António Costa iniciou a sua candidatura à liderança do PS da
pior forma possível. Começou por revelar uma estranha ignorância dos estatutos
do PS e, muito pior do que isso, uma profunda inconsciência da sua ignorância.
Pior do que políticos ignorantes, só mesmo políticos inconscientes desse facto,
que dispensam os conselhos de quem sabe. É de esperar os maiores estragos deste
tipo de políticos.
Em segundo lugar, aceitou participar num estranho processo
eleitoral, não previsto nos estatutos, do qual não sairá, pelo menos
directamente, um novo secretário-geral do PS. Muito mais grave do que isso,
aceitou um longuíssimo período eleitoral, que tem todas as condições para
denegrir ao máximo a imagem do PS junto do eleitorado.
Desenganem-se os que imaginam que só as eleições europeias
são de protesto, porque as legislativas de 2015 têm todas as condições para
maximizarem este tipo de voto. Não só o partido de Marinho Pinto tem –
infelizmente – excelentes condições para melhorar imenso a sua expressão
eleitoral, como há óptimas condições para a criação de novos partidos de
protesto, que deverão castigar duramente os partidos do “sistema”.
É altamente improvável que o PS consiga, no próximo ano,
qualquer tipo de votação próxima da maioria absoluta, pelo que deverá ser
forçado a coligar-se com, pelo menos, o PSD. O governo assim formado será
geneticamente muito frágil, que o PSD poderá derrubar a qualquer momento.
Quando António Costa, como tudo indica, for o próximo
primeiro-ministro de Portugal, existirão todas as condições para que seja uma
“reprise” do filme de Hollande, “sem as actrizes”, como diz Rui Ramos, com
fortes probabilidades de transformar o PS num novo PASOK, reduzido a uma
expressão eleitoral mínima.
O não reconhecimento dos graves erros do passado, a absoluta
ausência de ideias concretas de António Costa, acompanhada da sua fantasia de
propostas inconstitucionais perante o Tratado Orçamental, somada à pressão
externa da troika, que deverá
permanecer por largas décadas, deverão promover a maior contestação ao novo
governo. Parece que agora se lembrou de uma “terceira via”, a da “riqueza”.
Certamente que um dos primeiros actos do seu governo será decretar a descoberta
de petróleo no Beato…
Costa deverá cair muito mais nas sondagens do que Hollande,
porque há mais expectativas sobre ele e porque Portugal tem muito menos margem
de manobra do que, apesar de tudo, a França tem.
O PSD só terá que escolher a melhor altura para provocar
eleições antecipadas, para destruir, por completo, o PS. Mas também não se
ficará a rir, porque o regime está demasiado podre. A debilidade física, e não
só, de Cavaco Silva, só agravará o quadro político de calamidade.
Estão reunidas (quase) todas as condições para o fim do
regime. O que se seguirá é que é mais difícil de prever.
[Publicado
no Jornal de Negócios]
3 comentários:
Uma análise inteligente (como de costume). Mas existem algumas omissões e conclusões precipitadas.
Nem uma palavra sobre a boa gestão que António Costa tem realizado na Câmara de Lisboa, que já lhe valeu mais de 50% de votos nas Autárquicas.
É verdade que a "Hollandização" é um risco real. Mas é bem mais provável com o A.J. Seguro, que não tem experiência de governação (nem talento), do que com o A. Costa.
Ao contrário do que é dito, é o PSD que se pode tornar o "PASOK" português (25% nas últimas eleições). Terá, mais tarde ou mais cedo, de fazer um debate interno e responder com aquilo que tem de melhor. Rui Rio, por exemplo.
Luís O. Martins
Emocionalmente, de esquerda mas racionalmente cada vez mais de direita, não posso deixar de concordar com as suas palavras e interrogar-me: que esquerda e direita temos hoje e que mal fizemos para merecermos isto?
Olhar para as instituições que nos governam é outro desalento. Basta ler a excelente crónica de hoje do José Pacheco Pereira no Público para reforçar esse estado de espírito.
Que fazer? Acompanhar a vaga e emigrar de vez? No meu caso, vivenciei as palavras do António Variações (“Estou além”) e não o farei.
As eleições europeias, apesar de importantes, acabaram por ser, de certo modo, um jogo a feijões... Mas as legislativas, que parecem ir pelo mesmo caminho, são de tal forma importantes para o futuro do país, que constitui um verdadeiro desespero pensar em quem votar, dado o deserto de ideias, de exemplos e de vontades (sim, porque parece-me que o que se passa no PS vai ser mais do mesmo). O que afecta hoje muitas pessoas, para além dos aspectos mais marcadamente ligados à crise financeira, é a falta de esperança e de objectivos, combustível potente para a aceitação fácil de novos D. Sebastiões. Porém, a história tem mostrado que os populismos têm conduzido quase sempre a maus resultados.
Aqui chegados, gostaria se saber se vê alguma luz no túnel para este país.
Cara Maria,
Vejo luz depois do fim deste regime, com todo o seu pessoal político a sair de cena.
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