As grandes superfícies
têm sido uma válvula de escape na pressão para aumentar a poupança, sendo
urgente voltar a desconfinar livros, vestuário e outros bens.
Em Portugal, cometeu-se o grave erro de minimizar a
monitorização das cadeias de contágio do COVID-19, o que tem conduzido à
adopção de medidas cegas, porque se prescindiu de investir em ter informação
para fazer melhor.
Estas medidas cegas têm maximizado os estragos económicos, sem
produzir resultados sanitários satisfatórios. Em alguns casos, as medidas
parecem mesmo ser pior do que cegas, sendo praticamente impossível de
descortinar algum laivo de racionalidade.
Em Portugal, estas características são ainda agravadas pelo
débil estado das nossas finanças públicas. Um país como a Alemanha, pode-se dar
ao luxo de tomar medidas profundamente danosas para a actividade económica (não
estou a dizer que o tenham feito, mas apenas que o poderiam fazer), porque tem
margem orçamental para compensar esses danos e tem-na usado.
Portugal não tem, nem de longe nem de perto, a possibilidade
de compensar os prejuízos económicos do combate à pandemia, mas nem a curta
margem tem usado: em 2020, nem sequer foi usada a despesa autorizada pela AR no
orçamento aprovado ANTES da pandemia, quanto mais do volume superior previsto
no orçamento rectificativo. Em suma, se há grande dificuldade em contrariar as
medidas de contenção da crise sanitária, era muito importante que estas medidas
fossem objecto da mais criteriosa selecção para que os seus danos fossem
mínimos.
Voltando a falar da adopção de medidas cegas, tem também que
se sublinhar que elas também se têm caracterizado pela sua definição burocrática:
são feitas para que a sua fiscalização exija os critérios mais fáceis em vez de
escolher os mais lógicos. As restrições à actividade não deveriam ser definidas
com base no sector, mas antes no seu risco sanitário. Porque é que os
cabeleireiros individuais estão proibidos de trabalhar, mesmo com um único
cliente, quando os transportes públicos andam lotados?
Uma novidade das mais bizarras, decidida no último
confinamento, foi a proibição de venda de vestuário, livros e outros bens nas
grandes superfícies, sem qualquer razão sanitária, mas porque as pequenas lojas
destes artigos foram encerradas. Com uma pretensa ideia de justiça,
prejudicam-se todos, mas não apenas a distribuição, mas também a produção. Qual
a lógica de alargar os estragos à indústria e à cultura?
Há um problema adicional com esta decisão absurda: estamos a
agravar a recessão, porque estamos em pleno “paradoxo da poupança”. Numa
recessão, quando se tenta poupar, agrava-se a recessão. Nos últimos trimestres,
temos assistido a um aumento da taxa de poupança das famílias, porque estão
impedidas de realizar as suas despesas normais. No entanto, as vendas nas
grandes superfícies têm estado a subir, tendo constituído um escape,
provavelmente devido à chamada “compra por impulso”, que tem impedido a taxa de
poupança de subir ainda mais. Com esta nova proibição, é possível que se agrave
a queda da economia, cujas consequências no desemprego têm estado, até agora,
adiadas, mas que deverão manifestar-se dentro de algum tempo.
[Publicado no Jornal Económico]
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