Há demasiadas ideias
demagógicas e eleitoralistas em circulação, benevolamente designadas como
“ideológicas” ou “opções políticas”, um branqueamento muito pernicioso, que
impede a sua denúncia.
Em Portugal, é muito frequente os partidos defenderem ideias
erradas, ignorantes, pouco inteligentes (para ser meigo), etc., etc. A isto
soma-se um grave problema: a maior parte das vezes a (ou alguma) comunicação
social e largos estratos da população (mesmo da mais informada) descreve essas
ideias como opções “ideológicas” ou “políticas”.
Esta descrição começa por ser extremamente preguiçosa, para
se transformar no branqueamento das ideias mais erradas. Mesmo as propostas
mais demagógicas, populistas e eleitoralistas são descritas como “políticas”. Em
vez de serem analisadas e denunciadas pela sua verdadeira natureza, são
desculpadas, como se aos partidos políticos fosse autorizada a defesa de
qualquer ideia, por mais perniciosa que ela seja.
Muitos partidos defendem a gratuidade de certos bens e serviços,
o que não passa de pura demagogia, vendendo uma ideia muito apelativa,
escondendo que esta custará muitos milhões aos contribuintes. Como é que
subsidiar todos, sobretudo os mais ricos, pode ser considerada uma opção
“ideológica” ou “política”? Isto não passa de demagogia em estado puro,
misturada com muita ignorância e má fé. Porque não se denuncia isto?
Vários partidos pretendem criar um apartheid entre sector
privado e sector público, criando
privilégios para os segundos a que os primeiros jamais poderão ter acesso. Pretendem
também maximizar a dimensão do sector público, mesmo que isso se faça à custa
dos serviços prestados à população. Neste caso, o que se pretende é satisfazer
uma clientela eleitoral. Isto não pode sequer ser definido como “cegueira ideológica”,
mas antes como puro eleitoralismo. Não estamos perante opções ideológicas, mas
perante uma caça ao voto.
Uma das coisas que o debate público mais precisa em Portugal
é de muito mais exigência. A oposição precisa de exigir mais ao governo: mais
explicações pelas escolhas, mais fiscalização e maior escrutínio dos
resultados.
Uma das coisas que mais me choca é que o meu mural no
Facebook, devidamente seleccionado, bem entendido, tem uma oposição muito mais acutilante,
exigente – e atempada – do que a realizada pelos partidos da oposição.
A comunicação social também precisa de fazer muito mais. Saúda-se
a – relativamente recente – preocupação com a verificação de factos, mas é necessário
que abranja muito mais temas e que seja mais consistente.
Mas são os eleitores em geral que precisam de ser muito mais
exigentes. Não é aceitável que o investimento que tem sido feito na educação ao
longo das últimas décadas não tenha resultado numa elevação da qualidade do
debate público.
Se as coisas estivessem a correr bem, ainda se aceitava a
actual situação. Mas é importante relembrar que Portugal
está a caminho de se tornar na quinta economia mais pobre da UE, fruto do
desastre das duas últimas décadas, pelo que não há qualquer tipo de justificação
para a demissão cívica a que se tem assistido.
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