Espera-se um ano
turbulento, quer em termos políticos, quer económicos, quer na perspectiva
internacional, quer nacional
As nuvens sobre 2016 têm-se vindo a adensar nas últimas
semanas. Em termos de política internacional, a novidade foram as eleições
espanholas, que quebraram a tradição das últimas décadas, em que havia sempre
um resultado conclusivo, que permitia a formação de governos muito estáveis, ao
contrário, diga-se de passagem, do caso português. Não é ainda claro que se
consiga criar uma coligação de governo, provavelmente de esquerda, e menos
ainda incerto que a solução que venha a ser encontrada seja estável.
A criação sucessiva de executivos de esquerda na Europa do
Sul (França, Itália, Grécia, Portugal e Espanha), com orientação
anti-austeridade, deverá criar confrontos com o Norte da Europa. Na melhor das
hipóteses, isso permitiria ajudar a criar novas soluções para a zona do euro,
que permitissem conferir maior estabilidade a uma área monetária muito longe de
ser óptima.
Parece-me que seria extremamente útil que a estabilidade
macroeconómica do conjunto dos países do euro passasse a ser encarada com muito
mais prioritária, com maior empenho na redução do desemprego e dos
desequilíbrios externos.
Em particular, julgo da maior importância que os países do
Sul exercessem pressão para que os países do Norte reduzissem os seus
excedentes externos, particularmente gritantes no caso da Alemanha (7% do PIB
em 2015 e o maior do mundo, em termos absolutos). Se tal pressão surtisse
efeito, isso poderia beneficiar os países do Sul, duplamente. Por um lado, pelo
estímulo da procura interna de toda a zona do euro e, por outro, pela
consequente tendência de depreciação do euro, que melhoraria a competitividade
das nossas economias, contribuindo também para um maior crescimento económico e
melhoria das contas públicas, aliviando naturalmente a necessidade de mais
austeridade.
Infelizmente, parece-me que iremos assistir à pior das
hipóteses: os governos socialistas deverão insistir no maior egoísmo e na fuga
às responsabilidades. Por um lado, em vez de contribuírem para a criação de uma
solução colectiva, deverão fixar-se unicamente nos interesses nacionais. Por
outro, em vez de se concentrarem nos problemas económicos domésticos
estruturais, deverão continuar a esperar a ajuda externa e o financiamento externo,
quase sem perguntas, acreditando mais no Pai Natal do que uma criança de sete
anos.
Em termos económicos internacionais, o FMI voltou a avisar
sobre a deterioração das perspectivas e temo que a procissão ainda nem tenha
saído da igreja.
Em termos políticos nacionais, já se percebeu a fragilidade
da coligação que suporta o executivo minoritário do PS na votação do orçamento
rectificativo de 2015. O PSD ajudou a superar o problema, mas é menos claro que
se preste a um papel idêntico no caso do orçamento para 2016. Mesmo que este
seja aprovado, muito pouco tempo depois começará o Semestre Europeu, uma
espécie de visto prévio sobre as contas públicas, abrangendo já as linhas
mestras da proposta orçamental para 2017. Ou seja, não haverá tréguas em relação
às contas públicas, o que deverá colocar em permanente desgaste a instável base
de apoio do executivo minoritário.
Em termos económicos nacionais, a conjuntura externa em
deterioração, conjugada com as decisões do governo, nomeadamente a reversão da
privatização da TAP bem como uma subida do salário mínimo sem acordo na
Concertação Social, uma situação provavelmente inédita, deverão arrefecer a
economia e aumentar o desemprego.
A isto tudo deveremos acrescentar as surpresas completamente
inesperadas que sempre ocorrem, para concluirmos que temos um ano cheio de
desafios pela frente.
[Publicado no jornal “i”]
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