Não é aceitável inventar desculpas para os problemas, em vez de propor soluções.
A economia portuguesa está estagnada há mais de duas
décadas, mas a tomada de consciência deste problema tardou imenso, continuando
a haver largos segmentos da população e do espectro político para quem isto não
é – ainda – suficientemente claro.
Há quem imagine que a questão já está resolvida e, quanto a
isso, saliento apenas dois factos recentes. Em primeiro lugar, as novas
previsões da Comissão Europeia, divulgadas este mês, indicam que, entre os 27
países da UE, Portugal terá o terceiro pior crescimento acumulado entre 2019 e
2023, apenas ligeiramente menos mau do que o de Espanha e Itália.
Já esta semana, o instituto europeu Brueghel divulgou um
estudo em que estima que Portugal possa vir a receber mais 11% de fundos para o
PRR, pelas piores razões: por ser dos países com uma das maiores perdas
acumuladas de PIB em 2020 e 2021. Não imagino como é que a propaganda irá
disfarçar isto, porque é totalmente falso que seja qualquer tipo de prémio.
Trata-se apenas de um apoio adicional, para auxiliar a recuperação da economia.
Se temos um grave – e antigo – problema de crescimento, é
fácil deduzir que o PRR deveria ter como foco principal ajudar a solucioná-lo,
mas não é nada disso que se passa. A versão portuguesa deste programa europeu
não passa dum amontoado de programazitos sem qualquer visão estratégica. Nem
sequer nas componentes digital e de alterações climáticas há uma visão
integrada e de longo prazo.
Infelizmente, uma das estratégias para (não) encarar a nossa
estagnação tem sido a sua negação. Em versão ainda pior, há quem se dedique a
coleccionar desculpas para os nossos maus resultados. Como se, quando há
problemas, o que se exigisse fosse encontrar umas justificações, como se isso nos
dispensasse de os resolver.
Ficou em último lugar na corrida? É verdade, mas isso foi
porque só treinou meia hora por dia; porque tinha trocado os ténis de corrida
por umas sandálias de praia; porque se tinha esquecido de levar água; porque
não ouviu o tiro de partida; etc., etc. Por isso, é muito natural ter ficado em
último e não há nada a criticar porque temos aqui uma lista muito completa das
razões desta classificação.
Um dos argumentos mais inaceitáveis para sermos
ultrapassados pelos países de Leste é que eles tinham um sistema de ensino
melhor do que o nosso no tempo do comunismo. A queda do muro de Berlim foi há
32 anos (!) e ainda continuamos a usar isso como desculpa? Mas isso não era
mais do que sabido? Não percebemos que passaríamos a ter uma concorrência muito
mais difícil? O que fizemos ao nosso sistema de ensino e de formação
profissional?
É altamente escandaloso que o IEFP continue a ser um
sorvedouro de milhões, de “formação” cujo único propósito é retirar
desempregados das estatísticas. O PRR apenas dedica 8% à formação e, mesmo
assim, mais de metade, para gastar em instalações. Queremos mesmo continuar a
ter apenas desculpas para os resultados dos erros inacreditáveis que – ainda
hoje – repetimos sem cessar?
[Publicado no Jornal Económico]
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