sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

2016

Espera-se um ano turbulento, quer em termos políticos, quer económicos, quer na perspectiva internacional, quer nacional

As nuvens sobre 2016 têm-se vindo a adensar nas últimas semanas. Em termos de política internacional, a novidade foram as eleições espanholas, que quebraram a tradição das últimas décadas, em que havia sempre um resultado conclusivo, que permitia a formação de governos muito estáveis, ao contrário, diga-se de passagem, do caso português. Não é ainda claro que se consiga criar uma coligação de governo, provavelmente de esquerda, e menos ainda incerto que a solução que venha a ser encontrada seja estável.

A criação sucessiva de executivos de esquerda na Europa do Sul (França, Itália, Grécia, Portugal e Espanha), com orientação anti-austeridade, deverá criar confrontos com o Norte da Europa. Na melhor das hipóteses, isso permitiria ajudar a criar novas soluções para a zona do euro, que permitissem conferir maior estabilidade a uma área monetária muito longe de ser óptima.

Parece-me que seria extremamente útil que a estabilidade macroeconómica do conjunto dos países do euro passasse a ser encarada com muito mais prioritária, com maior empenho na redução do desemprego e dos desequilíbrios externos.

Em particular, julgo da maior importância que os países do Sul exercessem pressão para que os países do Norte reduzissem os seus excedentes externos, particularmente gritantes no caso da Alemanha (7% do PIB em 2015 e o maior do mundo, em termos absolutos). Se tal pressão surtisse efeito, isso poderia beneficiar os países do Sul, duplamente. Por um lado, pelo estímulo da procura interna de toda a zona do euro e, por outro, pela consequente tendência de depreciação do euro, que melhoraria a competitividade das nossas economias, contribuindo também para um maior crescimento económico e melhoria das contas públicas, aliviando naturalmente a necessidade de mais austeridade.

Infelizmente, parece-me que iremos assistir à pior das hipóteses: os governos socialistas deverão insistir no maior egoísmo e na fuga às responsabilidades. Por um lado, em vez de contribuírem para a criação de uma solução colectiva, deverão fixar-se unicamente nos interesses nacionais. Por outro, em vez de se concentrarem nos problemas económicos domésticos estruturais, deverão continuar a esperar a ajuda externa e o financiamento externo, quase sem perguntas, acreditando mais no Pai Natal do que uma criança de sete anos.

Em termos económicos internacionais, o FMI voltou a avisar sobre a deterioração das perspectivas e temo que a procissão ainda nem tenha saído da igreja.

Em termos políticos nacionais, já se percebeu a fragilidade da coligação que suporta o executivo minoritário do PS na votação do orçamento rectificativo de 2015. O PSD ajudou a superar o problema, mas é menos claro que se preste a um papel idêntico no caso do orçamento para 2016. Mesmo que este seja aprovado, muito pouco tempo depois começará o Semestre Europeu, uma espécie de visto prévio sobre as contas públicas, abrangendo já as linhas mestras da proposta orçamental para 2017. Ou seja, não haverá tréguas em relação às contas públicas, o que deverá colocar em permanente desgaste a instável base de apoio do executivo minoritário.

Em termos económicos nacionais, a conjuntura externa em deterioração, conjugada com as decisões do governo, nomeadamente a reversão da privatização da TAP bem como uma subida do salário mínimo sem acordo na Concertação Social, uma situação provavelmente inédita, deverão arrefecer a economia e aumentar o desemprego.

A isto tudo deveremos acrescentar as surpresas completamente inesperadas que sempre ocorrem, para concluirmos que temos um ano cheio de desafios pela frente.


[Publicado no jornal “i”]

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