas públicas que a permitam.
Tal como no resto da UE, Portugal deverá beneficiar dos
fundos europeus previstos, mas a falta de margem orçamental para os alavancar
com fundos nacionais deverá limitar, em muito, o seu alcance. Para além de
corrermos o risco elevado de os desperdiçarmos em projectos que apenas
estimulam a economia no curto prazo e não aumentam o potencial de crescimento
de médio e longo prazo.
Em segundo lugar, porque o nosso principal parceiro
comercial, Espanha, teve uma das maiores recessões da zona euro e deverá ter
uma retoma limitada.
Em terceiro lugar, porque o turismo ganhou um peso
assinalável na economia nacional. Mesmo na previsão mais optimista, o próximo
Verão ficará ainda abaixo do normal e é possível que ocorram vários problemas:
que os mercados emissores não recuperem a confiança nas viagens; a incógnita
dos desenvolvimentos pós-Brexit, cujo impacto sobre a cotação da libra poderá
também dissuadir um dos nossos principais clientes; o plano de vacinas
português poderá atrasar-se e poderá afastar turistas.
[Publicado no Jornal Económico]
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