O que se sabe sobre o
que a Grécia poderia ter feito deve acordar os seus parceiros europeus
Nos últimos dias, tem sido revelado um conjunto de
informações sobre o Plano B da Grécia, que parece um misto de PREC com Alves
dos Reis.
Em Dezembro do ano passado, ainda antes das eleições de 25
de Janeiro, o futuro (hoje já ex-) ministro das Finanças, o histriónico
Varoufakis, planeou o regresso ao dracma de forma rocambolesca. Aparentemente,
o sistema informático do ministério das Finanças seria assaltado por um amigo
de infância do ministro, que criaria um sistema de pagamentos alternativo. Ou
seja, a Grécia sairia do euro pela porta do cavalo, sem negociações, a pior
forma possível de retirada. Felizmente, Tsipras não lhe deu autorização para
avançar com o plano, o que foi o melhor para todos, a começar pelos gregos.
Em Julho, um dos componentes do Syriza, a Plataforma de
Esquerda, organizou uma reunião para preparar a saída forçada do euro, que
previa a prisão do governador do Banco da Grécia caso este resistisse e o
assalto da entidade que imprime notas. Seguindo as desvairadas indicações, as
notas aí existentes (menos de metade do que os conjurados estimavam) poderiam
ser usadas para importar combustíveis e alimentos de primeira necessidade.
O lado mais PREC disto tudo, é que havia jornalistas à porta
do hotel onde decorria aquela conspiração, a quem os políticos relataram o que
se passou, como se fosse imaginável algum golpe com sucesso poder informar
previamente a comunicação social. O lado Alves dos Reis consiste em querer
apropriar-se de notas emitidas, com a particularidade de o delinquente português
ter agido no maior dos segredos e os seus homólogos gregos se prepararem para o
imitar com o mais dos espalhafatos. Como é que lhes pôde passar pela cabeça que
aquelas notas não seriam imediatamente consideradas forjadas e não aceites por
ninguém?
Os disparates desde que o Syriza chegou ao poder já foram
tantos, que já há vários gregos, entre presidentes de autarquias, que colocaram
Varoufakis em tribunal, esperando-se ainda o levantamento da sua imunidade
parlamentar, podendo seguir-se novas acusações a outros políticos no governo.
Numa primeira apreciação, tudo isto é terrível e deve ser
alvo de críticas e até das perseguições judiciais referidas. No entanto, num
plano mais elevado, o que se sabe até agora do que poderia ter acontecido é
demasiado grave e tem que ser interpretado como consequência da situação que os
dois primeiros programas de austeridade criaram na Grécia. Em geral, detesto a
argumentação que é a “sociedade” que cria os delinquentes mas, neste caso,
parece-me que se aplica a ideia de que foram as circunstâncias que geraram o
potencial desastre que, felizmente, nem sequer chegou a concretizar-se.
É (quase) totalmente inútil criticar severamente os ex-ministros
pelo que se preparavam para fazer. É urgente que os parceiros internacionais tomem
consciência que, se os dois primeiros pacotes de “ajuda” criaram este quase
desastre, então o terceiro pacote tem condições de criar algo muito mais grave
e que é bem possível que não possa ser evitado atempadamente. Por isso, é
urgente suavizar as condições impostas há poucas semanas.
Em alternativa, era útil que os gregos deixassem de olhar
com tanto horror para a saída do euro, ao ponto de ter feito Tsipras engolir um
acordo impossível. A partir do momento em que passe a haver uma maioria a reconhecer
o inevitável, este ou qualquer outro primeiro-ministro helénico já poderá
negociar uma retirada em condições relativamente favoráveis.
Parece que o programa imposto à Grécia se destina a criar
esse mesmo estado de espírito, mas fá-lo duma forma arriscada, porque parece
que os pretende empurrar ao desespero. O grande problema é que o desespero é
muito mau conselheiro e os desastres mais descontrolados podem acontecer em
resultado disso mesmo.
[Publicado no jornal “i”]
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