Dado o atraso da recuperação portuguesa, as exportações podem ajudar a trazer para o nosso país a retoma dos nossos principais parceiros, ainda que esta se atrase com a guerra.
De acordo com as mais recentes previsões da Comissão
Europeia, de Fevereiro, Portugal deveria ter a terceira mais fraca recuperação
acumulada da UE, entre 2019 e 2023, apenas à frente de Itália e Espanha. Como é
evidente, estas previsões ficaram desactualizados com o início da invasão da
Ucrânia pela Rússia, mas é provável que a nossa fraca posição relativa se
mantenha.
Para além de aproveitar o crescimento dos nossos parceiros,
há outras importantes razões para valorizar as exportações, retomando, desde
logo, a ambição de fazer subir o seu peso no PIB, adiado pela pandemia. A primeira
questão é que a subida do preço dos produtos energéticos e das matérias primas
em geral se traduz numa deterioração dos termos de troca e consequente
diminuição do saldo externo, criando a necessidade de compensar isso com um
reforço das exportações.
A segunda questão, de médio prazo, é que os saldos externos
relativamente equilibrados dos últimos anos estão associados a níveis muito
deprimidos de investimento, que são incompatíveis com a convergência com a UE.
Ou seja, se aumentássemos o investimento para níveis mais saudáveis iríamos –
fatalmente – cair em significativos défices externos. Ora, é justamente para
criar margem para uma acumulação de capital que nos permita aproximar dos
níveis de prosperidade europeus que reside um argumento adicional e importante
de estimular o sector exportador.
Então, o que podemos fazer para estimular as exportações?
Dou apenas uma pista: tornar o IDE mais atraente. O IDE é uma forma de expandir
a produção de bens e serviços transaccionáveis, até porque o mercado nacional é
demasiado pequeno. Para o alcançar, o caminho é reduzir os obstáculos de que os
investidores se queixam: alto IRC, burocracia e licenciamentos lentos, etc.
Finalmente, um dos impactos previsíveis desta guerra é que a
UE se empenhe em aumentar a sua auto-suficiência energética, para além de
aumentar a diversificação de fontes de energia bem como a sua origem
geográfica, para reduzir a dependência da Rússia. Portugal tem condições de
beneficiar desta evolução, quer na produção de energia de base renovável para
exportação, quer como porta de entrada de gás liquefeito por Sines.
[Publicado no Jornal Económico]
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