As consequências
actuais dos Descobrimentos portugueses podem ver-se, desde logo, na expansão da
nossa língua, que é actualmente a sexta mais falada no mundo.
1. Em Agosto de 1415, teve lugar a conquista de Ceuta pelas
tropas portuguesas, que marca simbolicamente o início da expansão portuguesa. O
próprio rei, D. João I, participou na empresa, bem como os seus filhos D.
Duarte, futuro rei, o infante D. Pedro, das “sete partidas”, pelas viagens
muito instrutivas que fez pela Europa, onde procurou colher ensinamentos para a
melhoria do reino, e o infante D. Henrique, que seria o grande impulsionador
dos Descobrimentos, até à sua morte, em 1460.
Nos anos seguintes à tomada daquela praça africana,
seguiram-se três tipos de movimento: de conquista, de descoberta de novas
terras e de povoamento.
A conquista foi tentada no Norte de África, com resultados
irregulares e com destaque para o fracasso da tomada de Tânger, em 1437, já sob
o reinado de D. Duarte, em que o irmão desde, o “infante santo”, ficou refém e
que terá sido a razão da morte prematura do rei, logo no ano seguinte.
As viagens marítimas, às Canárias (já conhecidas), à Madeira
e Açores, e ao longo da costa africana foram desbravando novos caminhos
marítimos, que permitiriam os maiores feitos dos Descobrimentos portugueses.
A povoação teve início na Madeira e Açores, vindo depois a
implantar-se em muito maior dimensão no Brasil.
Apesar da expansão portuguesa se ter iniciado em África, o
investimento a sério nas nossas colónias neste continente só se concretizaria a
partir da Conferência de Berlim, de 1884-1885, que marca a competição das
potências europeias pelo território africano. É na sequência disso que se dá a
questão do mapa cor-de-rosa, que nos opõe à maior potência da época, a
Grã-Bretanha, com um desfecho inteiramente previsível. Mesmo assim, o fracasso
português serve para enfraquecer a monarquia e o regime republicano, implantado
em 1910, iniciará uma colonização mais intensa das nossas colónias africanas.
As consequências actuais dos Descobrimentos portugueses
podem ver-se, desde logo, na expansão da nossa língua, que é actualmente a
sexta mais falada no mundo. Para além disso, confere-nos um capital de
reconhecimento e simpatia, como é o caso do Japão, que fomos os primeiros
europeus a contactar. Ainda hoje, as crianças japonesas da escola primária só
conhecem um nome dos países europeus, Portugal, e infelizmente não sabemos
tirar partido disso.
Voltando à conquista de Ceuta, há seis séculos, não se
compreende como é que se pode deixar de assinalar o início daquilo que é não só
um dos aspectos mais importantes da história nacional, como, certamente, a
nossa maior contribuição para a história universal.
Não me venham dizer que não se pode comemorar uma conquista
feita no século XV, como se fizesse algum sentido avaliar as acções passadas
com base na mentalidade actual. Mas, se quiserem, como moeda de troca, também
podemos comemorar a invasão da península ibérica pelos árabes, a partir de 711,
que deixou um óbvio legado e enriquecedor, que os românticos do século XIX,
entre os quais Almeida Garrett, não se cansaram de enaltecer.
2. Em 1972, aquando da comemoração dos 150 anos da
independência do Brasil, declarada pelo que viria a ser o primeiro imperador
daquele território, conhecido por D. Pedro IV em Portugal, o nosso país
ofereceu os restos mortais deste monarca à sua nova pátria. Só o coração deste
rei não foi trasladado, porque foi prometido ao Porto, pelo papel que esta
cidade teve na vitória das forças liberais aquando da guerra civil de
1832-1834.
Em 2022, será altura de comemorar o bicentenário da
independência do Brasil e, nessa ocasião, julgo que Portugal deveria presentear
o nosso país irmão com o original da carta de Pero Vaz de Caminha, que é o
primeiro documento escrito sobre o Brasil, onde aquele escrivão descreve o que
vê, em missiva que será enviada ao rei D. Manuel I. Esta carta é como que a
certidão de nascimento do Brasil e deveria ser oferecida a este país numa
cerimónia de agradecimento mútuo entre os dois países, pelo que ambos temos
beneficiado uns com os outros.
[Publicado no jornal “i”]
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