As eleições holandesas
poderão criar algumas perturbações, mas não ao nível de um Brexit ou de um
Trump.
A poucos dias do evento, o ministro dos Negócios
Estrangeiros da Turquia tentou entrar na Holanda, para participar num comício
sobre o referendo no seu país. O governo holandês tentou dissuadi-lo disso,
devido à campanha eleitoral holandesa, em que o tema da imigração estava ao
rubro, mas o diplomata turco insistiu, pelo que o seu avião foi impedido de
aterrar.
A resposta dura do executivo da Holanda foi também uma forma
de retirar vantagens políticas, já que essa é a posição defendida pelo partido
da extrema-direita, Partido pela Liberdade (PVV), que liderava as sondagens até
há pouco.
Mesmo que a extrema-direita ainda venha a ganhar as
eleições, não é líquido que consiga formar governo. No entanto, uma coisa se
pode dizer: o seu sucesso eleitoral já está a contagiar os outros partidos.
Outros temas de campanha do PVV são a saída do euro e da
própria UE, mas não é certo até que ponto o eleitorado se revê neles.
De qualquer forma, o resultado destas eleições e, sobretudo,
de qual o governo – necessariamente de coligação – que sairá delas poderá ter
uma leitura significativa nos mercados, sobretudo na probabilidade que atribuem
à sobrevivência do euro nos seus actuais contornos.
Isso poderá fazer subir os diferenciais de taxas de juro
entre os países periféricos e a Alemanha, com destaque para Portugal, onde esse
diferencial já se alargou de forma significativa no último ano e meio, por
contraste sobretudo com Espanha, onde o diferencial tem mantido uma notável
estabilidade. No caso de Itália, tem havido algumas perturbações, desde o fim
do governo derrotado no referendo do ano passado, com incertezas inclusive
sobre a data das próximas eleições.
As eleições na Holanda poderão não passar de um ligeiríssimo
aperitivo sobre as eleições presidenciais francesas, onde a posição da
candidata da extrema-direita é muito mais vantajosa e estável.
Portugal está numa posição de grande fragilidade, que
deveria estar a ser seriamente corrigida e não a ser colmatada com políticas de
fachada. Destaco dois problemas económicos: a estagnação económica e o excesso
de endividamento.
Há 16 anos que a economia portuguesa está em divergência
estrutural com a UE, tomaram-se medidas tímidas no tempo da troika, mas este governo tomou a decisão
incompreensível de reverter algumas delas.
Temos também um excesso de endividamento, interno e externo,
público e privado. Por isso precisamos de diminuir claramente o défice público,
de forma estrutural e consistente e não com medidas cosméticas. O Presidente da
República deveria aliar-se ao Conselho de Finanças Públicas para pressionar o
governo neste sentido e não o oposto.
A única forma de impedirmos consequências graves de raízes
externas é fazermos o nosso trabalho de casa, procurando frutos duradouros e
não fogachos efémeros.
[Publicado no jornal online ECO]
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