A saída da Grécia do
euro conduziria, com elevada probabilidade, à saída de Portugal
As eleições legislativas na Grécia, a 25 deste mês, estão a
elevar a probabilidade da saída deste país da zona do euro. Pode não ser
imediatamente, até porque a incapacidade de formar um governo maioritário pode
conduzir a novas eleições pouco tempo depois.
No entanto, haverá dois momentos críticos. Estima-se que em
Março as reservas do país se esgotem, ignorando-se o que poderá acontecer em
consequência disso. No Verão, é devida uma tranche ao BCE de 6,7 mil milhões de
euros, os quais não se sabe de onde poderão surgir. Se não for pago, o BCE já
ameaçou cortar o financiamento à banca grega, o que seria quase o equivalente à
expulsão do país do euro. O líder do Syriza terá dito aos seus colaboradores
mais próximos que considera esta ameaça um bluff
e, qual jogador de póquer, tenciona testar o BCE.
Trata-se de um jogo arriscado, de parte a parte. Uma coisa é
certa: ninguém vencerá. Se a Grécia for expulsa do euro por causa disto, a
promessa do BCE de fazer tudo o que fosse necessário para salvar o euro
ter-se-á revelado oca. A partir daí, é muito provável que se assista a uma
subida imparável das taxas de juro de longo prazo dos Estados mais frágeis.
Portugal estará obviamente na primeira linha de fogo, devido
à elevada fragilidade da sustentabilidade da nossa dívida, por três factores:
1) dívida demasiado elevada; 2) potencial de crescimento demasiado baixo; 3)
excessiva dependência do financiamento externo.
Mas, na pior das hipóteses, Portugal seria forçado a
solicitar um segundo pedido de ajuda à troika,
com provável antecipação das eleições legislativas, como ocorreu em 2011. Diria
que o novo memorando talvez não tivesse que ser tão duro em termos do défice
público, mas seria certamente muito mais exigente em termos das reformas
estruturais.
O mais grave de tudo seria o contágio a Itália que, ainda
por cima, tem fragilidades semelhantes às nossas, com a excepção do
financiamento externo, que não é tão elevado como a nosso em termos
proporcionais, mais é muito significativo em termos absolutos, devido à
dimensão desta economia.
Antes de prosseguir com Itália, voltemos à Grécia, que
entretanto teria saído do euro. Uma das questões essenciais a esclarecer é se
esta saída teria sido negociada ou forçada pelas circunstâncias. Há um mundo de
diferença entre estas duas retiradas. Se houver negociações, muita coisa ficará
esclarecida (desvalorização da nova moeda, redenominação de dívida e contratos,
etc.) e será muito provável que um apoio significativo seja fornecido à Grécia,
até porque ela estaria a ajudar o euro a tornar-se mais forte (na visão
ilusória dos negociadores alemães).
Mas se tudo ocorrer devido a um conjunto de jogadas que
correm mal, será o caos. Não só a desvalorização será muito maior
(provavelmente superior a 50%) como descerá um nevoeiro de confusão e dúvida,
que colocará gravíssimos entraves ao comércio externo, dificultando inclusive
tirar partido de uma moeda muito mais fraca. Imaginem que os fornecedores das
importações gregas, nomeadamente de energia, suspendem os fornecimentos devido
à brutal incerteza sobre os pagamentos. Seria a total calamidade, com as
próprias exportações bloqueadas pela falta de componentes importadas.
Perante esta catástrofe, poder-se-ia pensar que os italianos
ficariam subitamente empenhados em aprovar todas as reformas que lhes
permitissem mudar de vida e convencer os mercados da sustentabilidade da sua
dívida. No entanto, mesmo que este milagre acontecesse, é altamente improvável
que ele comovesse os mercados, até porque muitas das medidas demoram imenso
tempo a produzir resultados.
A questão essencial é que, se Portugal e outros países
pequenos podem ser ajudados, a Itália é demasiado grande para isso e a sua
saída do euro seria inevitável, gerando um efeito de quebra de um dique. A
única ressalva que se pode colocar é que estas retiradas poderiam ser fruto de
acordos alcançados em tempo record, com todas as imperfeições que isso
implicaria, mas muito menos graves do que o caos grego.
[Publicado no jornal “i”]
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