As declarações de Ricardo Salgado na Comissão Parlamentar de
Inquérito são uma tentativa – bastante ridícula – de fugir a assumir
responsabilidades, que não são senão suas.
Ao longo dos anos, o que Ricardo Salgado fez inclui-se,
geralmente, em dois tipos: erros e aldrabices.
Construir um grupo sem qualidades de monta, como o GES,
excessivamente endividado, foi um erro. Não ter vendido activos para reduzir o
endividamento, quando a crise de 2007-2008 chegou, foi outro erro. Ter
escondido parte das dívidas do GES foi uma aldrabice, que nenhum contabilista
faria por sua alta recreação.
Ter permitido que o BESA tivesse o dobro de empréstimos do
que tinha em depósitos foi um erro estratégico de proporções bíblicas. Ter
financiado este buraco gigantesco com fundos do BES foi já do domínio da pura
loucura. Qual é a lógica de um país exportador de petróleo e de capitais, como
Angola, importar capitais? Qual é a lógica – por amor de Deus! – de um dos
países mais endividados do mundo (importador de capitais), Portugal, exportar
capitais?
Não ter pedido ajuda ao Estado, quando todos os outros
bancos o fizeram, foi um erro, destinado a esconder a desonestidade da
contabilidade.
Ter pressionado Granadeiro (alguém imagina o contrário?) a
comprar dívida da Rioforte, foi simultaneamente um erro (ia desvalorizar a PT,
um activo importante do BES) e um acto sem lisura.
Ter feito triangulações de operações duvidosas com sucursais
estrangeiras, hoje sob investigação ou já falidas, nem necessita de
qualificação.
Ter colocado doses maciças de dívida de empresas falidas do
GES junto de clientes do BES como é que deverá ser avaliado?
Já na recta final, desobedecer às ordens expressas pelo
Banco de Portugal, foi o quê?
O GES e o BES foram escandalosamente mal geridos, com muita
incompetência e desonestidade. Dizer que o seu desmantelamento é uma perda para
o país é uma piada de mau gosto.
Com tudo o que se sabe hoje, é evidente e difícil de
explicar o atraso na intervenção do Banco de Portugal. Mas esta intervenção
nunca teria sido necessária se não fosse a gigantesca galeria de horrores que
se acumulou no BES.
Há quem defenda que havia alternativas ao mecanismo de
resolução adoptado, mas esta opção, com as deficiências que se foram
detectando, foi também ela fruto das circunstâncias.
Ricardo Salgado deixou o BES em tão mau estado e, pior
ainda, num estado tão nebuloso, que era impossível conseguir, rapidamente, qualquer
investidor disponível para entrar num buraco negro. Houve tão pouco tempo para
preparar uma solução, que era praticamente impossível que ela não apresentasse
falhas.
Como nota final, é de lamentar a coincidência entre Ricardo
Salgado, José Sócrates e António Costa, a tentarem desresponsabilizar-se. Mas
quem é que quer “líderes” destes?
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