A criação do euro foi o mais grave erro cometido pelos
Estados-membros da UE, que pode bem vir a ditar o fim desta.
O euro tem criado um nível ímpar de acrimónia dentro da UE,
fazendo ressuscitar os piores fantasmas, que se julgavam mais do que
enterrados. Isto deve-se à sua deficiente arquitectura económica e política.
O euro mudou o foco dos problemas e trouxe escassez e
ineficácia nos instrumentos para a sua resolução.
Num país com moeda própria, o foco reside nas contas
externas. Um país com um défice externo insustentável é obrigado a corrigi-lo e
tem como primeiro instrumento a desvalorização. Do ponto de vista económico, é
facílimo e rapidíssimo usar este instrumento e os resultados surgem com
relativa rapidez. Em termos internos pode haver algumas resistências políticas,
mas a inevitabilidade da medida cedo as dissipa. Em termos externos, a eventual
oposição política dos parceiros comerciais também se ultrapassa com facilidade,
devido ao caracter incontornável desta correcção.
No euro, o foco dos problemas desloca-se para as contas
públicas. Em termos económicos, corrigir um défice público elevado é um
processo que demora vários anos e é pouco eficaz na recuperação da competitividade.
Mas as dificuldades principais, não são as económicas, que não são pequenas,
mas os obstáculos políticos.
No plano político interno, a redução do défice público
implica reduções da despesa e aumentos de impostos, que são medidas altamente
impopulares. Em termos externos, o Tratado Orçamental de 2012 trouxe
insuportáveis pressões externas, que são um verdadeiro insulto à soberania
nacional. Não contesto a necessidade das regras deste tratado, concordando mais
com as determinações sobre o défice público do que sobre a dívida pública, mas
saliento as suas graves e continuadas implicações políticas.
Portugal, com a sua proverbial falta de auto-estima e
subserviência às potências europeias, poderá não sentir inteiramente a
gravidade destes problemas. Mas, para outros países, a interferência de outros Estados
no orçamento anual é vista como uma inadmissível afronta à soberania nacional.
Não surpreende, por isso, a esmagadora oposição à UE, que se
deverá materializar nas eleições desta semana. Desiludam-se todos aqueles que
imaginam que se trata de um problema apenas nas margens dos sistemas políticos,
por duas razões. Em primeiro lugar, porque, pelo menos em França e no Reino
Unido, esses partidos poderão ganhar as eleições. Mas sobretudo pela segunda razão:
é quase impossível os partidos do centro político assistirem impávidos a estes
rombos eleitorais e não serem, em alguma medida, contagiados pela agenda
contestatária.
Por tudo isto, há fortes condições para que a crise do euro
renasça nos próximos tempos. A recente descida acentuada das taxas de juro na
zona do euro, sobretudo nos países periféricos, é fruto de um problema, o risco
de deflação, e não de se ter encontrado uma solução para a crise. Os sintomas
da doença abrandaram, mas esta permanece quase intacta.
Por isso, o euro será sempre perseguido por conflitos
internacionais graves até àquele que provocará o seu colapso.
Sem comentários:
Enviar um comentário