As consequências principais da guerra deverão ser a subida da inflação e uma desaceleração do PIB, que, por enquanto, parece que será limitada, não obstante a elevada incerteza.
A invasão da Ucrânia pela Rússia veio gerar uma enorme
perturbação mundial, a todos os níveis, e iremos tentar resumir as suas
consequências económicas, com consciência das elevadíssimas limitações deste
exercício.
Antes de mais temos as incertezas militares, a que se somam
as respostas, sob a forma de sanções. Em seguida, haverá respostas económicas
das autoridades para os próprios países e regiões, com destaque para os bancos
centrais e talvez também orçamentais. Finalmente, teremos o resultado deste
conjunto de efeitos sobre as variáveis económicas, concentrando a nossa atenção
sobre a inflação e o PIB.
Sobre as incertezas militares, temos sobretudo perguntas:
qual será a duração do conflito? até onde se expandirá, em termos geográficos?
As principais sanções decididas até ao momento terão sido
financeiras, com limitações sobre alguns bancos russos, incluindo exclusão do
SWIFT (sistema de pagamentos internacionais), e sobre o próprio Banco Central
da Rússia, impedindo-o de usar as suas reservas internacionais.
É dos bancos centrais ocidentais que poderá vir a principal
resposta, embora estes estejam numa posição especialmente delicada, já que os
efeitos iniciais serão de subida de preços e de abrandamento da actividade. O
primeiro efeito pediria um aumento das taxas de juro, enquanto o segundo
requereria a decisão oposta. As reuniões de Março da Reserva Federal e do BCE
deverão lançar luz sobre este dilema, havendo alguma expectativa de que
prevaleça o impacto sobre o PIB, conduzindo a um adiamento do calendário de
subida de taxas de juro.
Em termos orçamentais, não há, para já, indicações claras,
excepto no caso da Alemanha, que se comprometeu a subir as despesas militares,
mas poderão ocorrer se a situação se agravar.
O impacto sobre os preços é o mais óbvio, dada a importância
da Rússia nos mercados energéticos mundiais, mas também nos mercados agrícolas,
em que a Ucrânia também desempenha um papel de relevo.
O impacto negativo sobre o PIB decorre de várias vias: pela
subida dos preços, pelas sanções e pela incerteza. A subida de preços dos
combustíveis prejudica os consumidores e aumenta os custos das empresas. As
sanções deverão prejudicar os países com laços comerciais mais fortes com a
Rússia, com destaque para a Alemanha, que deverão afectar indirectamente os
restantes, em particular Portugal. Já a incerteza afecta as decisões de consumo
e investimento, conduzindo ao adiamento de algumas delas. As primeiras
estimativas apontam para um impacto limitado sobre o PIB, sugerindo que a
retoma da pandemia deverá continuar, embora a um ritmo mais moderado do que
anteriormente se previa.
Nas reuniões de Março do BCE e da Reserva Federal dos EUA
deverão ser divulgadas novas previsões macroeconómicas, que deverão balizar o
novo cenário económico, permitindo ter uma visão mais clara, ainda que
provisória, do que nos espera.
[Publicado no Jornal Económico]