António Costa tornou
mais provável que em 2016 o orçamento seja em duodécimos, o que é o pior para o
PS
António Costa veio agravar o ambiente de incerteza que
rodeia as perspectivas pós-eleitorais, ao assegurar que, se a coligação
ganhasse, o PS chumbaria a sua proposta de orçamento, fosse ela qual fosse.
Esta declaração, para além de revelar o seu – justificado – medo de perder as
eleições, revela uma irresponsabilidade e um desprezo pelos interesses do país,
completamente subalternizados a uma (má) táctica eleitoralista. Para além
disso, corresponde a dinamitar pontes com o PSD e CDS, num cenário em que se
prevê que elas sejam mais necessárias, porque o resultado mais provável de
todos, e o líder do PS está perfeitamente ciente disso, é que nenhum dos
partidos consiga uma maioria absoluta.
De acordo com o artigo 172º da Constituição, a “Assembleia
da República não pode ser dissolvida nos seis meses posteriores à sua eleição,
no último semestre do mandato do Presidente da República”, o que corresponde a
4 de Abril, sendo que o próximo Presidente da República deverá iniciar o seu
mandato a 9 de Março, como vem sendo hábito. Com os nosso prazos absurdos, é
improvável que novas eleições consigam ter lugar antes de Junho e também não é
certo que produzam um resultado mais estável.
A rapidez com que a Grécia tem conseguido marcar eleições é
algo que nos devia envergonhar e uma das primeiras coisas que é urgente fazer é
alterar estes prazos, sobretudo porque os tempos que se avizinham devem ser
muito difíceis e é absurdo que tudo fique em condições muito mais graves por
causa de prazos dilatadíssimos que nunca fizeram qualquer sentido. Um país
ingovernável durante nove meses no meio da crise do euro e de uma eventual
crise internacional é um autêntico filme de terror.
O mais provável é que o orçamento de 2016 não seja aprovado
e que vivamos em regime de duodécimos durante grande parte do próximo ano. A
primeira coisa que é preciso ter em conta é que a incerteza política e as recusas
em aprovar um orçamento deverão arrefecer a economia e subir as taxas de juro,
ambas com efeito negativo sobre o défice. A isto acresce o facto de ser
altamente improvável que a meta orçamental de 2015 seja cumprida, o que coloca
uma pressão maior sobre a contenção que será necessário no próximo ano.
Em termos de autorização de endividamento, o regime de
duodécimos não deverá ser um problema, porque é suposto que as necessidades de
financiamento diminuam à medida que o défice se reduz.
Em relação aos impostos, a inexistência de um novo orçamento
significa que não será possível aumentar as taxas de imposto nem criar novos
impostos, pelo que quem queira equilibrar as contas públicas por essa via, como
é o caso do PS, tem a vida muito mais dificultada. Teoricamente, poderia haver
aumentos de impostos autónomos do orçamento, mas se a AR não aprova um
orçamento, porque é que aprovaria um aumento da carga fiscal?
Em relação à despesa, o orçamento cria autorizações de
despesa, não cria obrigações de despesa. Significa isto que, mesmo com
duodécimos, será possível, embora difícil, cumprir a meta de redução do défice
público, cortando na despesa. No entanto, será mais difícil alterar a estrutura
da despesa, um objectivo mais importante para o PS do que para a coligação,
porque foi esta que definiu a actual estrutura.
Daqui decorre que viver em duodécimos não tem que ser
terrível, embora se estime que seja sempre mais difícil para o PS fazê-lo do
que para a coligação.
O que se me afigura pior para estes nove meses de agonia que
nos esperam é a incerteza que se deverá instalar, a provável incapacidade em
lidar com os desafios externos que devem ser significativos, a suspensão de
qualquer tipo de reforma estrutural tão essencial para sairmos desta década e
meia de estagnação económica, o recuo na recuperação conjuntural e de
credibilidade junto dos mercados financeiros, que tanto nos custou. O pior
mesmo de tudo, é que grande parte deste desastre poderia ser evitado ou, pelo
menos, fortemente encurtado, se os partidos já tivessem reformado os absurdos
prazos actualmente em vigor.
[Publicado no jornal “i”]
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