sexta-feira, 14 de maio de 2010

Tipos de atitude face à crise

A) Os que ainda estão em negação ao ponto de dizerem que não se deve cortar despesa pública ou aumentar impostos porque isso afunda a economia. São pessoas que acham que não deviam existir mercados financeiros e agem como se eles não existissem.

Eles não percebem que não reduzir o défice faz aumentar as taxas de juro de tal maneira que afunda completamente a economia e faz disparar o desemprego.

Recusam-se terminantemente a lidar com a realidade.

São a esquerda radical, mas têm também economistas com responsabilidades, tais como (pasme-se!) o bastonário da Ordem dos Economistas, Murteira Nabo.

B) Reconhecem a existência do problema dos juros, mas consideram que o problema é europeu e não português e, por conseguinte, é a Europa (leia-se a Alemanha) que deve pagar a factura.

Ignoram os nossos problemas estruturais, alguns dos quais duram há mais de uma década: a perda de competitividade, o potencial de crescimento baixíssimo, o descontrole orçamental.

É como se Portugal tivesse tido o extremo azar de ser apanhado pelo turbilhão da crise sem que tivéssemos um átomo de responsabilidade nos problemas que nos atormentam.

Temos aqui muitas pessoas já não tão radicais, mas que têm uma enorme dificuldade em lidar com o conceito de “responsabilidade”.

C) Os que julgam que os nossos problemas são exclusivamente orçamentais. Estes já reconhecem parte da realidade, mas parecem ignorar a outra parte.

Com estes (Teixeira dos Santos, entre outros) corremos o sério risco de chegarmos a 2013 com o problema orçamental semi-resolvido, com um défice abaixo dos 3% do PIB, mas com todos os outros problemas intactos.

Considero este como um dos cenários mais frustrantes: chegarmos a 2013 com o problema das contas públicas aparentemente resolvido, mas com os mercados então a virarem-se para o problema da dívida externa. Portugal e os portugueses de rastos a julgarem que chegou o tempo de respirarem de alívio e os mercados a exigirem a resolução do problema do défice externo, que ficou esquecido durante quatro anos. Aí teremos os portugueses desesperados a julgarem que o tempo dos sacrifícios terminou e os mercados a exigirem novas e duríssimas medidas para resolver um problema que ficou esquecido.

Isto dito, duvido muito seriamente que os mercados esperem até 2013 para fazerem soar as campainhas de alarme sobre a nossa dívida externa, que está numa trajectória explosiva há quinze anos.

D) Os poucos (mas bons) que parecem compreender a seriedade do buraco em que estamos, incluindo praticamente todos os ex-ministros das Finanças que se reuniram recentemente com o PR.

3 comentários:

Anónimo disse...

Por que é que o Ministério liderado pela Dra Ferreira Leite não tomou qualquer medida destinada a controlar a despesa de forma estrutural?

É que em dois anos não houve UMA única medida...

tínhamos poupado 7 anos de disparates (com o cúmulo daquele arremedo de PM chamado Santana Flopes)

ricardo disse...

Os ex ministros não deveriam ter ido a Belém, deviam ter ido a Paris falar com o nosso presidente Sarkozy.

Pedro Braz Teixeira disse...

O caro anónimo tem uma lógica um pouco peculiar. Como é que uma medida estrutural pode impedir os governos seguintes de cometerem erros?
Não me diga que se essa tal medida tivesse sido tomado, neste momento o governo já não assinaria a auto-estrada do Pinhal Interior?