É muito difícil
imaginar boas notícias para 2019, com a provável excepção de nova redução do
desemprego em Portugal e a estreia de novos partidos no parlamento.
O ano que está à porta não parece augurar muito de bom.
Em termos políticos, aquele que já foi o farol da
democracia, os EUA, parecem estar a afastar-se cada vez mais dos seus
princípios e não se sabe quão longe irão nesta deriva. A China está a caminho
de ter cada vez maior influência, não parecendo disposta a abrir-se à
democracia.
Na Europa, no final de Março, teremos provavelmente o
Brexit, com contornos ainda hoje não definidos, o que só pode gerar
inquietação.
Em Maio, teremos as eleições europeias, em que é esperado um
novo recuo dos partidos tradicionais e uma subida dos partidos de protesto,
seja à esquerda, seja à direita.
O eixo franco-alemão está em sérias dificuldades, com o
Presidente Macron a começar o ano muito enfraquecido na frente interna, com
problemas orçamentais e provavelmente sem ânimo nem autoridade para liderar
qualquer tipo de reforma comunitária, que chegou a pretender protagonizar.
Na Alemanha, vamos assistir penosamente ao ocaso de Angela
Merkel, que nos poderá dar uma das poucas boas notícias do ano, se decidir sair
antecipadamente, pelo seu próprio pé.
A economia mundial, e a europeia em particular, estarão a
desacelerar, um movimento que ocorre por via da oferta, o que o torna muito
mais inevitável do que se fosse por via da procura, que poderia ser contrariada
por via monetária e/ou orçamental, pelos países com margem para tal (que não é
o caso português).
Em Portugal, pela amostra que vamos tendo, devemos ter um
ano de forte contestação laboral e social.
Devido ao irrealismo do cenário macroeconómico (o mais
acentuado desta legislatura), a necessidade de cativações vai estar ao rubro,
sendo de prever a multiplicação de relatos de histórias de horrores, sobretudo
agora que Marcelo Rebelo de Sousa parece ter dado – finalmente – autorização a
que falasse sobre as falhas do Estado. É, agora, muito mais fácil revisitar os
desastres do passado (Pedrógão Grande, Tancos, Borba, Valongo, por
“coincidência”, sempre no interior), mas também os múltiplos desastres do
futuro, que se podem, com facilidade, adivinhar (mas nunca desejar) na saúde e
nos transportes.
A economia deverá desacelerar e, se a frente europeia correr
pior, como é provável, o abrandamento poderá ser mais pronunciado.
Mesmo assim, é muito provável que o desemprego continue a
baixar, um dos poucos sinais favoráveis dos próximos 12 meses, mas a gerar
empregos com baixos salários.
Na antecipação das legislativas, é de esperar (diria mesmo,
é de rezar) que o PSD se revolte e exija a substituição de Rui Rio, o mais
inacreditável líder de oposição de que há memória. Para além disso, é
expectável que muitos novos partidos se apresentem às eleições, que se deverão,
deste modo, revelar as mais difíceis de prever das últimas décadas.
É provável que o PAN aumente o número de deputados (à custa
do Bloco) e que novas forças se estreiem no parlamento (retirando deputados ao
PSD), multiplicando as possibilidades de coligação e dificultando a previsão da
composição do próximo executivo.
Por seu lado, esta multiplicidade de soluções poderá gerar
instabilidade governativa, sobretudo se o país sofrer qualquer tipo de choque
externo.
[Publicado na CapitalMagazine]
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