terça-feira, 30 de dezembro de 2014

2015

É muito provável que a justiça continue a fazer estragos sobre a classe política durante o próximo ano, porque tudo indica que a remoção de elementos corruptos nas mais altas instâncias estão a permitir que deixe de haver “vacas sagradas”. É aliás muito provável que processos emperrados ganhem outro alento, passe o estranhíssimo final do processo dos submarinos.

Todos os partidos são potenciais vítimas disto, o que pode arrastar dúvidas sobre os resultados eleitorais até muito próximo das eleições. Apesar disto, o mais provável é o surgimento de um governo de bloco central, tão instável como a sua versão original, cujo fim poderá ser decretado pelo parceiro menor.

De resto, em termos económicos, os problemas maiores parecem ser externos. Desde o Verão que se assiste a uma sucessiva revisão em baixa das previsões de crescimento da zona do euro e tudo indica que deverão continuar.

Estamos a aproximarmo-nos perigosamente da armadilha da deflação, na qual, uma vez entrada, é muito difícil de escapar. É verdadeiramente chocante como, sendo os riscos de deflação muito mais fortes na zona do euro, seja aqui que a acção das autoridades seja menor. Não são só os riscos económicos, já suficientemente graves, mas os próprios riscos políticos. As economias mais frágeis desta zona são as mais endividadas e a deflação iria aumentar estas dívidas em termos reais. É altamente improvável que, dada a sua actual fragilidade, a zona do euro consiga sobreviver intacta a uma provação tão devastadora como uma deflação generalizada e persistente. Por seu turno, o fim do euro tem o potencial de destruir o mais importante legado do pós-guerra europeu.

Aliás, na Grécia, tem hoje lugar a terceira volta das eleições presidenciais que, se for inconclusiva, deverá conduzir a eleições antecipadas. Aí, a extrema-esquerda está a frente nas sondagens e aquilo que tem prometido indica um braço-de-ferro completamente provocador com os parceiros europeus. É demasiado temerário fazer previsões, mas é evidente que isto nos afectará.

Outro braço-de-ferro em curso, diz respeito à compra de dívida soberana pelo BCE, onde já se fala em serem os bancos centrais nacionais a comprarem (e ficarem com o risco) a dívida dos Estados respectivos, como forma de ultrapassar o actual impasse. Tudo isto equivale a estar a discutir como se deve prosseguir a operação no meio de uma cirurgia de coração aberto. É difícil ficar optimista sobre a zona do euro, no meio disto.

Para agravar o cenário, a actual queda dos preços do petróleo prepara-se para fazer mais mal do que bem, tendo todas as condições para iniciar um período de deflação na Europa. A grande dúvida é saber se poderá ser combatida antes de se tornar verdadeiramente perigosa. Isto sem falar no urso ferido em que a Rússia se transformará. Toda esta incerteza política pode bem agravar um cenário económico em degradação.


[Publicado no DiárioEconómico]

Sem comentários: