sexta-feira, 11 de março de 2022

Consequências económicas da guerra

As consequências principais da guerra deverão ser a subida da inflação e uma desaceleração do PIB, que, por enquanto, parece que será limitada, não obstante a elevada incerteza.

 

A invasão da Ucrânia pela Rússia veio gerar uma enorme perturbação mundial, a todos os níveis, e iremos tentar resumir as suas consequências económicas, com consciência das elevadíssimas limitações deste exercício.

 

Antes de mais temos as incertezas militares, a que se somam as respostas, sob a forma de sanções. Em seguida, haverá respostas económicas das autoridades para os próprios países e regiões, com destaque para os bancos centrais e talvez também orçamentais. Finalmente, teremos o resultado deste conjunto de efeitos sobre as variáveis económicas, concentrando a nossa atenção sobre a inflação e o PIB.

 

Sobre as incertezas militares, temos sobretudo perguntas: qual será a duração do conflito? até onde se expandirá, em termos geográficos?

 

As principais sanções decididas até ao momento terão sido financeiras, com limitações sobre alguns bancos russos, incluindo exclusão do SWIFT (sistema de pagamentos internacionais), e sobre o próprio Banco Central da Rússia, impedindo-o de usar as suas reservas internacionais.

 

É dos bancos centrais ocidentais que poderá vir a principal resposta, embora estes estejam numa posição especialmente delicada, já que os efeitos iniciais serão de subida de preços e de abrandamento da actividade. O primeiro efeito pediria um aumento das taxas de juro, enquanto o segundo requereria a decisão oposta. As reuniões de Março da Reserva Federal e do BCE deverão lançar luz sobre este dilema, havendo alguma expectativa de que prevaleça o impacto sobre o PIB, conduzindo a um adiamento do calendário de subida de taxas de juro.

 

Em termos orçamentais, não há, para já, indicações claras, excepto no caso da Alemanha, que se comprometeu a subir as despesas militares, mas poderão ocorrer se a situação se agravar.

 

O impacto sobre os preços é o mais óbvio, dada a importância da Rússia nos mercados energéticos mundiais, mas também nos mercados agrícolas, em que a Ucrânia também desempenha um papel de relevo.

 

O impacto negativo sobre o PIB decorre de várias vias: pela subida dos preços, pelas sanções e pela incerteza. A subida de preços dos combustíveis prejudica os consumidores e aumenta os custos das empresas. As sanções deverão prejudicar os países com laços comerciais mais fortes com a Rússia, com destaque para a Alemanha, que deverão afectar indirectamente os restantes, em particular Portugal. Já a incerteza afecta as decisões de consumo e investimento, conduzindo ao adiamento de algumas delas. As primeiras estimativas apontam para um impacto limitado sobre o PIB, sugerindo que a retoma da pandemia deverá continuar, embora a um ritmo mais moderado do que anteriormente se previa.

 

Nas reuniões de Março do BCE e da Reserva Federal dos EUA deverão ser divulgadas novas previsões macroeconómicas, que deverão balizar o novo cenário económico, permitindo ter uma visão mais clara, ainda que provisória, do que nos espera. 

 

[Publicado no Jornal Económico]

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