A transformação do
panorama partidário europeu acabará por chegar a Portugal e impedir uma maioria
absoluta do PS
Os sistemas partidários europeus estão a passar por sérias
convulsões e transformações. No Reino Unido, temos um governo de coligação, o que
não acontecia desde a II Guerra Mundial, e sob a ameaça do UKIP,
independentista, com sondagens surpreendentes.
Na Alemanha, e contrariando a ideia de que são os partidos
radicais que estão a subir nas sondagens, o partido Alternativa para a
Alemanha, que defende a saída do euro, também está em franco progresso, embora
não ameace, para já, os principais partidos.
Em França, Marine Le Pen já atingiu o primeiro lugar em
sondagens presidenciais.
Em Itália, o sistema partidário do pós-guerra sofreu um
cataclismo total no início dos anos 90, em resultado da operação Mãos Limpas,
que denunciou a generalizadíssima corrupção, a que nenhum dos principais
partidos escapou. Infelizmente, e isso é uma das razões de alguma descrença, os
novos partidos não se recomendam, nem sequer em termos de terem deixado a
atracção pela corrupção. Mais recentemente, o partido de Beppe Grilo tem
introduzido novas incertezas e estragos na proverbial instabilidade governativa
deste país.
Na Grécia, o Syriza, o Bloco de Esquerda grego, está à
frente nas sondagens, embora longíssimo duma maioria absoluta.
Em Espanha, o novíssimo Podemos, ideologicamente um
“albergue espanhol” de esquerda, também já está em primeiro lugar nos estudos
de opinião, também muito longe de uma maioria. No nosso vizinho, o sucesso eleitoral
desta nova força política parece dever-se, em muito, a um sistema judicial que
funciona (que inveja!), que tem vindo a expor a impressionante corrupção que aí
se praticava.
Em geral, o que motivará esta transformação no espectro
partidário europeu? Julgo que haverá três razões gerais: 1) a crise do euro; 2)
a excessiva intromissão da UE nas políticas nacionais; 3) o fraco crescimento
económico. Nalguns casos particulares, há ainda a investigação judicial a expor
a corrupção dos partidos tradicionais.
Sintetizando imenso, fora do euro a correcção dos
desequilíbrios externos faz-se através duma medida essencialmente tecnocrática
(a desvalorização); no euro, essa correcção faz-se através da mais política das
matérias: o orçamento. A crise do euro é, assim, uma fonte de insuportável
intromissão no núcleo das escolhas políticas nacionais, gerando as maiores
acrimónias sobre os partidos que são vistos a vergarem-se sobre o exterior.
A segunda razão é aparentada com a primeira, mas
ultrapassa-a, como é visível no caso do Reino Unido.
A terceira razão, o
débil crescimento económico desde a crise de 2008, poderá ser explicada pela
dificuldade em recuperação da crise, devido às políticas adoptadas, mas também por
aquilo que se começa a designar como a “nova normal”, de crescimento
insuficiente. Como diz o ditado “casa onde não há pão, todos ralham e ninguém
tem razão”.
Até agora, e de forma um pouco surpreendente, o panorama
partidário português tem estado imune a estas mudanças, ironicamente mais
visíveis no típico partido de protesto: o BE. No entanto, julgo que estamos
apenas atrasados.
Apesar de tudo, algumas novidades têm surgido. O partido de
Marinho e Pinto, claramente unipessoal, não deverá ir longe, tais têm sido os
tiros no pé do seu líder. Há uma nova força emergente, o Nós, Cidadãos, mas é
ainda cedo para aferir da sua eventual popularidade.
A justiça portuguesa tem estado demasiado dormente, não
tendo sido, até agora, capaz de protagonizar uma limpeza como a que está a ter
lugar em Espanha e que ajudou o Podemos a chegar ao primeiro lugar nas
sondagens. Em Portugal, já que a justiça não faz o seu papel, parece que terá
que ser a comissão parlamentar de inquérito ao BES a expor a podridão do
regime. A revolta com as revelações que esta comissão deve trazer podem bem
levar grupos de cidadãos a organizarem-se e a desafiarem os partidos actuais
nas próximas eleições legislativas.
Por tudo isto, e também pela falta de clareza de António
Costa, julgo que será praticamente impossível que o PS alcance a maioria
absoluta nessas eleições.
1 comentário:
Caro Pedro Braz Teixeira:
Manifesta frequentemente grande desconfiança em relação a António Costa.
A minha desconfiança, mais na sua acção política futura do que na sua pessoa, prende-se com o contexto próximo (os que o rodeiam) e também o mais afastado (o país que somos, as elites que temos, a política possível).
Embora a sua acção como autarca em Lisboa tenha muito a criticar, certamente:
- o acordo de manutenção das 35 horas;
- o congelamento do Plano de Drenagem durante 7 anos;
- a falta de reforma dos serviços internos;
- o corte nas gorduras, etc.
Mas custa-me, sinceramente (e nem estou a falar de si), ver os ataques desbragados de que está a ser alvo vindos de tantos lados, às vezes dos mesmos que exigem que se reforme a tralha do Estado (central e local), mas que omitem as coisas boas que fez, num país em que quase nada se faz no que vou referir.
Exemplifico:
1 – O IMI, apenas 140 câmaras em 308 têm o mínimo 0,3, as outras 168 valores têm até 0,5 (quase o dobro). Em Lisboa tem descido sempre desde 2007, quando o Costa tomou posse era 0,4, há 2 anos que está no mínimo: para um prédio de 150.000 euros dá em Lisboa 450€/ano, mas podia dar 750€/ano se fosse 0,5;
2 – A devolução da participação do município dos 5% do IRS. O Costa tem devolvido e já vai nos 2,5%. Só 73 em 308 câmaras o fazem, muitas em percentagens irrelevantes;
3 – A taxa de Derrama de IRC, está mínima, 1,5%, e há isenção para as micro empresas, com lucros até 150 mil euros. (Estes são os 3 grandes impostos camarários).
4 – A redução da tralha das freguesias, o Costa as reduziu de 53 para 24. Sei que nas cidades é mais fácil, mas quantas o fizeram?
No país a redução de freguesias foi percentualmente mínima, menos de 25%, e nas câmaras, como a Troika preconizou, nem se ousou tocar. O concelho da Barquinha tem 49 km2 e 7.322 habitantes e o do Entroncamento tem 13,9 km2 e 20.206 habitantes (Censo de 2011)? Estes 2 concelhos contíguos já estiveram unidos no da Barquinha. O distrito de Viana do Castelo, com elevada densidade populacional, tem 10 concelhos mas o de Santarém e o de Viseu têm, respectivamente, 21 e 24?
5 - A redução e simplificação das taxas municipais, que passaram de 2270 em 2010 para 189 por iniciativa do Costa. Não sei se a carga geral de taxas baixou, mas a simplificação também ajuda as pessoas a fazerem essa avaliação.
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P. S. Não vivo em Lisboa, tenho grandes dúvidas que vote no Costa para 1.º ministro em 2015, tudo depende do que ele disser e fizer até lá e do programa (embora este seja depois pervertido, como de costume). Mas enquanto não houver outras alternativas partidárias, ou votamos nos partidos que há (tantas vezes mau), ou votamos nulo ou branco (muito mau) ou nos abstemos (péssimo).
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