O novo governo grego
para mais interessado em provocar conflitos gratuitos, do que em resolver
problemas
Tal como tinha previsto, o novo primeiro-ministro grego,
mais do que resolver problemas, parece querer criar o máximo de confusão, com
um conjunto infindável de provocações gratuitas.
Desde logo, com a escolha do parceiro de coligação, um
partido de direita nacionalista (ANEL), com um discurso anti-germânico, quando
poderia ter optado pelo To Potami, um partido centrista e pró-Europeu.
Em segundo lugar, pela forma como o novo governo se tem
mostrado empenhado em desfazer várias medidas da troika, não porque estas fossem erradas mas, tudo indica, única e
exclusivamente por terem sido impostas pela troika.
Pior do que isso, tem tomado essas decisões de forma completamente unilateral,
como se a Grécia estivesse em condições de dispensar uma negociação com os seus
credores. Na verdade, estas decisões unilaterais só vão gerar ainda maior
dependência dos credores.
O novo executivo quer recuar na mobilidade dos funcionários
públicos entre ministérios, como se isso fosse um mal em si mesmo. Poderia
reforçar o caracter voluntário dessa mobilidade, mas insistir na rigidez do status quo é uma pura cedência aos
interesses corporativos, em total desrespeito pelo bem-estar da população em
geral.
Para salientar o caracter de provocação gratuita, pretendem
voltar a contratar as mulheres da limpeza do ministério das Finanças, como se
alguém pudesse acreditar que isso constituísse qualquer tipo de necessidade num
país na condição em que se encontra.
A reversão da descida do salário mínimo, anteriormente
negociado com a troika, só poderá
constituir um travão à descida do desemprego. Seria mil vezes preferível um
subsídio aos salários mais baixos, o que permitiria subir o poder de compra
destes, sem agravar as condições de competitividade das empresas.
Uma das mais chocantes reivindicações é a do perdão da
dívida, por ser formulada num tom que maximiza os conflitos. Uma negociação que
diminua a taxa de juro e alargue os prazos de pagamento pode produzir um perdão
implícito extremamente generoso, mas com a vantagem de não constituir um perdão
explícito, permitindo aos políticos dos países mais recalcitrantes (em
particular a Alemanha) negar a existência de perdão, abrindo espaço para um
salvar da face de todos.
No entanto, a forma como o Syriza insiste no perdão da
dívida só pode maximizar os conflitos e maximizar a probabilidade de a Grécia
vir a ser forçada a sair do euro.
A oposição (inicial) a novas sanções à Rússia parece
indiciar um aproveitamento de toda e qualquer circunstância para se opor a
qualquer tipo de consenso dentro da UE, para conquistar maior margem negocial,
para além de constituir uma cedência a um país com credenciais democráticas
mais do que duvidosas.
Os resultados práticos destes primeiros dias foram, no plano
interno, uma nova fuga de depósitos, que só se poderá intensificar nos tempos
mais próximos. Sem estes depósitos, os bancos gregos (cujas cotações estão, “misteriosamente”,
em queda livre) ou cortam no crédito, interrompendo a recuperação económica em
curso, ou aumentam o recurso ao BCE, aumentando o poder deste de tirar o tapete
ao novo governo.
No plano externo, a perplexidade é generalizada, porque
ninguém percebe a lógica das acções do novo governo. Ter uma posição negocial
exigente, mas flexível e imaginativa nas propostas de solução, é uma coisa.
Maximizar os conflitos gratuitos é algo que não se percebe, porque não se
divisam que benefícios eles poderão trazer ao novo governo e ao povo grego.
É fácil dizer que o ideal seria que os parceiros europeus
não respondessem a todas estas provocações, presentes e futuras, mas temo que
isso se venha a revelar extremamente difícil.
De qualquer forma, é evidente que a evolução na Grécia
precisa de ser acompanhada com a maior preocupação.