sexta-feira, 24 de maio de 2013

Fim negociado do euro

O fim negociado do euro seria um mal menor, mas muito difícil de concretizar

O fim do euro poderá ocorrer de forma negociada ou caótica. O fim negociado poderia acontecer mais facilmente com a saída da Alemanha ou com o acordo rápido e generalizado de todos.

Como é fácil de imaginar, o fim caótico do euro é a pior hipótese possível, mas também, infelizmente, a mais provável.

Porque é que o fim caótico é a hipótese mais provável? O fim organizado do euro, podendo limitar os danos, será sempre muito traumático. Como convencer os eleitorados que uma catástrofe observada é menos má do que uma catástrofe – muito pior – não observada? Como poderá a maioria dos eleitores acreditar que o desastre que estão a viver foi criado para evitar um mal maior? Que líderes políticos se mostrarão disponíveis para o suicídio público? Repare-se que não estou a dar razão aos eleitores, mas apenas a enunciar o paradoxo político que muitos dirigentes políticos europeus deverão estar a viver.
Para além disto, o fim negociado do euro tem graves problemas logísticos. Imaginemos que, por hipótese, a chanceler alemã dizia oficialmente que queria começar a negociar o fim do euro, colocando mesmo um prazo de apenas três meses para concluir as negociações.

Três meses é um prazo muito curto para chegar a acordo sobre as condições de fim ordenado do euro e, sobretudo, para tratar de todas as questões logísticas, desde a impressão das novas notas nacionais, até à preparação de todos os sistemas de pagamentos para a nova realidade.

No entanto, em termos dos mercados financeiros, especializados em antecipar (bem ou mal) o futuro, três meses é uma eternidade. Mesmo antes de conhecer os exactos contornos da solução final, os mercados antecipariam níveis muito elevados de incumprimento da dívida pública dos países “fracos”, que seria “despejada” a qualquer preço, com uma enorme escassez de compradores. Os preços destas obrigações cairiam drasticamente, com a correspondente subida das taxas de juro, tornando proibitivo o acesso ao mercado de todos estes países.

Mesmo as famílias e empresas dos países fracos participariam neste movimento, ao lançarem-se numa desesperada fuga de depósitos para outros países, na tentativa de evitar as perdas drásticas que sofreriam se os mantivessem nos bancos locais.

Em suma, a mera ventilação da ideia de fim negociado do euro deverá colocar em marcha uma sucessão de eventos tão fortes e drásticos, que poderão, com elevada probabilidade, impedir a sua concretização, antecipando antes um fim caótico do euro.

Quer isto dizer que o fim negociado do euro é uma hipótese impossível? Não propriamente, embora a sua concretização se tenha que fazer num intervalo muito estreito.

O primeiro problema consiste nas doses maciças de negação, intelectual e psicológica, sobre os gravíssimos problemas de sustentabilidade do euro, que recomendariam a criação do fim negociado, em vez de esperar pelo fim caótico, que deverá ser imposto pela realidade.

O segundo problema é o da liderança do processo, que, idealmente, deveria ser assumido pela Alemanha. No entanto, este Estado ficaria com uma culpa tão grande – completamente injusta – de destruir o euro, acarretando um custo político brutal, que deverá impedir os dirigentes deste país de liderar uma solução racional, que minimizaria os custos para todos.

Há também a hipótese de este movimento ser lançado por um país forte, mas menor, o que poderia salvar a Alemanha do opróbrio maior. Mesmo assim, a probabilidade de aquele país ser considerado um peão ao servido da Alemanha é elevadíssima.

Resta a possibilidade, já aqui referida, de ser a Alemanha a sair unilateralmente do euro, a solução verdadeiramente ideal.


Como comentário final, gostaria de acrescentar que todas estas diferentes soluções exigem um brutal trabalho de preparação nos bastidores, em total contradição com o discurso oficial da esmagadora maioria dos países. 

1 comentário:

Prata do Povo disse...

Pedro Braz Teixeira você é perentório em afirmar que o euro irá impludir porque não existe qualquer ambiente intitucional para reformar a moeda unificada europeia. Eu também estou de acordo que o momento do dialogo foi ultrapassado estamos num momento de confronto já tão acançado que já só se volta ao dialogo depois de grandes perdas para todos os lados. Mas vejamos o fim do euro resultaria numa crise europeia e mundial sem par... Sim já se deram muitas desuniões monetárias. ams ao contrário da união latina que se foi demonronando, esta demoronar-se-á com uma divida monstra, que também ela se demoronará...

Seja os custos, não são os custos individuis, mas civilizacionais. Por isso eu creio que o grémio europeu estaria desejoso de acabar com o euro de forma controlada e suave. Dai que a possibilidade de um país sair do euro de forma ordenada e negociada é muito maior do que se julga.

Pedro Braz Teixeira, o pior é que o tempo não abunda é urgente estudar o que acontece no Malawi e prever o que se pode fazer em Portugal para que tal não aconteca. Sugeri sempre que Portugal deve negociar com o Brasil uma linha de crédito para o fornecimento de produtos de primeira necessidade durante 6 meses e imundar o mercado tanto quanto os preços não subam acima dos 15%, em todos os produtos em que Portugal não sejam autocráticos.

O que aconteceu no Malawi em termos inflacionários, um país que tinha quase autocracia alimentar, teve a ver com a ideia de que iriam faltar produtos alimentares e os preço subiram de forma descontrolada apesar de não haver falta deles, mas havia uma causa psicológica, antes do "despego" da moeda do Malawi do dolar já havia falta de combustíveis e bens de consumo importados.

De resto concordo plenamente consigo, o voltar do escudo vai limpar muito sebo das ruas sujas da política.

Francisco Napoleão