sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Um pouco excessivo, não?

Noticia o Público de hoje, capa e p. 41, que Paulo Teixeira Pinto (PTP) se reformou (!) aos 47 anos, recebendo 10 milhões de euros à cabeça e um pensão vitalícia, paga pelo banco, de cerca de 35 mil euros por mês, em 14 prestações por ano. No total, o banco assume o conjunto destes compromissos, tendo o seu valor actualizado sido estimado em cerca de 22 milhões de euros.
Parece que os 10 milhões de euros se destinam a assegurar que PTP jamais volte a exercer funções em instituições bancárias concorrentes. Tendo em atenção a forma como lançou e geriu a OPA ao BPI, não parece que houvesse assim tantos concorrentes dispostos a pagar salários milionários por estes serviços. Uma coisa que sempre me delicia é quando uma empresa decide ir por um certo caminho e o mercado recebe essa decisão com uma estrepitosa queda das cotações. Um pouco mais à frente, essa decisão falha (como a corrida a uma privatização na Roménia) e o mercado saúda esse “fracasso”, com uma forte subida de cotações. É óbvia a mensagem que o mercado está a dar…
Agora cito de cor, mas o pretexto para uma reforma aos 47 anos parece ter sido por razões do foro psicológico, um pretexto que dá para tudo. Já agora como é que uma pessoa num dia é presidente do maior banco privado e no dia seguinte está incapaz do mais pequeno trabalho? Há aqui ainda outra pequena (ligeiríssima…) contradição. Se ele se reforma por manifesta incapacidade de voltar a trabalhar, qual a necessidade de lhe pagar uma indemnização para ele nunca mais trabalhar? Pois então ele não está reformado por incapacidade?
Há depois a questão “menor” dos valores envolvidos. Num período em que os resultados do banco vão ser substancialmente afectados pelos custos da OPA falhada sobre o BPI, não poderíamos falar de valores um pouco menores, que mostrassem um pouco mais de respeito pelos maltratados accionistas do BCP?
Para quem enchia a boca de valores éticos (não precisava de o fazer), também não fica lá muito bem, pois não?
Finalmente, a nabice de não saber fazer as coisas. Se as contas estão bem feitas, PTP poderia ter negociado receber os 22 milhões de euros à cabeça tal como o banco as escriturou. Depois comprava, um negócio privado que ninguém tinha que saber, a tal pensão vitalícia com 12 milhões de euros (de novo, parto do princípio que as contas estão bem feitas). Ao banco custava a mesma coisa. PTP receberia exactamente a mesma coisa e não tinha que passar pelo opróbio de uma reforma mal explicada. Aliás ainda recentemente apareceu nos jornais com extensa descrição de afazeres… Mas chama-se a isto não saber fazer as coisas. Falta de intuição política. Também necessária em outros lugares públicos, que não apenas na política.
A propósito, se PTP está apto para tantos afazeres, não será legítimo aos accionistas do BCP pedirem a suspensão da tal reforma por incapacidade?

4 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, caro senhor abelhudo, em relação à pergunta final apetece fazer outras:
- É esse o valor do silêncio de PTP? Em relação a quê?
- Porque não reclama Joe "argh!" McBerardo?
Depois, PTP parece estar a escapar entre os intervalos da chuva nesta borrasca...
Anónimo

Anónimo disse...

Esta situação de PPT é escandalosamente ofensiva no contexto que atravessamos neste País com salários de fome, baixas reformas, dificuldades de toda a ordem criadas por más governações sucessivas.
Tenha sido PPT empregado de uma empresa privada ( com muitos interesses certamente por parte do Estado ) o facto de se ter reformado por incapacidade aos 47 anos com 35000 Euros de reforma mensal só me faz recordar uma frase que um meu amigo dizia. "Portugal é a porta de África".
O Sr PPT com o seu sentido de oportunismo poderia candidatar-se agora, mesmo incapacitado para o trabalho , à liderança dum desses países africanos onde quem tem um olho acumula fortuna sobre fortuna

Anónimo disse...

Mas qual foi a junta médica que o Sr. Paulo Teixeiro Pinto se submeteu e que o declarou incapacitcado para o trabalho, de acordo com o que diz na alinea IV da sua carta ao Jornal Público?
Mas o sr PTP "vendia" saúde quando fez a OPA sobre o BPI!! E agora entra em reforma por incapacidade!?
Pergunto quais as qualidades humanas, profissionais, pessoais, de liderança, para que um individuo possa ter direito às regalias enunciadas.
Mas os resultados profissionais do Sr. PTP foram desastrosos.
Agora é este o prémio?
Insulto a qualquer trabalhador da função pública ou actividade privada

Anónimo disse...

Eu sempre preferi o Al Capone a qualquer senhor que faça leis a proibir o álcool ou os cigarros... Eu até não gostava das pernas de lycra verde do Robim dos Bosques, mas achava graça ele dar-se com proletas e roubar uns cobres a quem não lhe fazia assim tanta falta...
Mas dai a achar graça a um rapazolas de idade avançada que leva as esmolas quase todas da paróquia... Bolas!
Mas alguém acredita mesmo que uma pessoa valha tanto dinheiro? Se todos sabemos que não, quem é que se dispõe a esbanjar desta forma o que não lhe pertence? Ninguém. A não ser alguém com um motivo muito sério, para além de achar que há pessoas de muito valor.