Temos espaços vazios nas cidades, capacidade de construção e meios de financiamento suficientes, pelo que não deveríamos ter o grave problema de habitação que temos.
Analisando os dados recém publicados do Censos 2021,
constata-se que: 1. entre 2001 e 2011, o número de alojamentos subiu 16%, tendo
desacelerado brutalmente na década seguinte, para apenas 1,7%. 2. Na Área
Metropolitana de Lisboa, o crescimento foi ainda pior, de apenas de 0,8% na
década, o que dá um ritmo anual ridículo de apenas 0,08%. Em termos absolutos,
os valores são ainda mais risíveis: apenas cerca de 1120 novos alojamentos por
ano, numa área com 2,87 milhões de habitantes. 3. No município de Lisboa, o
número de alojamentos diminuiu (!) 2,0%, em cerca de 6,6 milhares.
O problema da habitação é gravíssimo porque: 1. Há uma
escassez brutal, sendo dificílimo encontrar fogos disponíveis. 2. As rendas
estão completamente desfasadas dos rendimentos dos portugueses. 3. Afecta o bem-estar
da população, em especial dos mais jovens. 3. É um dos maiores obstáculos à
natalidade, outro dos mais graves problemas nacionais. 4. Agrava a pressão para
a emigração já existente. 5. É um travão à imigração, em particular dos nómadas
digitais.
A solução da habitação passa necessariamente pela construção
maciça de novas habitações e pela re-habilitação.
O que mais choca é que parece que temos todos os
instrumentos disponíveis para resolver este problema, apenas faltando vontade
política para os resolver. Há muitos espaços livres nas cidades, em particular
em Lisboa (vejam-se os “baldios” que ainda hoje há na zona oriental), onde
construir a habitação que falta, ao contrário de muitas outras cidades
europeias.
Por outro lado, a nossa indústria de construção tem a
capacidade técnica para construir toda a habitação que falta, ainda que possa
ter que passar por alguma fase de adaptação, nomeadamente angariando
mão-de-obra no exterior.
Finalmente, há amplas condições de financiamento desta
expansão do parque habitacional. Os bancos têm excesso de liquidez e estão
disponíveis para emprestar às famílias para a compra de casa própria, que é o
tipo de crédito com a menor taxa de incumprimento. Há também montantes
elevadíssimos de depósitos a prazo a receber juros quase nulos, cujos
depositantes estariam muito interessados em aplicar em imobiliário, desde que
as condições fossem minimamente razoáveis, nomeadamente o fim rápido de
contratos de arrendamento não cumpridos.
Seria importante, por exemplo, que o município de Lisboa
assumisse o compromisso de aumentar o número de alojamentos disponíveis na
cidade em 10 mil unidades por ano, entre 2022 e 2026, para minorar a grave
carência habitacional.
A habitação é mesmo um problema que não deveríamos ter, porque
temos todas as condições para o solucionar: espaço, capacidade de construção e
financiamento.
[Publicado no Jornal Económico]
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