segunda-feira, 15 de março de 2010

Infeliz ideia

“Governo admite vender obrigações aos privados através dos bancos”

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=414741

Quando se diz “vender” está-se a dizer incentivar a venda, porque esta já se pode fazer hoje na bolsa, a que os clientes acedem normalmente através dos bancos e, crescentemente, pelos bancos online.

Isto parece-me constituir um duplo erro. O primeiro erro é imaginar que haverá aqui qualquer efeito de aumento de poupança. As OTs vão canibalizar recursos que vão deixar de estar disponíveis para os bancos portugueses, que vão ter que os captar lá fora. Em vez de o Estado captar esses recursos no exterior com a venda de OTs, Portugal vai ter que ir buscar esses recursos com instituições (bancos) com um rating pior do que o Estado. Portugal como um todo vai passar a pagar mais caro pela sua dívida externa.

Mas para além deste erro económico há um outro erro, político. Apesar da acalmia recente dos mercados só o Dr. Pangloss é que imagina que todos os problemas estão ultrapassados. Infelizmente, não é difícil imaginar um novo surto de desconfiança nos próximos tempos com uma forte subida dos spreads das OTs. Ou, dito de outro modo, uma forte queda dos seus preços. Veremos então os investidores portugueses a registarem fortes perdas nas suas carteiras, que irão imputar ao governo que os convenceu a comprar OTs. Se estão à procura de lenha para se queimarem, não podiam escolher melhor “floresta”.

3 comentários:

Anónimo disse...

A falta de acesso directo dos portugueses às emissões de dívida pública, tem permitido aos intermediários financeiros uma protecção indevida e extremamente lucrativa:
permite aos bancos pagarem depósitos a prazo a menos de 1% e colocar esses capitais em dívida pública a 4%.
Este é um "negócio da China" protegido por lei e não sujeito a concorrência.

Pedro Braz Teixeira disse...

Não se pode comparar directamente as taxas de curto prazo com as de longo prazo.
As taxas dos depósitos têm de ser comparadas com as euribors de prazo equivalente, que sinalizam o custo alternativo de financiamento dos bancos nesses prazos.
Se olhar para os balanços dos bancos verificará que o peso da dívida pública, muito importante até meados dos anos 90, é hoje residual.

Anónimo disse...

Caro P.B.T.
Obrigado pelo seu comentário.
O negócio bancário, tal como tem sido implementado, assenta precisamente nessa inclinação positiva da curva de rendimentos.
Não conheço os balanços dos bancos, mas sei que os títulos da dívida pública são usados preferencialmente para operações de redesconto e swaps de fim de exercício de forma a compor os numeros.