Ou não há cedências a
curto ao novo governo grego, e isso coloca problemas dentro em breve, ou há
cedências e teremos problemas a médio prazo
Faltam menos de duas semanas para as eleições legislativas
antecipadas na Grécia, que têm muitas condições de criar fortes perturbações na
zona do euro, devido à liderança do Syriza nas sondagens.
Não vale a pena especular sobre a exacta composição do
próximo governo grego, mas tudo indica que se assistirá a um braço-de-ferro
entre este executivo e os seus parceiros europeus, com destaque para a
Alemanha.
Num primeiro caso, consideremos que havia um conjunto de
cedências à Grécia (incluindo um perdão parcial da dívida), que permitia que
este país continuasse com acesso a financiamento e com um governo em funções.
Os problemas dissipar-se-iam no curto prazo mas iriam avolumar-se a médio
prazo, sobretudo nos países que mais deverão sofrer com aquele perdão, com o
crescimento do sentimento anti-euro.
Num segundo caso, as exigências do novo governo não seriam
atendidas (qualquer que seja a razão para isso) e a Grécia daria uma série de
trambolhões até ser, na prática, forçada a sair do euro.
Este cenário está longe de ser considerado irrealista,
porque fontes próximas de Merkel já disseram em entrevista ao Spiegel que a saída da Grécia do euro
seria gerível, ao contrário do que se passaria há alguns anos. Julgo que estas
afirmações não são apenas uma forma de pressionar o eleitorado grego, mas
constituem uma descrição fidedigna do pensamento nas principais figuras da CDU,
embora o SPD já se tenha demarcado delas.
O que isto sugere é que, nas negociações com o novo governo
grego, a liderança alemã não estará disposta a fazer grandes cedências, já que
não acredita que os gregos tenham a bomba atómica nas mãos. O que nos colocaria
mais próximo do segundo caso descrito do que do primeiro.
Esperemos que os outros parceiros europeus, bem como o
próprio SPD, façam suficiente pressão sobre Merkel, para que a Grécia não seja
empurrada para fora do euro, ainda por cima quando tiver como primeiro-ministro
Alexis Tsipras, que tudo indica ser uma pessoa que gosta de brincar com o fogo.
É facílimo imaginar um conjunto de jogadas imprevisíveis e arriscadas que
acabem pessimamente.
Mas o governo alemão também parece estar a brincar com o
fogo, ao acreditar na ilusão de que a saída da Grécia do euro não faria
estragos de maior nesta área monetária, que está muito longe de ser óptima.
Com o actual nível extremamente baixo das taxas de juro de
longo prazo (pelas piores razões, porque o crescimento é débil e existem fortes
riscos de deflação prolongada), o financiamento orçamental de vários países não
suscita dúvidas de maior. Mas basta uma subida daquelas taxas de juro para tudo
se inverter e esta subida pode ocorrer em pouco tempo, a duração de uma
tragédia grega. E daí até ao novo risco de um efeito dominó é um instante.
[Publicado no DiárioEconómico]
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