António Costa e os seus apoiantes têm-se vindo a
especializar em mandar “bocas” sobre as quais não reflectiram nem 10 segundos.
Começou com a própria candidatura, ignorando os estatutos, e
seguiu-se a descoberta da “riqueza”, uma versão adulterada de crescimento
económico, de que ainda ninguém se tinha lembrado. Supõe-se que tencionam
contratar o Pai Natal para alcançar essa tal “riqueza”.
A última ideia “genial” é que António Costa, devido à sua
experiência de consensos na CML, tem condições para formar uma maioria de
esquerda. Como se chegar a acordo sobre jardins e bibliotecas fosse o mesmo que
chegar a acordo sobre como se gere um país no euro.
O PCP tem sempre encarado o PS como inimigo e nunca aceitou
participar em qualquer governo com este partido desde 1976. Agora que os
comunistas defendem a saída do euro é que vão aceitar participar num governo
com o PS? Alguém reflectiu sobre isto 10 segundos?
O PCP defende a saída do euro, sobretudo por uma questão de
soberania. A tese deste partido é inteiramente correcta: a participação no euro
diminuiu fortemente a soberania nacional. Fora do euro, o foco das atenções é o
equilíbrio externo, que pode ser resolvido com uma medida técnica muito
potente, a desvalorização, recomendada e aplicada por uma instituição
essencialmente tecnocrática, o Banco de Portugal. No euro, o foco dos problemas
é o equilíbrio orçamental, uma questão eminentemente política, a ser decidida
pela mais política das instituições: o parlamento. Que ficou com os seus
poderes coarctados com o Tratado de Maastricht e com o Tratado Orçamental.
Como é que, algum dia, o PCP se irá submeter aos rigores do
Tratado Orçamental, com o qual discorda frontalmente, que obrigará –
necessariamente – a sacrificar o seu eleitorado natural, os trabalhadores do
sector público?
Olhamos para o resto da esquerda e o panorama não se altera
substancialmente. O BE, que está em queda livre eleitoral, exige o repúdio da
dívida pública, quando não mesmo a saída do euro. Como é que o BE pode estar no
governo sem afugentar todos os investidores? O Livre quer revogar o Tratado
Orçamental e restruturar a dívida. Como é que pode aceitar fazer parte de um
governo com o PS?
O governo que sair das eleições legislativas continuará
vigiado pela troika e será forçado a
aplicar o Tratado Orçamental, que exige continuadas reduções do défice
orçamental durante muitos anos ainda. Desenganem-se todos aqueles que imaginam
que uma – altamente improvável – revisão deste tratado poderá aliviar a pressão
sobre Portugal, que tem duas dívidas elevadíssimas: a pública e a externa. A
todos aqueles que anseiam por uma libertação por via da restruturação da
dívida, convém recordar que uma – muito eventual – restruturação trará sempre
condições draconianas de reforma da despesa pública e da economia, como o preço
a pagar por esse benefício.
De tudo isto resulta que os únicos parceiros razoáveis do PS
no governo, capazes de cumprir o Tratado Orçamental, são o PSD e o CDS. Qualquer
governo que acene com a possibilidade de não o cumprir verá, imediatamente, os
mercados a fecharem-se e será forçado a um segundo resgate da troika, que obrigará a cumprir aquele
tratado. Ou seja, de uma forma ou de outra, terá que o cumprir.
As taxas de juro de longo prazo estão excepcionalmente
baixas devido aos riscos de deflação na zona do euro, que, de acordo com as
previsões do BCE, já se terão dissipado em 2015. Por isso, é muito provável que
o próximo governo sofra vários sustos na relação com os mercados, sobretudo se
vier com asneiras do calibre que temos ouvido nas últimas semanas.
Será excessivo pedir ao PS que comece a dedicar alguns
minutos de reflexão às suas propostas? Ou querem-nos convencer que ainda vão
conseguir ser piores do que Passos Coelho e Paulo Portas?
Como nota final, gostava de sugerir que tomem notas de todas
as críticas que o PS vier a fazer à proposta de orçamento para 2015, porque
todas elas poderão ser usar contra a proposta de orçamento para 2016 que o novo
governo vier a apresentar.
2 comentários:
É exactamente o que eu penso. A maioria de esquerda não é nova e nunca pôde, que me lembre, ser capaz de proporcionar um governo de esquerda baseado nessa maioria a não ser do PS isolado. Agora mais do que nunca não vejo como seria um hipotético programa de governo baseado em qualquer combinação ou coligação do PS com qualquer dos outros partidos de esquerda. As incompatibilidades de pensamento e acção são inultrapassáveis. E historicamente nos países onde se criaram governos baseados nessas maiorias, tipo Frente Popular, os resultados foram desastrosos. Em Portugal, no caso que numericamente mais possibilidades teria de um governo de maioria PS+PCP, a ortodoxia dos nossos comunistas tornam a coisa ainda mais complicada. Como pode Alberto Martins evocar essa possibilidade ou António Costa pensar nela é coisa que me transcende.
Se o PS ganhar as eleições, com o Costa ou com o Seguro, vamos ter uma noite de folia na varanda do Altis, que acabará no dia seguinte quando tiver de fazer a viagem a Berlim para falar com a Chanceler e fazer a lavagem cerebral.
Na volta, já não virá na bagagem aquele furor social-porreirísta e a austeridade continuará.
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