O Syriza tem adoptado uma estratégia que o próprio António
Costa já classificou de “tonta”. O que é mais notável é que o novo governo
grego conseguiu proezas notáveis. Conseguiu provocar uma grave fuga de
depósitos e capitais, abortar a recuperação da economia, destruir o superavit
orçamental primário (excluindo juros), que seria um dos elementos que lhe
conferiria maior poder negocial com os seus parceiros e – a melhor de todas! –
tem sido forçado a cortar a despesa total, que está 2 mil milhões de euros
abaixo do previsto no Memorando de Entendimento. Para quem era contra a
austeridade, não está nada mal.
Como a Grécia, compreensivelmente, não tem qualquer tipo de
acesso a financiamento de mercado, está dependente dos seus parceiros
comunitários, que já avisaram que querem o envolvimento do FMI, que tem regras
internas exigentes. Apesar de tudo, este país parece estar a tentar jogar a
cartada geoestratégica para obter concessões, mas está tudo muito difícil. O
que mais impressiona é que, quando as negociações sobre um eventual terceiro
pacote de ajuda já se deveriam ter iniciado, ainda não foi possível concluir a
última fatia do segundo.
Em Portugal, a seguir às eleições legislativas, vamos passar
a dispor de um claro “barómetro da tontice”, sob a forma das taxas de juro de
mercado da dívida pública, com valores muito mais elevados caso a Grécia saia
entretanto da zona do euro.
Neste momento, o que parece estar em cima da mesa é, em
primeiro lugar, a inexistência de nada que se pareça remotamente com uma
maioria absoluta. Em segundo lugar, a virtual impossibilidade de se constituir
uma coligação maioritária. Os pequenos partidos que se poderiam coligar com
António Costa, o Livre e o de Marinho Pinto, não deverão conseguir qualquer
votação que se assemelhe à do Podemos. Por isso, é improvável que haja uma
coligação do PS com estes mini-partidos, porque seria ficar com os custos de
uma aliança, sem qualquer dos benefícios.
Se se mantiverem estas tendências nos próximos meses, o que
nos espera é um governo minoritário do PS. Face a uma solução pouco amiga da
estabilidade, julgo que a primeira reacção dos mercados será negativa.
No entanto, o primeiro embate mais sério será o do primeiro
orçamento do próximo executivo. Aí, o “barómetro da tontice” começará a
funcionar em pleno. Talvez mais do que as pressões dos parceiros comunitários,
será este barómetro que deverá travar fantasias, como o do despesismo poupador,
previsto no documento coordenado por Mário Centeno.
Tenho ainda que confessar que temo que se repita aquilo a
que já assistimos no passado, de partidos com algum sentido de responsabilidade
enquanto no governo e que perdem completamente as estribeiras quando se vêem na
oposição. Por isso, vejo também como difíceis a formação de acordos de regime
em substituição de uma maioria, dificuldade acrescida após a eleição de um
presidente da República de esquerda.
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