segunda-feira, 1 de junho de 2015

Barómetro da tontice

O Syriza tem adoptado uma estratégia que o próprio António Costa já classificou de “tonta”. O que é mais notável é que o novo governo grego conseguiu proezas notáveis. Conseguiu provocar uma grave fuga de depósitos e capitais, abortar a recuperação da economia, destruir o superavit orçamental primário (excluindo juros), que seria um dos elementos que lhe conferiria maior poder negocial com os seus parceiros e – a melhor de todas! – tem sido forçado a cortar a despesa total, que está 2 mil milhões de euros abaixo do previsto no Memorando de Entendimento. Para quem era contra a austeridade, não está nada mal.

Como a Grécia, compreensivelmente, não tem qualquer tipo de acesso a financiamento de mercado, está dependente dos seus parceiros comunitários, que já avisaram que querem o envolvimento do FMI, que tem regras internas exigentes. Apesar de tudo, este país parece estar a tentar jogar a cartada geoestratégica para obter concessões, mas está tudo muito difícil. O que mais impressiona é que, quando as negociações sobre um eventual terceiro pacote de ajuda já se deveriam ter iniciado, ainda não foi possível concluir a última fatia do segundo.

Em Portugal, a seguir às eleições legislativas, vamos passar a dispor de um claro “barómetro da tontice”, sob a forma das taxas de juro de mercado da dívida pública, com valores muito mais elevados caso a Grécia saia entretanto da zona do euro.

Neste momento, o que parece estar em cima da mesa é, em primeiro lugar, a inexistência de nada que se pareça remotamente com uma maioria absoluta. Em segundo lugar, a virtual impossibilidade de se constituir uma coligação maioritária. Os pequenos partidos que se poderiam coligar com António Costa, o Livre e o de Marinho Pinto, não deverão conseguir qualquer votação que se assemelhe à do Podemos. Por isso, é improvável que haja uma coligação do PS com estes mini-partidos, porque seria ficar com os custos de uma aliança, sem qualquer dos benefícios.

Se se mantiverem estas tendências nos próximos meses, o que nos espera é um governo minoritário do PS. Face a uma solução pouco amiga da estabilidade, julgo que a primeira reacção dos mercados será negativa.

No entanto, o primeiro embate mais sério será o do primeiro orçamento do próximo executivo. Aí, o “barómetro da tontice” começará a funcionar em pleno. Talvez mais do que as pressões dos parceiros comunitários, será este barómetro que deverá travar fantasias, como o do despesismo poupador, previsto no documento coordenado por Mário Centeno.


Tenho ainda que confessar que temo que se repita aquilo a que já assistimos no passado, de partidos com algum sentido de responsabilidade enquanto no governo e que perdem completamente as estribeiras quando se vêem na oposição. Por isso, vejo também como difíceis a formação de acordos de regime em substituição de uma maioria, dificuldade acrescida após a eleição de um presidente da República de esquerda.

 [Publicado no Diário Económico]

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