Há muita gente com a esperança que as eleições alemãs de 22
de Setembro venham abrir caminho para todas as soluções para a crise do euro.
Sempre achei que, pelo contrário, a seguir a estas eleições assistiríamos a um
recrudescer dos problemas. Afinal, parece que as questões se vão exacerbar já
durante a campanha eleitoral.
O ministro das Finanças, Schäuble, veio avisar que a Grécia
vai precisar de um terceiro resgate, o que deverá assustar ainda mais os
eleitores alemães.
Steinbrück, líder do SPD, veio acusar Merkel de dizer que
não temos uma união de transferências, embora, sendo ele, esta união já exista.
Para todos aqueles que tinham a ilusão de que uma solução poderia vir do SPD,
desenganem-se. Mesmo que venha a coligar-se com Merkel, o SPD nunca será a
favor dos eurobonds ou de qualquer outra coisa que implique gastar dinheiro dos
contribuintes germânicos.
Entretanto, Merkel veio dissuadir de se falar de um perdão
parcial da dívida grega, porque isso iria assustar os investidores sobre as
dívidas dos países periféricos. Na verdade, dado que a maior parte da dívida
grega está nas mãos dos credores oficiais, quem a chanceler alemã tem medo de
perturbar, é o seu eleitorado.
Com o nível estratosférico a que se encontra, mais de 150%
do PIB, é praticamente inevitável haver um novo perdão da dívida pública grega.
Merkel só está a tentar adiar ao máximo o momento em que se venha a reconhecer
o incontornável.
Quando esse momento chegar, é bem possível que a Alemanha
sofra um Fukushima orçamental. Quando se deu o acidente na central nuclear
japonesa houve uma alteração radical na opinião pública alemã, que forçou o
governo a mudar também a sua opinião sobre a energia nuclear.
No momento em que o eleitorado alemão perceber que os
empréstimos que estão a ser concedidos aos países em dificuldades na zona do
euro, afinal não são bem empréstimos, é muito possível que forcem a uma
alteração radical do governo alemão (qualquer que ele seja) perante a crise do
euro.
Esperemos bem que a próxima avaliação de Portugal pela troika, que tem tudo para correr mal,
não seja a gota de água de um copo demasiado cheio. O livro que lancei há
praticamente um ano, O fim do euro em
Portugal? (Editora Actual, grupo Almedina), vaticinando o fim desta moeda
no nosso país, mantêm-se bem actual, com a excepção da previsão de que aquele
fim ocorreria até final de 2012. De resto, todas as fragilidades estruturais
mantêm-se praticamente intactas e os problemas conjunturais têm-se alastrado.
Alemanha está num dilema terrível e vai sair-se mal, seja
qual for o caminho que escolha. Se sair do euro, embora esse seja o cenário que
menor prejuízo traria para todos, será acusada de matar o euro. Se continuar a
recusar-se a aprovar as reformas essenciais para a sobrevivência do euro,
também será acusada de levar ao fim do euro. Como é evidente, o colapso do euro
trará não só consequências devastadoras em termos económicos (como detalho no
meu livro), mas também graves impactos políticos, ameaçando a sobrevivência da
UE.
[Publicado no Jornal de Negócios]
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