Desde a última mexida no nosso rating pela S&P, que o governo apresentou um fraco orçamento, com um défice de 2009 muito estranhamente revisto em alta e um PEC também insuficiente, com graves lacunas no capítulo do “Crescimento”, um dos nossos maiores cancros. Para além disso, o PEC previa que a nossa dívida externa mantivesse a sua trajectória explosiva, sem abrandamento. Parece que os investidores na altura engoliram estes documentos.
Passado algum tempo, os investidores “caíram na real” e começaram a pedir taxas de juro cada vez mais elevadas para deter dívida pública portuguesa, em parte também por contágio dos problemas gregos. O que fez o governo? Deu explicações detalhadas sobre o estranho défice de 2009? Deu um impulso ao pacote de contenção orçamental em curso? Aprovou medidas adicionais, quanto mais não fosse para fazer face a perspectivas de despesas com juros mais elevados? Nada disso. Pôs-se aos berros. Imaginem lá que isso não tranquilizou os investidores…
A S&P foi agora acusada de ir atrás dos investidores e validar a desconfiança destes. É verdade que foi isso que fez, mas como poderia ter feito diferente? Se o governo não se disponibilizou para tranquilizar os mercados com medidas concretas, com que fundamentos é que a S&P poderia ir contra a avaliação dos investidores?
Por isso pergunto: será desta que o governo acorda para a necessidade de rever o PEC, com uma clara redução da meta orçamental para 2010?
Outra questão: a negação dos problemas que o governo tem exibido tem criado uma dissonância cognitiva na população, que se vai apercebendo de alguma coisa pela sua experiência quotidiana e pela comunicação social. Ao esconder a gravidade da situação e a urgência de medidas drásticas o governo está a criar um custo político adicional para a tomada de medidas. Se o governo adoptasse uma postura mais de crise, as pessoas perceberiam melhor e engoliriam melhor as medidas necessárias. Assim, teme-se que o governo e o país acabem por pagar uma factura mais elevada por tudo o que aí vem.
3 comentários:
Caro PBT,
Concordo inteiramente com o post.
Parabéns pela lucidez com que tem analisado a nossa triste situação no seu excelente blog e nos artigos no negocios.pt.
Mas, para além das finanças públicas que têm de ser saneadas, como fazer o deleveraging do sector privado? Em Portugal a dívida privada representa 159% do PIB, a mais alta da zona euro (a Grega representa "apenas" 85%)- ver artigo de W. Munchau no FT de 26/04).
Não é isto resultado de anos e anos de privatizações de monopólios a empresários do regime sem capital (finaciados pela nossa banca em conluio com o Governo?). E de investimentos de privados com financiamentos / garantias públicas? Talvez seja altura de acabar com o nosso capitalismo de Estado, partir os monopólios e vendê-los a investidores internacionais. Adeus "centros de decisão nacional" (ie monpólios privados protegidos pelo regime).
Como empresário que sempre apostou no mercado externo, sou favorável a mais competitivdade no nossso mercado. Precisamos de apostar mais na produção de Bens (e serviços) Transaccionáveis. E de ter menos pressões dos monopólios que nos inflaccionam os factores de produção. E fazem concorrência na captação de recursos nacionais (humanos e financeiros).
Qual a sua opinião?
dois comentários
a decisão da S&P não foi pelas razões que menciona, já que há um mês tinha reafirmado o rating
e perdemos uma oportunidade de ouro no tempo da dra Leite, que vendeu os dedos e não fez uma única reforma estrutural, que nos tinha ganho vários anos
Caro Borges, peço desculpa pelo atraso da resposta, que será muito sucinta.
Concordo plenamente com a necessidade de aumentar a concorrência em muito sectores não transaccionáveis, que aumentam os custos de produção dos restantes.
Quanto à dívida privada, uma parte significativa dela resulta do excesso de consumo e falta de poupança do Zé Povinho e não pode ser assacada aos "tubarões".
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