Em Outubro, o
parlamento deve tornar-se mais cacofónico e, com uma provável geometria
variável das coligações do PS, deve também tornar-se um foco mais importante do
regime.
Os resultados das eleições europeias trouxeram algumas
surpresas, a maior das quais foi a forte subida do PAN, o que significa que, a
partir de Outubro, o PS tem mais um potencial parceiro a quem se aliar,
afastando-o ainda mais da fórmula actual.
O BE subiu, mas teve uma votação inferior à das
legislativas, enquanto o PC teve uma forte queda. A direita tradicional teve um
mau resultado, provavelmente castigada pelo desastre na condução do dossier dos
professores, enquanto a nova direita se pulverizou.
Vou extrapolar os actuais resultados para as eleições de
Outubro, admitindo como razoável que a maior participação então não afectará as
posições relativas, o que pressupõe que os votos nos novos partidos não estão
associados a nenhuma nova militância, mas antes a uma inclinação geral do
eleitorado.
Estou particularmente interessado nestes novos partidos, na
medida em que possam mudar muito o nosso parlamento, à semelhança do que o PAN
fez, com os surpreendentes resultados agora verificados.
Em Lisboa, teríamos um deputado da Aliança, do Livre
(finalmente!) e do Basta. Para meu grande desgosto, com apenas 1,3% dos votos,
a Iniciativa Liberal (IL) não seria capaz de eleger ninguém, demasiado longe do
mínimo de 2,1% para tal. Nos outros distritos, nenhum destes partidos parece
capaz de eleger representantes.
Com mais três partidos, o parlamento deve tornar-se mais
cacofónico e, com uma provável geometria variável das coligações do PS, deve
também tornar-se um foco mais importante do regime.
Como é evidente, daqui até Outubro muita coisa pode mudar.
Em primeiro lugar, a conjuntura internacional, com o potencial agravar da
guerra comercial no seu início; um desfecho menos feliz do Brexit; uma Europa a
sofrer com os resultados destas europeias, em que os partidos do centro, pela
primeira vez, representam menos de metade do parlamento europeu.
Uma desaceleração económica tem, geralmente, consequências
eleitorais, e orçamento de 2019 está baseado num crescimento económico que era,
à partida, irrealista, pelo que o aumento de cativações pode agravar a já
deteriorada imagem dos serviços públicos.
Como dizia um primeiro-ministro britânico, a política são
também os “casos”, e daqui até ao Outono teremos certamente vários e alguns
poderão virar a mesa de forma actualmente inesperada.
Para além disso, espera-se que os novos partidos continuem a
difundir as suas mensagens, influenciando as suas hipóteses eleitorais em
Outubro.
Exorto a IL a pegar em três temas, que tem negligenciado: o
ambiente, a habitação e a corrupção. O sucesso do PAN e da Greta Thunberg são
sinal evidente da apetência do eleitorado pelo tema e a respostas liberais são
muito mais interessantes e realistas do que as daqueles protagonistas.
Quanto à habitação, preocupa sobremaneira os habitantes dos
distritos de Lisboa e Porto, onde a IL tem mais hipótese de eleger deputados.
Já escrevi aqui a
propor soluções e o Victor Reis também já demoliu
a anunciada Lei de Bases da Habitação.
Em relação à corrupção, há uma indignação generalizada pela
extraordinária impunidade vigente, supremamente simbolizada por Joe Berardo e
não só. Os partidos do regime, quase todos com rabos de palha, não são capazes
de ter um discurso forte e coerente sobre o tema, mas a IL tem a obrigação de o
fazer.
[Publicado na Capital Magazine]
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