A uniformização
europeia está a alimentar o risco de desintegração da UE
Parece que a maioria já esqueceu que os principais
objectivos da construção europeia eram: a paz e a contenção da Alemanha. As
questões económicas, sendo importantes, não eram as principais.
A meio do processo, isto foi esquecido e embarcou-se num
processo de uniformização sem sentido, que gerou graves riscos, que agora
presenciamos. Esta uniformização tem inspiração no detestável centralismo
francês, tentando impor as mesmas regras a um espaço cada vez maior e mais
heterogéneo.
O Brexit tem, certamente, muitas raízes, mas uma delas tem a
ver com a introdução do euro. Alguns já não se lembrarão, mas a versão inicial
do tratado de Maastricht previa que os Estados-Membros que respeitassem os
chamados “critérios de Maastricht” eram obrigados a aderir ao euro. Reparem na
loucura: se respeitarem uns critérios tecnocráticos perdem automaticamente a
soberania monetária.
Os ingleses revoltaram-se contra este absurdo, mas tiveram
que lutar muito para se livrarem deste abuso. Eles, com o seu respeito pela
liberdade, não eram contrários a que se criasse o euro, apenas eram contra o
serem obrigados, contra a sua vontade, a aderir quase automaticamente à moeda
única. É verdade que conseguiram uma cláusula de excepção, mas só o facto de
isso não ser óbvio e terem que lutar tanto para obter o que seria evidente deve
ter constituído uma forte vacina contra a UE.
Mais genericamente, em países federais, os Estados que os
compõem, que não são independentes, têm mais liberdade do que os
Estados-Membros da UE, o que é absurdo. Em particular, nos EUA, há Estados com
impostos diferenciados, com legislação diferente, etc., etc.
Esta pulsão para a uniformização dentro da UE ainda se
tornou mais tresloucada com o alargamento de 2004, que aumentou imenso a
heterogeneidade da união. Se já antes, a igualização era perniciosa, ela agora
ficou ainda mais perigosa. Faz algum sentido tentar impor as mesmas regras à
Suécia e à Bulgária, em estados de desenvolvimento tão diferentes?
O problema principal desta uniformização é que, dado que a
UE é um pacote grande, do qual muito pouco se pode escolher, há muitos países
que foram obrigados a aceitar partes que não gostavam, o que tem gerado os
anti-corpos a que temos assistido. Uma Europa “à la carte” poderia ter evitado
muitos dos actuais problemas. Não se fez isso no passado, o que agora não se
pode mudar, mas essa devia ser a regra futura, para obviar aos riscos
crescentes de desintegração que se vêem por tantos lados e que se deverão
materializar nas eleições de Domingo. Veremos se os políticos europeus aprendem
alguma lição com os resultados eleitorais.
[Publicado na Capital Magazine]
Sem comentários:
Enviar um comentário