Um governo que está a
levar o país até à beira do abismo sobe nas sondagens por falta de comparência
da oposição, em especial do PSD.
Como o FMI ainda recentemente sublinhou, a queda do
investimento e a desaceleração da economia são da responsabilidade do actual
executivo, que parece empenhado em fazer tudo para que Portugal venha a
necessitar de um novo resgate. Mesmo assim, as sondagens são muito favoráveis
ao PS e penalizadoras da oposição.
A explicação mais superficial, mas verdadeira, é a diferença
de habilidade política dos respectivos protagonistas, cujo caso paradigmático
foi Passos Coelho ter aceite apresentar um livro de mexericos sobre políticos,
que não tinha lido. Como era completamente previsível, o caso levantou imensa
celeuma, até porque o próprio autor reconheceu que havia casos que roçavam a
violação da privacidade. Pois o líder do PSD conseguiu manter a sua posição e
inclusive teve a ingenuidade de pedir que não houvesse aproveitamentos
políticos da situação, como se tivesse entrado para a política na semana
anterior. Só passado demasiado tempo é que desistiu de apresentar o livro. O
autor deste reconheceu que isso era o mais sensato, embora não tenha conseguido
deduzir que isso implicava que também teria sido mais sensato não o ter
escrito.
Este caso seria irrelevante se não fosse revelador de várias
coisas: falta de intuição política, uma teimosia que destrói a pouca intuição
que terá, estar muito mal aconselhado ou não ouvir os seus conselheiros. Se
isto é mau no caso referido, pode ser péssimo nas matérias que um primeiro
ministro tem que decidir e recorda-mo-nos de vários casos do passado.
Além disso, o PSD tem estado muito ausente do debate
público, mesmo quando o governo toma medidas que são não só absurdas, como vêm
destruir aquilo que a direita tinha feito no governo, uma razão acrescida para
defender a sua dama. Continuo a não perceber porque é que não formam um governo
sombra, para haver uma responsabilidade concreta sobre cada matéria e não uma
responsabilidade difusa que, ainda por cima, o líder deveria gerir, mas não o
faz. Pode não haver um responsável fixo por assunto, mas deve haver sempre um
responsável para cada matéria.
O PSD precisa de se preparar para ser governo e não estar à
espera que o actual caia de podre, até porque é muito provável que António
Costa deixe o país em muito maus lençóis e que o próximo executivo tenha uma
tarefa muito complicada em mãos.
Também gostaríamos que os últimos 16 anos de estagnação chegassem
ao fim, mas o PSD não demostrou ainda estar consciente desta realidade e da
necessidade de ser muito mais ambicioso para a resolver. Este partido precisa –
com urgência – de fazer um grande trabalho de casa para quando voltar ao
governo e não estar na oposição a dormir ou, quando muito, a “mandar bocas”.
Em relação a ambição política, também tem que acordar para
as autárquicas, onde parece que já se instalou a aceitação de uma derrota anunciada.
Muito pelo contrário, há muitas razões para vitórias, sobretudo em Lisboa, onde
o actual presidente da câmara, um socialista de segunda linha, não eleito, tem
feito um trabalho desastroso no trânsito, sem qualquer base técnica nem
legitimidade política, porque esta transformação da cidade nunca foi a votos.
Aliás, o recuo nas obras da 2ª circular parece indicar que já percebeu que tem
que recuar, que as coisas não estão a correr bem.
A direita precisar de se coligar em Lisboa, porque o
presidente da câmara é sempre o do grupo que tiver mais votos. Se, nas actuais
condições não o conseguir, bem pode arrumar as botas.
[Publicado no jornal “i”]
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