Diria que há duas formas de estar na política: egocentrismo,
por um lado, e estar ao serviço, por outro.
Depois de ter escrito o que já escrevi contra o manifesto
dos 70 (aqui e aqui), gostaria de deixar claro que me parece razoavelmente provável
que o Estado português venha a ser obrigado a restruturar a sua dívida,
sobretudo quando Portugal sair do euro, como detalho no meu livro O fim do euro em Portugal?, cuja segunda
edição, actualizada e ampliada, deverá estar disponível no início de Abril.
Simplesmente, esta é a pior altura para estar a discutir
isto na praça pública, quando o Estado português está a caminho de passar a
depender quase exclusivamente do financiamento dos mercados. Relembro que não é
apenas o Estado que precisa dos mercados, são também os bancos e, através
deles, todas as empresas e famílias que necessitam de crédito. Dois meses antes
do fim do primeiro resgate da troika e
dois meses antes das eleições europeias é o pior momento para estar a levantar
esta questão.
Ao estarem a angariar o apoio de 74 economistas estrangeiros,
estão apenas a aumentar o estardalhaço e a criar o risco de aumentar a taxa de
juro a que teremos de nos financiar, o que é totalmente contrário aos
interesses do país. Se querem apoio externo, procurem-no – de forma discreta – junto
das principais instâncias da troika,
junto de quem devem ter conhecimentos, aquando da vossa passagem pelo governo.
Ao agirem como o estão a fazer, torna-se perfeitamente óbvio
que o manifesto dos 70 está dominado pelo egocentrismo e tem um mínimo de espírito
de serviço. É mais um flagrante exemplo do ditado “de boas intenções está o
inferno cheio”.
Sem comentários:
Enviar um comentário