A saída da Alemanha do
euro não garantirá a sobrevivência desta moeda, será apenas a forma menos
dolorosa de a desagregar
George Soros, o especulador financeiro tornado filantropo,
veio sugerir recentemente (9 de Abril, na Universidade Goethe, em Frankfurt)
que a Alemanha deve escolher entre aceitar a criação de euroobrigações ou sair
do euro.
Logo surgiram em Portugal vozes entusiásticas, preferindo
claramente a segunda opção, já que a primeira parece quase impossível. Na sua
candura, pensarão que a saída da Alemanha nos libertará do jugo a que temos
estado submetidos e que teremos a total liberdade de gerar todas as soluções
possíveis e imaginárias para o euro.
Antes de mais, é preciso dizer que a ideia da saída da
Alemanha do euro está longe de ser mirabolante, tendo já gerado a criação de um
novo partido político neste país, Alternativa para a Alemanha, com dirigentes
muito prestigiados, que defendem a abolição do euro. Segundo as sondagens,
cerca de um quarto dos eleitores poderá votar num partido que defenda a saída
do país da zona do euro.
Em seguida, é preciso dizer que a saída da Alemanha é a
solução ideal para o fim do euro. Ao retirar-se, este Estado assumiria
automaticamente muitas perdas devido à forte apreciação do novo marco alemão
face a um euro muito enfraquecido. A depreciação do euro resolveria os
problemas de competitividade dos países periféricos e o retorno às suas moedas
nacionais poderia fazer-se sem grandes rupturas.
Porque é que a saída da Alemanha não ajuda à sobrevivência
do euro? É que se se colocasse a França a fazer o actual papel da Alemanha, de
grande contribuinte, a França comportar-se-ia de forma muito semelhante à
Alemanha.
Pode-se dizer que a França é diferente da Alemanha, pelo que
agiria de forma diferente. Em primeiro lugar, gostaria de relembrar os sonhos
imperiais napoleónicos e, nessa linha, a atitude de grande prepotência que este
Estado tem tido ao longo da construção europeia.
Em segundo lugar, gostaria de chamar a atenção que a
Alemanha sempre se mostrou extremamente disponível para pagar as mais variadas
facturas, devido à sua má consciência pelas duas guerras em que mergulhou a
Europa, em especial a segunda, pelos excessos então cometidos.
Em contrapartida, a França sempre tentou limitar a sua
contribuição líquida para o orçamento comunitário, tendo impedido até hoje uma
reforma racional na Política Agrícola Comum (PAC), da qual beneficia de forma
despudorada.
Ou seja, seria deixar de ter como contribuintes, para os
problemas do euro, aqueles que já estão mais habituados, para passar a depender
de um país que não está habituado e onde o clima político não é de todo
favorável a isso. Imagine-se o sucesso que o Front National, de Marine Le Pen,
teria ao opor-se a que França contribua para os estrangeiros…
Após a saída da Alemanha, com esse exemplo e essa desculpa,
a França também sairia muito rapidamente do euro. E, após a saída deste Estado,
teríamos saídas sucessivas de outros países, degradando progressivamente a
qualidade desta moeda, que gerariam novas saídas até à desagregação final do
euro.
No limite, até se poderia dar a ironia de a Grécia ficar
sozinha no euro.
Que não haja grandes ilusões: a saída da Alemanha do euro
nunca será uma solução para a sobrevivência do euro, mas pode ser o primeiro
passo para a melhor forma de acabar com a crise do euro, que é acabar com esta
moeda.
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