quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A responsabilidade dos sindicatos

A responsabilidade dos sindicatos na crise actual tem sido muito desvalorizada

A generalidade dos portugueses está muito zangada com a maioria dos políticos e seus partidos, devido à responsabilidade que se lhes atribui pelas dificuldades presentes. No entanto, há um outro grupo, dos sindicalistas e sindicatos que, embora não partilhando um quinhão equivalente nos problemas actuais, tem também responsabilidades não despiciendas na nossa actual encruzilhada. Apesar disso, têm permanecido quase incólumes no escrutínio público.

Como veremos, precisamos não apenas de reformar os partidos políticos, mas também de transformações profundas nos sindicatos.

Entendo que os sindicatos, em particular os do sector público, têm uma tripla responsabilidade pela crise, porque muitos dos problemas actuais decorrem de cedências de diversos governos a reivindicações sindicais.

A primeira responsabilidade, talvez a menor, por resultar mais de cumplicidade do que de pressão, prende-se com o excessivo crescimento do Estado em termos de pessoal. Os sindicatos ficaram muito contentes com a expansão do emprego público, uma forma de aumentar o número de trabalhadores sindicalizados, aumentando as receitas sindicais, não tendo tido a visão de perceber que estender este número arriscar-se-ia a colocar um travão nas regalias no sector público.

A segunda responsabilidade, esta claríssima, decorre de todo o tipo de reivindicações a que forçaram sucessivos governos, não só sobre as regalias dos trabalhadores do sector público, mas também dos seus reformados. Parte da má vontade actual contra a Administração Pública deve ser assacada aos sindicatos, que não perceberam que reivindicar aquilo que nunca poderia ser estendido a toda a população iria trazer problemas aos funcionários públicos na altura em que chegasse a factura.

A terceira responsabilidade prende-se com a despreocupação com a criação das condições materiais para o cumprimento de promessas governamentais, em particular a nível das pensões. Ao contrário das empresas privadas, o Estado não fez contribuições para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), cuja saúde financeira poderia hoje ser muito melhor.

As contribuições da entidade patronal são hoje de 23,75% do salário bruto nas empresas privadas, mas no caso do Estado esta contribuição teria que ser muito superior, nunca inferior a 50%, para poder financiar um sistema público muito mais generoso do que o privado.

Os sindicatos deveriam ter-se batido pela existência destas contribuições, porque só elas é que poderiam garantir que as generosas promessas para os reformados do sector público, feitas por diferentes governos, seriam cumpridas.

É evidente que se estas contribuições tivessem existido, nada teria tido a evolução que teve. Em primeiro lugar, o emprego público, sobretudo nas autarquias, jamais poderia ter crescido tanto como cresceu. Para além disso, os aumentos salários não poderiam ter sido tão fortes e não se poderiam ter negociado tabelas remuneratórias tão generosas.

Em suma, se os sindicatos tivessem tido uma atitude mais responsável e menos demagógica, não estaríamos hoje num buraco tão grande, como é aquele em que nos encontramos.

Mas os problemas trazidos ou acrescidos pelos sindicatos não se esgotam no plano das contas públicas. Eles estendem-se também à ética e à meritocracia. Quando os sindicatos se opõem à menor sanção disciplinar, estão a colocar-se do lado da minúscula minoria de maus trabalhadores. Quando se opõem à meritocracia e a uma verdadeira avaliação, estão a promover um clima de bandalheira, que cria incentivos perversos, que geram comportamentos deploráveis, que desprestigiam a generalidade da função pública.

Se os partidos políticos precisam de uma varridela de alto a baixo, os sindicatos também estão altamente necessitados de uma barrela generalizada.

[Publicado no jornal i]

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