Estamos numa encruzilhada, com muitos caminhos possíveis e que os historiadores futuros poderão dizer que era óbvio o caminho que vai ser seguido, mas aqui, no meio de todo este turbilhão, é muito difícil ter essa clarividência.
Cenário A) Após mais um pico de pressão dos mercados, os alemães dão um murro na mesa e decidem abandonar o euro. A França fica com o bebé nos braços e agravam-se as tensões internas nesse país, dividido entre passar a pagar a factura mais elevada e o benefício de poder fazer a pose imperial. Dentro da diminuída zona do euro é todo um novo mundo de conflitos que se inicia.
Cenário B) A Alemanha não desiste já do euro, mas força a aprovação de um sem número de medidas que implicam a transferência de soberania dos estados nacionais para as instâncias comunitárias, para assegurar a solidez futura do euro. O Reino Unido rebela-se contra estas medidas e veta a sua aprovação. Após um desgaste brutal, a Alemanha percebe que não há formas de preservar a solidez do euro e retira-se do mesmo. Segue-se o cenário A, com a diferença que as relações dentro da UE estão muito mais deterioradas.
Cenário C) Uma variante do cenário B, em que a Alemanha, consciente da oposição do Reino Unido, retira o euro da UE, passando tudo o que lhe diz respeito a funcionar em tratados separados. A unidade da UE, uma vez quebrada a propósito do euro, começa a cindir-se nos mais variados assuntos, passando a um agrupamento “deslaçado”, vigorando crescentemente uma Europa “à la carte”. A zona do euro passa a ser um protectorado alemão e as crescentes tensões que isso gera levam a Alemanha a sair do euro. Passa-se ao cenário A, mas com muitas mais fragilidades do que as pressupostas no cenário B.
Cenário D) As garantias dos Estados nacionais aos seus bancos, mais as garantias dadas aos outros Estados membros são accionadas, revelando-se em todo o seu esplendor todo o carácter “subprime” deste sistema. Ver aqui:
http://www.ft.com/cms/s/0/7b62ac7c-6698-11df-aeb1-00144feab49a.html
e aqui:
http://ftalphaville.ft.com/blog/2010/05/21/239696/a-collateralised-eurozone-debt-obligation/
Cenário E) You name it.
5 comentários:
Pedro Brás Teixeira
Bom post, mas um pouco bidimensional.
Se juntar - na saída do Euro- à Alemanha, a Finlândia, Luxemburgo e as promessas de aderir (ao Eurão no médio prazo), da Hungria e a Republica Checa fica com menos cenários.
Repare que será o cenário plausível: dois euros: o Eurão e o Eurinho, o primeiro com um valor 25/30% superior ao segundo.
A saida dos membros do Eurão, evita a corrida aos bancos;
Permite que os membros do Eurinho possam desvalorizar a moeda;
Torna possível as aplicações dos excedentes dos membros do Eurão, sem os problemas legais que hoje existem: deixa de ser empréstimo passa a ser compra de dívida;
Nem sequer é necessário mudar a moeda, porque a emissão do actual euro está registada, basta aplicar uma taxa diferente....
Cumprimentos
joão
Obrigado.
Já tinha escrito sobre algo semelhante aqui:
http://pbteixeira.blogspot.com/2010/04/dividir-o-erro-em-dois.html
Se a Alemanha sair do euro levará a França consigo.
Os franceses não têm escolha, embora gostem de se pôr em bicos de pés.
Pedro Brás Teixeira
Não conhecia o seu artigo e fui lê-lo.
A questão deve ser colocada juntando os dois post, este o que menciona. Isto porque existem três níveis de análise do problema e estes níveis são simultâneos. Daí que, em Portugal e na Europa o tema seja mal tratado....
Veja:
A saída da Alemanha do Euro para o Eurão é mais fácil de controlar do que se fosse a Grécia.
No plano puramente prático, controla-se pior as retiradas de dinheiro que as entradas; (no caso alemão, basta impor- por exemplo- um tecto de depósito aos clientes não residentes); o principal problema reside na moeda metálica que não é detectável pelas máquinas existentes; um tal cenário poderia valorizar o dólar, mas isso, apenas favorece o Eurinho;
Para os membros do Eurão, o problema reside na valorização da moeda; existe um estudo de um dos think tanks alemães que concluiu ser a taxa de câmbio €/USD$ de 1.55o limite máximo para a sustentabilidade do modelo alemão. Assim, os excedentes seriam, primariamente e necessariamente aplicados em dívida dos membros do Eurinho ou em compra de activos, ao mesmo tempo que o Eurão, mais caro, ajudaria a equilibrar os actuais desquilíbrios (passe o pleonasmo)e a corrigir o consumo dos membros do Eurinho.
Recordo-lhe que muitos alemães, quando vão às máquinas ATM, verificam onde foi emitida a nota e se, esta não tiver a letra X (Alemanha), vão ao banco trocá-la por uma que tenha o X......
Neste primeiro nível o problema são os desiquilíbrios de competitivdade entre os membros do euro, acrescidos do problema da dívida; este "esquema" é uma solução e quiçás, a mais barata de todas
No segundo nível o que se joga é determinar se vamos para uma verdadeira união e, indo para casamento, qual o modelo. Na Europa, existem dois exemplos de união bem sucedidos: Itália e Alemanha; não conheço o caso italiano, no caso alemão, a união foi obtida impondo aos restantes estados o modelo prussiano de estado; no fundo, esta é a estratégia e a proposta da Alemanha; e é congruente com um Eurão e um Eurinho;
O último plano e que é, em parte o que aflora neste post, é o geopolítico; o grande jogo nunca deixou de ser jogado e, neste plano, o movimento alemão mais não é que a continuação do grande desígnio de Bismark a Hitler. Vamos ver o como é que vão, a França e o Reino Unido, agir. Na certeza que, desta vez, a Alemanha não vai, apenas, assinar o cheque e recuperar metade, do que pagou; a Alemnaha quer um papel e um modelo que lhe convenha.
Por isso é que a Alemanha a sair e quando sair não sairá sózinha.
Vamos aguardar para perceber em primeiro lugar, se o nosso governo e as elites perceberam o alcançe do que está a suceder e, em segundo lugar, se vão escolher a estratégia certa.
Cumprimentos
joão
Muito obrigado João pelos seus comentários.
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