quinta-feira, 20 de março de 2014

Egocentrismo vs. serviço

Diria que há duas formas de estar na política: egocentrismo, por um lado, e estar ao serviço, por outro.

Depois de ter escrito o que já escrevi contra o manifesto dos 70 (aqui e aqui), gostaria de deixar claro que me parece razoavelmente provável que o Estado português venha a ser obrigado a restruturar a sua dívida, sobretudo quando Portugal sair do euro, como detalho no meu livro O fim do euro em Portugal?, cuja segunda edição, actualizada e ampliada, deverá estar disponível no início de Abril.

Simplesmente, esta é a pior altura para estar a discutir isto na praça pública, quando o Estado português está a caminho de passar a depender quase exclusivamente do financiamento dos mercados. Relembro que não é apenas o Estado que precisa dos mercados, são também os bancos e, através deles, todas as empresas e famílias que necessitam de crédito. Dois meses antes do fim do primeiro resgate da troika e dois meses antes das eleições europeias é o pior momento para estar a levantar esta questão.

Ao estarem a angariar o apoio de 74 economistas estrangeiros, estão apenas a aumentar o estardalhaço e a criar o risco de aumentar a taxa de juro a que teremos de nos financiar, o que é totalmente contrário aos interesses do país. Se querem apoio externo, procurem-no – de forma discreta – junto das principais instâncias da troika, junto de quem devem ter conhecimentos, aquando da vossa passagem pelo governo.


Ao agirem como o estão a fazer, torna-se perfeitamente óbvio que o manifesto dos 70 está dominado pelo egocentrismo e tem um mínimo de espírito de serviço. É mais um flagrante exemplo do ditado “de boas intenções está o inferno cheio”.

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