Os Espírito Santo
podem estar a caminho de perder o banco que leva o seu nome
O Grupo Espírito Santo (GES), um dos maiores e, sobretudo,
dos mais influentes grupos económicos portugueses, parece estar em vias de
grandes transformações, que ainda estarão no adro.
Está marcada para 31 de Julho a assembleia-geral do BES, do
qual deverá sair a próxima administração. O BCE já está a colocar pressão sobre
o Banco de Portugal, para apressar todo este processo, pelo que se espera que
naquela data sejam escolhidos administradores já com a aprovação tácita do
nosso banco central. Esperemos que nenhum membro da família Espírito Santo
tenha assento nesse órgão e que as fantasias de criar um “conselho estratégico”
e de nomear um presidente sob quem impedem suspeitas graves sejam rapidamente
postas de lado.
Limpar o BES pode ser a parte mais fácil de todo este
processo, enquanto o esclarecimento da situação do GES se deva apresentar como
muito mais problemática e com consequências muito mais significativas.
Este grupo está excepcionalmente alavancado e detém um
conjunto vastíssimo de activos de forma extremamente indirecta, numa cascata
com seis níveis. Os Espírito Santo, no seu conjunto, deverão deter apenas cerca
de 6% do capital do BES, se se entrar em linha de conta com essa cascata.
Ao contrário dos Mello e dos Champalimaud, que se separaram
de forma relativamente pacífica, os Espírito Santo têm-se mantido unidos nos
negócios, apesar de já irem na quarta geração. Esta união dever-se-á, entre
outros factores, ao facto de o principal activo do grupo, o banco, ter o nome
da família, o que não ocorria nas outras duas famílias. No entanto, esta união
pode bem estar a chegar ao seu termo, por duas razões principais.
Em primeiro lugar, porque o nome Espírito Santo, outrora tão
prestigiado, passou a ser lepra, no – correcto – entendimento do Banco de Portugal.
Em segundo e importantíssimo lugar, porque pertencer ao GES deverá corresponder
a uma grave menos-valia.
Falta clarificar todas as contas das diferentes sociedades
em que o GES está envolvido, mas há fortes razões para temer que a empresa-mãe
do grupo tenha um património mínimo, senão mesmo negativo. Quando isto for
devidamente esclarecido, há fortes condições para conduzir ao desmantelamento
do grupo. Este rude golpe pode provocar as mais graves rixas familiares.
Há todas as condições para se instalar um ciclo vicioso
terrível. Todos estes problemas no GES e BES podem começar a afectar o negócio
do BES, agravando as perdas já verificadas nas cotações. Em contrapartida, isso
irá gerar problemas adicionais no GES, que gerará mais más notícias, que afectarão
de novo o BES, numa espiral negativa sem fim.
É muito provável que o GES venha a ser forçado a vender uma
parcela significativa do BES, para fazer face ao elevado endividamento do
grupo. Este seria um verdadeiro castigo de Deus. O BES, a par dos outros
bancos, é um grande responsável pela acumulação da gigantesca dívida externa
portuguesa. Como há muito foi avisado, esta dívida iria forçar o país a perder
centros de decisão. É muito provável que o GES seja forçado a vender o melhor
do seu património a investidores externos.
A recuperação do GES após as nacionalizações de 1975 foi
feita a partir do capital de confiança de que a família gozava. Agora, este
capital foi altamente danificado por tudo o que já se conhece é bem capaz de
ser totalmente destruído pelo que ainda falta saber. Se as perdas forem tão
significativas como se teme, será extremamente reerguer a capacidade financeira
da família. Assim, já não precisarão de brincar aos pobrezinhos…
Deixo para o fim o caso mais intrigante e potencialmente
mais letal: o BES Angola. Segundo o Expresso,
o BES Angola não sabe a quem emprestou 5,7 mil milhões de dólares. Para minha
enorme surpresa, esta extraordinária notícia foi praticamente silenciada na
imprensa portuguesa, não mereceu um reparo à CMVM nem ao Banco de Portugal.
Há ainda muitíssima coisa a clarificar e muitas contas a
liquidar, o que esperamos que seja feito em breve, sob pena de a falta de
transparência em todo este processo continuar a afugentar investidores.
[Publicado no jornal “i”]
1 comentário:
Fiquei com uma dúvida. Parece extremamente má notícia que a mais importante carteira de activos de dívida nacional possa sair do país e assim sair do controlo directo das instituições nacionais e colocar o país nas mãos do sindicato internacional que aos seus activos de credito sobre o país adicione esta valiosa carteira. Assim sendo é com extremos cuidado e cautela que se deve gerir a actual crise no BES. No texto parece que PBT gostaria de ver o BES na lama, saneado.
Face ao actual estado da banca nacional, quase toda com imensos vícios, a solução passa por semi-nacionalizar toda a banca de novo nas funções onde esta seja estratégica, mas isso só poderiria ser feito face ao desmoronamento do euro ou mesmo da degradação em escalada da UE.
LOGO sanear a moral do BES nesta altura não será estupidez pura e dura?
PORQUE não nos indagamos melhor quanto aos interesses que de há ano e meio procuram o BES como objectivo a abater?
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