As minhas orações estão com as vítimas dos atentados de
Paris, em primeiro lugar as centenas de mortos e feridos graves, bem como as
suas famílias, e em segundo lugar os milhões de vítimas, em Paris, em França,
na Europa e no mundo, que ficaram traumatizados com estes eventos e que
perderam a sua tranquilidade.
Em 2001, trabalhava num elevado edifício de escritórios
espelhado, em Lisboa, e lembro-me bem que, depois do 11 de Setembro, era com
enorme apreensão que via qualquer avião aproximar-se das nossas torres.
Neste momento, julgo que é essencial recordar as palavras da
francesa Simone Veil, primeira presidente do Parlamento Europeu, que esteve
presa em Auschwitz pelo “crime” de ser judia, de que (cito de cor) não devemos
permitir que o carrasco nos faça parecido com ele.
Assim, a França e a Europa devem recordar-se de quem são e
que valores defendem e não ceder à tentação de uma resposta a quente, que
produza um “terrorismo de Estado”.
É desde já de saudar que os políticos franceses em campanha
eleitoral para as eleições regionais suspenderam a sua actividade, mesmo
aqueles que poderiam lucrar politicamente com os atentados.
Não há respostas fáceis ao que se passou, mas é preciso
recordar que as intervenções do Ocidente no Médio Oriente se têm pautado por
uma extraordinária miopia, pior do que o mais medíocre jogador de xadrez,
sempre incapaz de antecipar qual a jogada seguinte do adversário.
Parece-me que uma mera intervenção militar punitiva será um erro,
até porque o Estado Islâmico afirmou que estes atentados foram resposta aos
ataques aéreos franceses. Uma intervenção com maior sucesso teria que ser muito
mais alargada, em termos diplomáticos e evolvendo os sectores islâmicos
moderados, que parecem os únicos capazes de vencer o debate ideológico no
terreno. Pelo contrário, a intervenção externa só deverá servir para promover o
extremismo.
Dentro da Europa, é evidente a necessidade de reforçar os
controlos fronteiriços exteriores de Schengen, com apoio da UE, não confundindo
isso com limites à liberdade de circulação. Há muita gente esquecida, mas a
existência de simples controlos de fronteira é a regra em todo o mundo e foi-o
na Europa até há não muito tempo. Onde havia proibição de circulação era nos
países comunistas, em que as pessoas eram proibidas de viajar para ocidente.
Mesmo assim, é possível que a liberdade sofra, numa primeira
fase, alguns limites, para que o sentimento de segurança possa ser
restabelecido, esperando-se que um novo equilíbrio possa ser reposto quanto
antes.
As autoridades francesas já decretaram, para além de um
excepcional luto nacional de três dias, um minuto de silêncio na segunda-feira,
ao meio-dia, que sugiro a todos os que o entenderem a juntar-se a esta
manifestação de luto e respeito.
[Publicado no jornal “i”]
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