Geert Wilders, o líder
da extrema-direita holandesa ficou em segundo lugar nas eleições, mas a sua
ideologia venceu
Em 1972, com a publicação do relatório Limites do Crescimento, pelo Clube de Roma, o movimento ecologista
teve um impulso significativo, mas inicialmente sem grande impacto político.
Partidos muito focados neste tema foram surgindo pela Europa mas, passado algum
tempo, o seu sucesso significou a sua morte, já que o facto de terem feito com
que a sua mensagem tivesse passado a ser consensual esvaziou a sua
especificidade.
Nas eleições legislativas holandesas da passada semana
tivemos um cheirinho deste efeito, em que o partido da extrema-direita consegui
ter um forte impacto na atitude anti-imigração do primeiro ministro, sobretudo
na recta final da campanha, e ajudada pela provocação da Turquia.
O partido de Geert Wilders liderou as sondagens quase o
tempo todo desde finais de 2015, mas perdeu peso já em 2017, passando a ser o
segundo partido mais votado, ganhando cinco lugares, enquanto o partido
vencedor perdeu oito mandatos. Julgo que se poderá dizer que Wilders não
ganhou, mas a sua ideologia sim, já que contagiou o candidato vencedor.
Para Portugal, a parte mais importante da ideologia da
extrema-direita holandesa era a sua posição sobre o euro, de que querem sair.
Os mercados financeiros quase não reagiram aos resultados eleitorais, o que
parece significar duas coisas: 1) Wilders, com apenas 13% dos deputados
eleitos, não deverá ter grande influência nas políticas económicas; 2) em
termos do euro, o seu risco de contágio a outros partidos holandeses parece
diminuto. Ou seja, parece que a parte ideológica mais atraente da
extrema-direita é o seu discurso sobre os imigrantes e não tanto sobre o euro.
Estes resultados terão também tranquilizado um pouco os
mercados em relação ao próximo sobressalto que se avizinha, potencialmente mais
perigoso: as eleições presidenciais francesas.
A sua primeira ronda terá lugar a 27 de Abril e Marine Le
Pen lidera as sondagens há alguns meses, embora a sua vantagem sobre Macron se
esteja a estreitar ao ponto de estarem já quase em empate técnico. Na segunda
volta já não há qualquer ambiguidade, sendo a vitória do socialista esperada
com uma folga significativa.
Aqui de novo se coloca a questão do contágio dos partidos do
centro em relação à ideologia dos que os tentam vencer. Em relação à imigração,
o Presidente socialista Hollande já tinha mostrado algum contágio, mesmo antes
dos vários atentados de que a França foi vítima.
Em relação ao euro, de longe a questão mais grave e aquela
que maiores implicações teria para o nosso país e também para o futuro da
própria UE, parece que não há praticamente uma contaminação semelhante à
verificada sobre a questão da imigração. Esperemos que isto assim continue, mas
convém acompanhar esta questão de perto.
[Publicado no jornal online ECO]
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